O desembargador do TJPE Roberto da Silva Maia acaba de conceder liminar à Cia de Eventos dando-lhe o direito de recuperar a reserva do pavilhão do Centro de Convenções no período de 4 a 13 de outubro para a realização da Bienal do Livro de Pernambuco.

O Cecon havia alegado que a Cia de Eventos não tinha mais direito à reserva, transferindo a data para a concorrente Andelivros.

A empresa também anunciou fazer a Bienal no mesmo período.

De acordo com a decisão, o Cecon “tem o dever de guardar fidelidade à palavra dada”, sem “fraudar ou abusar da confiança do outrem”.

Pela decisão, agora a Cia de Eventos tem quinze dias para pagar o valor de R$ 109 mil, correspondente a 20% da reserva do espaço.

Entenda a briga judicial A 9ª Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, marcada para acontecer de 4 a 13 de outubro no pavilhão do Centro de Convenções, deve movimentar mais de R$ 30 milhões – R$ 12 milhões em bônus do governo estadual e das prefeituras para professores fazerem aquisições e R$ 3,5 milhões em patrocínio e comercialização da feira.

O embate começou a se desenhar há dois anos, na edição anterior do evento, quando a Associação do Nordeste dos Editores e Distribuidores de Livros (Andelivros) entrou com uma ação contra a produtora Cia. de Eventos, tendo como mote a cobrança de ingressos (R$ 4, inteira, e R$ 2, estudantes da rede privada e idosos), que é cobrado, por exemplo, nas Bienais do Rio de São Paulo.

A entidade dos livreiros, favoráveis à entrada gratuita, apresenta o projeto para a edição deste ano e pretendia discutir com o público.

Ao saber do anúncio, o produtor Rogério Robalinho, que assumiu a coordenação das últimas quatro bienais, marcou um encontro com a imprensa para as 10h30, num outro restaurante, para dizer que continua trabalhando na realização do evento A Andelivros, que tem 30 associados e representa mais de 100 editoras do País, já tem o tema da sua bienal: De Gutemberg à era digital, que guia a feira pela recorrente discussão sobre a união da literatura com a tecnologia.

A Cia. de Eventos, por sua vez, havia definido o tema desde o fim do ano passado: Literatura, futebol & identidades nacionais, numa articulação com a Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo – Secopa.

Uma coisa é certa: só haverá uma Bienal do Livro este ano em Pernambuco.

A gota d’água para Andelivros – a cobrança de ingressos ao público – chegou à estância judicial na última edição.

Um pedido de tutela feito pela entidade foi deferido por um juiz da 26ª Vara Cível do Recife, suspendendo a cobrança para entrada na feira, às vésperas do evento.

Rogério Robalinho recorreu, derrubou a liminar e o ingresso foi cobrado.

Nas cinco edições realizadas pela Cia de Eventos, os acordos com a Andelivros foram fechados de última hora, segundo o produtor. “Desde o início, a Cia. de Eventos assumiu todo o risco e a construção do empreendimento.

Depois que a feira se tornou sucesso, levando 610 mil pessoas na última edição, a Andelivros quis cobrar participação pelos resultados na captação de patrocínio, na comercialização e na bilheteria, numa forma de capitalismo sem risco.

Eles queriam colocar no material de divulgação que era uma realização da Andelivros, mas não participavam da articulação e da organização”, acusa o produtor. “Por outro lado, todo o dinheiro dos bônus e das vendas é todo para eles.

Não temos direito nem reivindicamos”, acusa, revelando talvez os reais motivos do rompimento.

José Alventino não polemizou.

Em 2001, a Andelivros, por uma questão formal, contratou os serviços da Cia. de Eventos para fazer a produção executiva da bienal.

O contrato valia apenas para aquela edição e não foi renovado. “Estamos contratando uma nova firma conceituada.

A associação sabe fazer eventos, já fez em Garanhuns e participou da Fliporto”, diz o presidente da Andelivros.

O livreiro adianta alguns detalhes da “nova” Bienal do Livro de Pernambuco, com relação à estrutura e aos convidados da feira de 2013. “Vamos conseguir o apoio da maioria dos municípios do Estado e pretendemos também criar um linha especial de ônibus, como há na Bienal de São Paulo e do Rio”, enumera. “Sobre convidados, é provável que venham participar da feira o padre Marcelo Rossi e a jornalista Sônia Bridi.” A programação da Bienal da Andelivros vai ter curadoria do jornalista e escritor Marcos Polo.

Durante o evento, vão acontecer lançamentos de livros, debates e palestras.

A Bienal da Cia. de Eventos, por sua vez, está avançada nas suas articulações com o governo do Estado. “Por uma questão de lealdade, levei o conflito ao governador Eduardo Campos.

Estamos negociando a inclusão do Todos com a Nota e do Governo Presente no evento, fechando contratos com os patrocinadores via Lei Rouanet e temos 50% da comercialização realizada.

Trabalhamos para ter uma maior variedade possível de editoras e não apenas os distribuidores de livros.”, diz Robalinho.

A curadoria literária está sendo feita pelo escritor e professor Wellington Melo, com consultoria de Homero Fonseca. “A Andelivros sempre diz que a gente não vai fazer a Bienal do Livro.

Nós dizemos que vamos e com ainda mais brilho”, provocou Robalinho.

Com informações de Marcelo Pereira e Mateus Araujo