Por Michel Zaidan Em pleno reinado de Momo (o maior ritual profano do país), os brasileiros tomaram ciência da renúncia de outro monarca, o Chefe da Igreja Católica romana, Bento XVI.

Os fiéis não entenderam o gesto renunciatório do pontífice.

Para eles, um papa escolhido e ungido pelo divino espírito santo, não só é infalível, mas só deixa o pontificado quando morre, ou desencarna.

Ocorre que a escolha do cardeal Ratingzer foi fruto de uma transação entre as diversas facções existentes no Colégio cardinalício.

O candidato preferido era um italiano, que declinou o convite, por razões de saúde.

Os grupos entraram um acordo para a escolha de um papa transitório, de pontificado curto, que permitisse à Igreja, a escolha de um outro para outro tipo de ministério.

Qual seja, ninguém sabe ao certo.

O cardeal Ratingzer era um religioso de mais de 70 anos, doente e d edicado ao estudo da doutrina cristã.

Foi chefe da Congregação para a Santa Fé, zeloso guardião da ortodoxia cristã.

Foi ele quem mandou Leonardo Boff se calar, sob pena de ser excluido da Igreja.

Enquanto o pontífice anterior era uma espécie de “atleta de Deus”, este é um guardião das escrituras.

Um ajudou a pescar as almas, este resolveu depurar o cardume.

Esse é o ponto dollens da questão.

As atitudes conservadoras do papa renunciante nada têm a ver com a saude ou a fragilidade do monarca cristão.

Mas sim com suas enciclicas, com a característica de seu pontificado.

Este foi um papa que trabalhou firmemente contra o espírito do Concílio Vaticano II e o giro secular da Igreja, com Paulo VI.

Deu-se uma “meia volta, volver” na política da Igreja católica, dando-se as costas para o mundo e suas questões e reforçando a doutrina consolidada por Paulo e outros evangelistas.

A igreja tornou-se mais conservadora, contrariando o direito das minorias, chocando-se com a ciência, interferindo com as políticas públicas dos governos nacionais.

Este foi o papa que trabalhou contra o ecumenismo.

Definiu a Igreja de Roma como a única herdeira do trono de Pedro.

Atacou o profeta dos Muçulmanos.

Em compensação, chamou os judeus de irmãos mais velhos dos cristãos.

Foi leniente em relação às denúncias de pedofilia na Igreja romana.

A renúncia do Bento XVI tem a ver sobretudo com estas características ultramontanas de seu pastoreio religioso.

Há de se lembrar que foi Mussolini que, através do tratado de Latrão, concedeu soberania político-estatal á cidade de Roma e fêz do papa católico, imperador romano, ungido ou não pelo divino espírito santo.

O papa de Roma é o único chefe de estado no mundo que tem o direito de interferir nas questões internas dos outros povos, sem sofrer nenhum tipo de retaliação.

A igreja católica se comporta como um império universal, e seu chefe, como imperador do mundo.

Que saude do pontificado de João XXIII!

Do ecumenismo cristão.

Da teologia da libertação e seus “padres de passeata”, como conservadoramente Nelson Rodrigues os chamava.

Realmente, a Igreja católica precisa de um novo papa.

Mas para que Igreja?