Andrea Rego Barros/Divulgação Por Michel Zaidan Existe quase um consenso de que o Brasil não é o melhor exemplo de uma sociedade disciplinarizada, nem o brasileiro um individuo disciplinar.

Basta ver o que acontece quando não funcionam os sinais de trânsito ou a competição de todos contra todos nos terminais rodoviários, quando chega o ônibus.

No entanto, na nova Prefeitura do estado de alegria, a Prefeitura do Recife, resolveu fazer uma inovação societária, contrariando todas as teorias sobre o país: solicitar que cada cidadão fotografe, filme, grave ou reproduza irregularidades, falhas, problemas da cidade e envie - on line - para a administração municipal para que as devidas medidas sejam tomadas.

Estamos aí, naturalmente, diante de mais uma tentativa de fazer o cidadão “vestir a camisa” não de sua cidade, mas da própria (nova) gestão do munícipio.

A medida deve ter partido do núcleo publicitário do Big (mega) Brother estadual, com certeza.

Ao invés de arregaçar as mangas e trabalhar, o prefeito continua no palanque virtual da propaganda.

Ora, não se estimula o nascimento de cultura cívica ou virtude cívica com mera propaganda televisiva. É preciso ações concretas em prol da melhoria da qualidade de vida da cidade, que aliás está necessitando de muito cuidado.

Se o (novo) prefeito descesse do palanque por algumas horas, poderia enxergar melhor as imensas carências da cidade do Recife.

Em primeiro lugar, um basta a essa especulação imobiliária que tomou conta do município, reduzindo cada vez mais os espaços de convivencialidade e de lazer gratuito dos cidadãos e cidadãs.

Cuidaria melhor das praças, logradouros públicos, quadras, centros esportivos e áreas de lazer para a população, não só as segregadas para os turistas (polos gastronomicos, shoppings etc.) Também passaria a se preocupar mais com o esgotamento sanitário e as ruas do Recife, que está se tornando uma cidade para carros e motoristas mal-educados.

Melhoria o transporte público, nos ítens: qualidade, rapidez e preços módicos.

Cuidaria mais da educação, respeitando os professores e os acordos firmados com eles e dotando a educação de um caráter multicultural.

Faria uma reforma no setor de saúde, reforçando o SUS (e não entregando aos amigos do BIG-governandor), melhorando a atenção primária e articulando esta com os hospitais e outros centros de atendimento à saúde.

Mas para fazer essa inversão de prioridades e investir no chamado “espaço público”, o gestor tem de deixar de ser um mero “Showman”, um simples “Salesman” ou um relações públicas bem remunerado.

Precisa se conscientizar que a administração é um sacrifício - às vezes mal entendido pela população e a imprensa - em benefício da coletividade.

Sobretudo dos que mais precisam.

Ser gestor não é um estado de graças ou de alegria, é uma missão que é atribuida a alguém para que redima os malefícios da cidade.

Mas, infelizmente, há gestores que ainda não entenderam bem o seu papel e recitam ou desempenham “scripts” redigido por outros, com outros objetivos. É necessário que a população fiscalize, sim, a administração pública e exija a prestação dos serviços públicos.

Mas isso não significa “vestir” o projeto, as fantasias e embromações da engenharia publicitária do gestor.