Acervo pessoal do governador Depoimento do governador Eduardo Campos sobre Lyra Eu conheci Fernando quando eu era uma criança.

Fernando foi um dos primeiros políticos brasileiros que encontrou com meu avô no exílio.

Ele foi portador, muitas vezes, de notícias para a minha família.

Para a parte da minha família que estava aqui, ele levava correspondência, trazia correspondência, protegido pela imunidade parlamentar.

Na primeira campanha política que fiz, que eu me recordo, tinha Fernando como candidato a deputado federal.

Então, a minha relação com ele é de muitos anos.

Mesmo nos períodos em que não havia tanto entendimento dele com meu avô, por circunstâncias políticas, eu sempre preservei com Fernando uma relação pessoal muito intensa, fraterna.

Vivi momentos muito bonitos e muito duros na política junto com ele.

Ele participou desde o início da construção da nossa primeira candidatura ao Governo, com toda a sua experiência e toda a sua capacidade de aglutinar.

Mas, durante todo esse período, ele teve uma participação muito intensa na vida pública brasileira.

Fernando é, na essência, um político.

E fez política com “P” maiúsculo.

E faz tanta falta na cena política brasileira gente que faça como Fernando Lyra fez, pensando no País, pensando de forma generosa no seu povo.

Sempre preocupado em fazer alianças para facilitar as conquistas do conjunto da população.

Era um político bastante instintivo, de uma percepção aguda da hora de fazer.

Ele foi um dos grandes tribunos da política brasileira até o final do século passado.

Minha geração recorda dos seus discursos nas campanhas pelas Diretas Já e nas campanhas de doutor Tancredo Neves.

Sobretudo, ele teve uma passagem muito bonita pelo Ministério da Justiça.

Ele formou um time de grandes colaboradores, que na época eram pessoas nem tão conhecidas.

Joaquim Falcão, Cristovam Buarque, José Paulo Cavalcanti, pessoas hoje brilham em diversas atividades, mas que trabalhavam com ele enquanto ministro da Justiça.

O que ele fez com os artistas brasileiros durante o processo de por fim à censura, como algo que efetivamente constrangia a cena cultural brasileira em plena ditadura.

Ele fez isso com grande capacidade política, em um tempo no qual a democracia ainda estava engatinhando.

Então, Fernando teve uma vida bonita e deixa uma enorme saudade.