Acervo do governador Eduardo Campos O lançamento do livro de memórias de Lyra, no Paço Alfândega, no começo de 2009, ficou marcado pela aparição surpresa de José Serra, que disputava com Aécio Neves a indicação para concorrer mais uma vez à presidência e acabou perdendo para Dilma, como se sabe.
Se tivesse lido o livro antes, não viria.
O nome de Fernando Lyra ficou associado nacionalmente ao combate à Ditadura Militar pela ousadia de sugerir o nome de Tancredo Neves para derrubar a ditadura no colégio eleitoral, depois da derrota da campanha das Diretas Já.
De forma marota, sem alarde, já que muitos não se dão ao trabalho de ler livros além das orelhas, antes de morrer, naquele março de 2009, Fernando Lyra lançou os nomes de Eduardo e Aécio para uma campanha presidencial, mantendo a chama do articulador até o última hora.
O neto de Tancredo, Aécio Neves, que não é bobo e entendia o recado, veio prestigiar o livro.
Não por acaso, nesta quinta-feira, quando Lyra morreu em São Paulo, o Instagram do governador Eduardo Campos ‘br’ não disperdiçou a oportunidade de relembrar o lançamento histórico, publicando imagens originais do evento.
O livro “Daquilo que eu sei - Tancredo e a transição democrática” fala das memórias pessoais do autor, revelando bastidores do período histórico das Diretas Já e da derrocada do Regime Militar, além dos bastidores da sua articulação na eleição de Tancredo Neves.
O lançamento do livro permitiu uma leitura subjacente, de estímulo à uma aliança entre Eduardo e Aécio Neves, até hoje cogitada.
Tancredo Neves tinha como neto Aécio Neves, que já chegou a duvidar se teria vez no PSDB para José Serra e vive sendo cantado por outros partidos.
Arraes deixou como herdeiro político justamente Eduardo Campos. “Tenho muita alegria em ver desabrocharem jovens políticos com futuro promissor, como o próprio Eduardo, Aécio Neves”, afirmava Lyra.
Com o livro, Fernando Lyra queria dizer que São Paulo não pensa o Brasil e que Aécio, por ser mineiro e não paulista, seria uma boa opção ao PT. “Porque São Paulo só pensa em São Paulo”, dizia Lyra. “Aécio não é PSDB – diz Lyra.
Aécio é mineiro”.
Na sua avaliação, o quadro político da época de Tancredo Neves não havia mudado, pois a disputa pela sucessão de Lula envolveu o PSDB e o PT, partidos que, a rigor, não existem fora de São Paulo.
Por isso, na disputa da reeleição de Lula, o paulista José Serra evita as prévias que Aécio defende. “Serra não quer se submeter ao escrutínio nacional, justamente por ser paulista”.
Nas suas palavras, todo brasileiro que tem visão deve acreditar que é preciso criar um contrapeso ao poder econômico de São Paulo. “Isso é uma percepção de todo brasileiro”, dizia Lyra.
Para Fernando Lyra, não era só Aécio, nem foi só Tancredo quem teve a percepção de que era preciso afastar São Paulo do controle político - se já tem o controle da economia.
Lyra também contava que Aécio Neves poderia nesse período se tornar mais nacional do que o José Serra.
Serra foi esmagado, Aécio não decolou.
A história está aberta…
Em favor do outro neto.
Fernando Lyra, dos palanques para a História