Por Terezinha Nunes, especial para o Blog de Jamildo “Deus escreve certo por linhas tortas”.
Este ditado popular, repetido constantemente no Brasil, um país onde a grande maioria da população é cristã, nunca foi escrito na Bíblia nem nos dicionários mas, na lógica do povo, ele significa que Deus costuma agir muitas vezes de forma diversa do que imaginamos mas estará sempre dando uma lição, mostrando um caminho, mesmo quando enxergamos um atalho.
Tal observação vem a propósito do grande e inusitado acontecimento que surpreendeu o mundo em pleno carnaval: o pronunciamento do papa Bento XVI, revelando sua decisão de renunciar ao trono de São Pedro que, conforme ensina a Igreja Católica, chegou às suas mãos por ingerência do Espírito Santo sobre a consciência dos cardeais.
Por mais que o papa tenha dito que estava tomando esta atitude por problemas de natureza física – não se sente mais com saúde suficiente para tocar a condução da Igreja Católica – muitas outras interpretações têm sido dadas sobre o seu gesto à imprensa internacional por cardeais, bispos, padres, teólogos, estudiosos do assunto e até ateus e muitas outras sem dúvida surgirão ao longo da história.
Afinal há 600 anos – o Brasil nem tinha sido descoberto – que um papa não renuncia.
Como deixou claro em seu pronunciamento, Bento XVI deve ter enfrentado muita angústia antes de tomar sua decisão.
Escolhido entre tantos para gerir a maioria dos cristãos existentes no mundo, não deve ter sido fácil renunciar a tudo isto sem carregar uma grande culpa ou crise de consciência que, num primeiro momento, não transparece no semblante sereno de um dos maiores teólogos que a Igreja já produziu.
Por conta disso, e, talvez por isso, todas as interpretações diversas que foram publicadas ou venham a ser explicitadas em relação à decisão do papa, parecem sucumbir diante de algo que parece insofismável: a lição de desprendimento, de desapego ao poder e de humildade que Bento XVI dá à própria Igreja mas, sobretudo, ao mundo dividido, desumanizado e vilipendiado pela arrogância ou ganância de dirigentes e grupos que se sentem acima do bem e do mal.
Recordando apenas os casos mais recentes, todos os dias nos impressionamos com a resistência do ditador sírio Bashar AL-Assad que, a despeito da morte de mais de 60 mil pessoas, insiste em permanecer no poder, mesmo abandonado pelo povo.
Da mesma forma que, antes, o sanguinário ditador Líbio Muamar Kadafi resistiu até morrer à insurreição popular que visava destroná-lo por não ter mais condição alguma de continuar conduzindo os destinos do país.
Aqui na América Latina é por demais conhecido o exemplo do “eterno” presidente da Venezuela, Hugo Chávez, preso ao leito de morte e, nem assim, abdicando do poder.
Até uma interpretação conveniente foi dada à Constituição para que, mesmo muito doente e fora do país, ele permanecesse como presidente, paralisando, por completo, a escolha de um sucessor.
Certamente que, pela dimensão da figura de um papa, seu exemplo será enxergado em todos os países e em todas as línguas.
Só não vê quem não quer.
CURTAS Muito antes – Os organizadores da Jornada Mundial da Juventude que se realizará no Rio em julho estavam em dúvida sobre a presença de Bento XVI ao encontro que reunirá jovens de todo o mundo.
Chegavam ao Brasil cada vez mais impressionados com a debilidade física do papa, com dificuldade até para andar.
A aflição só aumentou quando ele próprio indagado se viria não disse “eu vou”.
Preferiu falar “o papa vai”.
PTB e PT – Uma possível aliança entre o PTB e o PT para a disputa do governo do estado em 2014, tornada pública durante o carnaval, demonstra que nas hostes governistas não vai ser fácil costurar a unidade a partir de agora.
A coisa só não piorou de vez porque o governador mantêm-se nas especulações sobre a corrida presidencial.
Fora – Os grupos católicos que aderiram ao PT andam desencantados com o partido.
Foi esse um dos principais motivos da decisão do ex-vereador Josenildo Sinésio de abandonar o Partido dos Trabalhadores.
Ouvidos, os católicos que votavam em Josenildo e eram simpáticos ao PT, foram favoráveis a que ele deixasse a legenda.