Por Fernando Castilho, do JC Negócios, especial para o Blog de Jamildo Fernando Lyra era viciado em mídia.
Não era só em jornal impresso ou em rádio, cuja voz potente levantava a entrevista.
Nem em televisão, cuja habilidade de expressar-se em frases curtas e pensamento lógico o faziam um bom entrevistado.
Nem na Internet onde logo que a web virou plataforma, ele soube usar e até se aproveitar para ancorar sua enorme base de informação política.
Lyra era viciado em mídia porque a pautava.
Isso mesmo: Fernando Lyra organizava a conversa, mostrava o cenário global do fato e induzia a matéria nova.
Tinha a capacidade de mostrar isso na conversa embasada com uma tese bem defendida.
Quem já foi ou é repórter de política sabe bem o que isso quer dizer.
E por isso Lyra era figurinha carimbada em todos os colunistas e repórteres da área no Brasil inteiro para assuntar.
Você ligava para ele e com cinco minutos de conversa tinha o horizonte, o quadro geral.
Lyra tinha a capacidade de cheirar o amanhã político.
A diferença é que ele sabia usar isso.
Muita gente desenvolveu pauta de sucesso na editoria de política depois de conversar com Fernando Lyra.
Gente que assina coluna e matéria especial em jornal nacional, e com ele tinha alguma intimidade, sabe o que era Lyra para dizer que o foco era esse ou aquele.
Isso só servia para a imprensa?
Não, serviu para a Democracia que ele, com sua voz e sua capacidade de articulação, ajudou a consolidar.
Tancredo Neves soube melhor do que ninguém reconhecer e usar essa capacidade de Fernando.
Miguel Arraes e Leonel Brizola, idem.
Quando a Ditadura mandava e calava no Brasil, o vozeirão de Fernando Lyra protestava na rua e nos microfones do Congresso.
Mas, acima de tudo, ajudava a costurar a redemocratização nos bastidores.
O vozeirão virava conversa mansa, quase inaudível.
A imprensa deve muito a Fernando Lyra pelas pautas que ele lhe deu.
Pelos cenários e horizontes que traçou e por onde os nossos melhores repórteres foram construir a história da resistência.
Como dizia Antônio Britto, figurinha carimbada na lista de ouvintes de Fernando, “uma conversa com o “ministro” sempre dava um bom lead” porque ele apontava ao repórter o contexto".
Fernando Lyra era um desses personagens que tinha tanta história para contar que quando não nos dava o prazer da presença física numa mesa, o circulo inteiro parava para contar seus “causos”.
E nesse momento, a gente via porque ele sempre era personagem.
Porque, dos brasileiros que viveram a redemocratização, ele certamente foi um dos principais pela capacidade que tinha de aglutinar, de juntar e articular e de…
Resistir.
O Congresso Nacional, é verdade, ajudava, pois naqueles tempos era outro.
Tinha um perfil de muito melhor qualidade do que a “ninguenzada” que está lá hoje.
Tinha um nível que 90% dos que estão lá hoje não teriam, sequer, condições de frequentar o plenário.
Nessa época, Pernambuco tinha mais de 10 dos 70 melhores parlamentares do Congresso com gente como Miguel Arraes, Roberto Freire, Marcos Freire, Cristina Tavares de Melo, Thales Ramalho e Maurilio Ferreira Lima e Egídio Ferreira Lima, só para citar os que me vem à lembrança da esquerda.
Assim como do outro lado, estavam Marco Maciel, Ricardo Fiuza, José Mendonça e Inocêncio Oliveira.
Ou seja, Lyra estava sempre no time dos melhores.
Não entra nessa lista os de fora como Leonel Brizola, de quem Lyra foi vice-candidato à presidente da Republica, Alencar Furtado, Pedro Simon, Paulo Brossard, Mário Covas e vai por ai.
Portanto, Lyra estava no time principal e por isso ele sempre tinha uma nova história para contar a qualquer jornalista.
Isso permitiu que na mídia nacional, Fernando fosse uma das pessoas com maior acesso entre os jornalistas.
Claro, que o observador atento e o crítico cortante também sabiam se beneficiar disso para inflar balões e construir notícia a favor das teses que defendia e personagens em quem apostava.
No passado, Marcos Freyre (já falecido) e Jarbas Vasconcelos.
No presente, Aécio Neves e Eduardo Campos souberam muito bem o que era ter um Fernando Lyra telefonando para um repórter ou colunista e “fazer a cabeça” dele sobre os novos quadros.
Gerava o que chamamos de mídia a favor.
Dentro do Congresso, Lyra era fonte tanto do on como do off.
Empinava candidaturas ou destruía com força às teses da direita quando apresentada no plenário.
Talvez, por isso, a imprensa tenha tanto respeito por esse pauteiro.
Talvez, por isso, nós jornalistas que o chamávamos de “Ministro” nos sintamos tão órfãos.
Talvez, por isso, é que, já agora, a ausência de Fernando Lyra nos dê uma saudade danada…