Por Pedro Laurentino Reis Pereira “O episódio da vinda da blogueira cubana Yoani Sánchez ao Brasil teve o dom de exacerbar paixões político-ideológicas, com repercussões bem maiores que a ativista provoca em seu próprio país.
Menos mal para a educação política do povo.
O contraditório é sempre educativo.
O episódio só não pode servir para deturpar, falsear, mentir sobre a história contemporânea do Brasil.
Há exato um quarto de século - maio de 1978 - o então estudante e membro da Comissão de Justiça de Paz Edival Nunes da Silva Cajá protagonizou com bravura a luta que desmoralizou os porões da ditadura militar no Brasil, pondo fim à prática odiosa da tortura a presos políticos (que ainda permanece contra presos comuns).
Preso e torturado, a firmeza de Cajá - que negou-se a entregar uma informação sequer aos seus algozes - estimulou a reação em cadeia da sociedade, que exigia a sua libertação e o fim das torturas a que estava submetido.
Os estudantes - do qual tive a honra de ser um dos líderes à época como presidente (cassado) do DCE da Universidade Rural de Pernambuco, a igreja - capitaneada pelo bravo D.
Helder Câmara - e posteriormente o MDB - que colocou a denúncia no centro da sua campanha eleitoral - deram uma demonstração de unidade e firmeza que findou por desmoralizar a máquina de moer ossos e almas montada pelo fascismo no Brasil.
Desconheço quaisquer mal entendidos ou informação falsa que tenham inibido ou constrangido o então arcebispo de Olinda e Recife durante todo o processo.
Se assim não fosse, porque D.
Helder aceitaria celebrar ele mesmo o casamento de Cajá, meses depois da sua libertação?
Se D.
Helder guardou mágoa, foi dos fascistas que o perseguiam e caluniavam, como perseguiam e caluniavam a todos os seus colaboradores.
A ditadura se foi, mas pelo visto a triste prática da calúnia continua.
Transformar os nossos heróis em vilões é uma antiga tática que os fascistas tentam impingir aos comunistas e à esquerda, de uma forma geral.
Cajá foi herói, D.
Helder foi herói, os estudantes foram heróicos, o MDB foi heróico e a única vilã da história é a ditadura militar fascista e os que dela têm saudade.
Defendi e continuo defendendo a liberdade de imprensa, inclusive para divulgar mentiras.
Desde que a verdade também tenha o mesmo espaço na mídia, como tem no coração e nas mentes do nosso povo.” Ex - vereador do Recife no período da redemocratização do Brasil (1983/1988) Diretor do Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal no Piauí.