Por Roberto Numeriano Durante alguns anos, dei aulas de Ética do Jornalismo na Unicap.

Gostava sempre de provocar (no bom sentido) as turmas, para discutir a ética sob a perspectiva do relativismo, do interesse público etc.

Me lembrei de minhas aulas ao ver hoje a edição do NETV sobre a blogueira Yoaní Sanchez, que está no Brasil fazendo um périplo político-ideológico na defesa do que ela considera o melhor para Cuba. É interessante como a esquerda de carteirinha e a velha direita empedernida se igualam e se nivelam por baixo em torno de Cuba e seus desafios sociais, econômicos e políticos.

Entre essas duas vertentes está o péssimo jornalismo na cobertura de tudo quanto diz respeito a Cuba. É péssimo, no caso brasileiro, por ser de direita, mas também podia ser um péssimo jornalismo de esquerda.

Se, como acredito, não há neutralidade político-ideológica no jornalismo, pelo menos é possível ser isento e ético na cobertura noticiosa.

Pois é isso que, no caso cubano, nunca vemos na mídia das corporações sob os interesses do capital privado.

Essa mídia, em termos político-ideológicos, tem a mesma função e exerce o mesmo controle (no caso de países do liberalismo democrático, indireto) que exerce, guardadas as dimensões, o governo cubano sobre a mídia do país.

A edição deu um enorme espaço (foi quase um libelo anticomunista) às intenções e ações da blogueira, e nenhuma palavra daqueles que foram ao Aeroporto dos Guararapes protestarem.

Ou seja, a Yoaní, que sorriu e disse que era isso que queria em Cuba (liberdade de expressão), deveria ter sido informada que essa liberdade aqui é amordaçada desde o momento em que cerca de 70% da imprensa brasileira está sob controle de meia dúzia de famílias.

Para ser “coerente” com seu discurso para o mundo, ela deveria ter “ensinado” ao repórter da Globo que ele deveria ouvir pelo menos uma das pessoas ali presentes.

Mais do que nunca, é urgente o controle público sobre os meios de comunicação social.

Que tal chamar a Yoaní para fazer essa campanha por nós, pelo mundo afora?

Roberto Numeriano é jornalista e professor.