Foto: Clemilson Campos/JC Imagem Por Débora Duque, do Jornal do Commercio Frases curtas e de efeito.

Sorriso largo.

Acessível.

Perfil conciliador.

Trejeitos de um político nato fazem parte da descrição do procurador-geral do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), Aguinaldo Fenelon.

Aos 56 anos, ele foi reconduzido ao cargo mais alto do órgão com a maior votação na eleição interna.

Na disputa que aconteceu em janeiro deste ano para compor a lista tríplice, obteve 80% dos votos e foi agraciado, pela segunda vez, com a indicação do governador Eduardo Campos (PSB), seu ex-correligionário.

A quase unanimidade interna, porém, não tem se refletido do lado de fora.

Pelo menos na semana que passou.

Belize Câmara é afastada da Promotoria de Defesa do Meio Ambiente do Recife A polêmica se abriu quando Fenelon afastou a promotora Belize Câmara da Promotoria de Meio Ambiente do Recife.

Ao ter conquistado vitórias judiciais barrando a construção de um complexo imobiliário no abandonado Cais José Estelita, ela se transformou num símbolo do movimento contrário ao projeto, chamado de “Novo Recife”.

A atitude do procurador rendeu um protesto, realizado na quarta-feira, em frente a sede do MPPE na rua do Imperador.

Para rebater as acusações de perseguição à promotora, Fenelon utiliza como um dos argumentos as matérias que ele “autorizou” serem publicadas no Diário Oficial dando divulgação às ações e aos resultados obtidos por Belize. “Ela foi manchete várias vezes no Diario Oficial porque eu coloquei!”, sustenta.

Durante a semana, os pretextos para a mobilização contra o procurador receberam um reforço com a publicação no Diário Oficial de um ato autorizando o pagamento do auxílio-alimentação retroativo a promotores e procuradores do MPPE, que terão direito a embolsar R$ 65 mil relativos ao período de 2007 a 2011.

A despeito da reação negativa da opinião pública em relação aos dois fatos, Fenelon enfrenta pouca resistência dentro do MPPE.

Seus opositores atribuem a ampla aceitação ao seu jeito “manso”, “prestativo”, que sempre busca agradar a “grego e troianos”, com uma atenção especial a seus aliados mais próximos. É daqueles que ao atender o pleito de um colega, faz questão de ligar para registrar seu feito.

Gosta do reconhecimento.

Mas também é a essas características que se imputa um possível decréscimo da atuação combativa do MPPE, o que Fenelon contesta (leia entrevista na página seguinte).

A título de comparação, membros do órgão ouvidos pelo JC sempre recordam do tempo em que a procuradoria-geral foi ocupada por Francisco Sales (2002-2006), que ganhou notoriedade ao liderar o combate ao nepotismo no Executivo, Judiciário e Legislativo.

Fenelon, como ele mesmo se define, é adepto de uma postura mais conciliadora o que, para alguns, contraria, em determinados momentos, a essência do Ministério Público.

Ainda como promotor, em 2010, ele concedeu, por exemplo, a integrantes das torcidas organizadas dos clubes um certificado por “bom comportamento”.

Já como procurador, assistiu de fora à briga que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional Pernambuco, travou com a Assembleia Legislativa para tentar derrubar o auxílio-paletó e o auxílio-moradia dos deputados.

Coube à OAB ingressar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) e assumir o embate público. “Nós demos um parecer favorável a ação, mas foi a OAB quem entrou”, reconhece ele.

Sua predileção pela diplomacia foi herdada do meio político, onde ainda circula. É bastante próximo do presidente da Assembleia, Guilherme Uchôa (PDT), e do deputado estadual Marcantônio Dourado (PTB).

Nas eleições para a mesa diretora, costuma ajudar nas articulações, ainda que nos bastidores.

Seu irmão Henrique Fenelon (PCdoB) foi prefeito de Goiana duas vezes e é alvo de investigações no Tribunal de Contas do Estado e no próprio MPPE.

PAULISTA - Promotor desde 1992, Aguinaldo Fenelon dedicou boa parte de sua atuação à área de família.

Sem nunca ter escondido sua inclinação para a política, licenciou-se, por duas vezes, para disputar um mandato eletivo.

A primeira em 1998, quando concorreu a uma vaga de deputado federal pelo PSDB e foi derrotado.

Deixou novamente a promotoria em 2000, quando foi eleito vice-prefeito de Paulista na chapa encabeçada por Antônio Speck (PMDB).

Na época, Fenelon havia saído do PV para ingressar no PSB, partido do governador Eduardo Campos, a convite de um amigo, chamado Emanuel de Souza.

Diz que não chegou a conhecer o ex-governador Miguel Arraes, maior liderança da sigla na época, mas que o considera um “grande homem”.

Os louros da campanha vitoriosa em Paulista, porém, não duraram muito.

Fenelon rompeu com Speck no primeiro ano de gestão.

Na época, alegou ter percebido “indícios de corrupção” que tirariam o prefeito do cargo dois anos depois.

Em dezembro de 2003, Speck foi afastado por decisão do juiz da Vara da Fazenda do município que acatou a denúncia de “improbidade administrativa” feita pelo MPPE.

Fenelon assumiu a prefeitura por um curto período de cinco dias.

A briga política com antecessor rendeu episódios inusitados.

O então prefeito convocou a imprensa para denunciar a existência de uma “passagem secreta” dentro do gabinete dele na prefeitura.

O túnel fazia a ligação com a rua que passava por trás da sede da administração municipal e, segundo Fenelon, havia sido construído por Speck. “Para mim, isso é a prova de que o ex-prefeito não estava bem intencionado.

Um prefeito tem que entrar e sair pela porta da prefeitura”, declarou na época.

Três dias depois, porém, Speck retornou ao posto após conseguir uma liminar favorável na Justiça.

Na queda de braço entre os dois ex-aliados foi o advogado Antônio Campos, irmão do governador Eduardo Campos, quem atuou na defesa de Fenelon.

Enquanto esteve no comando de Paulista, o então gestor ainda conseguiu indicar um novo time de secretários, que contou com o atual prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), ainda no anonimato político.

Geraldo aceitou o convite para a pasta de Finanças a qual mal teve tempo de gerir. “Geraldo é um excelente nome.

Quero uma pessoa que assuma para moralizar o setor”, elogiou Fenelon, em 2003.

A ligação política com o socialista foi relembrada durante a campanha municipal do ano passado, quando o procurador do MPPE ressuscitou uma denúncia contra o deputado estadual Daniel Coelho (PSDB), também candidato a prefeito, no caso das “notas frias”.

Quando questionado sobre a relação pretérita com o partido do governador e as possíveis implicações em sua atuação à frente do MPPE, Fenelon rebate: “Fui do PSB com muita honra e não há problema nenhum nisso.

Agora ninguém lembra que já fui também adversário dele, em 98, quando concorri a deputado federal contra ele pelo PSDB, na chapa de Carlos Wílson contra Arraes, não é?”.