Núcleo Afro exclui grupos do Carnaval a partir de critérios individualistas e egoístas.
Por Rafael do Santos, sociólogo O prefeito Geraldo Júlio se elegeu defendendo um processo modernizador na gestão pública municipal, fundamentada no “modo PSB de governar”, orientado por um racionalismo e focado na eficiência e eficácia.
Mas seu primeiro Carnaval como prefeito tem sido marcado pela confusão entre esfera pública e privada, típicas da gestão anterior.
Uma das características mais presentes na política petista engendrada por João da Costa, sobretudo na área da Cultura, foi uma política para poucos, com uma lógica de balcão, onde as pessoas devem ter uma fidelidade servil com o gestor público em troca de direitos.
Isso foi visto no começo do ano com a recusa de vários artistas locais de se apresentarem no carnaval por causa de débitos não pagos desde o ano passo.
Esse cenário é ainda mais perverso se pensarmos em relação aos grupos de cultura popular, que são a verdadeira alma do carnaval do Recife.
Durante anos, a política do Núcleo Afro da Prefeitura do Recife tem transformado os espaços da Cultura Popular em verdadeiros cabides de empregos, que são cedidos aos amigos do rei após muita bajulação.
Os grupos se apresentam em palcos melhores ou piores a partir da relação pessoal que tem com o gestor do núcleo, e não a partir de critérios claros, lógicos, objetivos ou minimamente justos.
Se existe um desafio dessa nova gestão para uma gestão mais íntegra, sem dúvida, é eliminar os feudos internos da prefeitura, começando, por esse núcleo.
Uma política de cultura onde a lógica é do cidadão em total submissão ao gestor, não representa uma gestão moderna.
E foi essa lógica que excluiu o Afoxé Oyá Tokolê, um dos mais esperados da cidade, da Noite dos Afoxés, no Pátio do Terço, durante o Carnaval.
O Afoxé criado em 2004, no Terreiro de Mãe Amara (Ilê Obá Aganjú Okoloyá, em Dois Unidos), e já tem um público cativo, que reverencia sua passagem no Pátio do Terço anualmente, saudando os Orixás e reforçando a luta pela afirmação negra e resistência cultural.
Explicações sem sentido, e uma confusão entre relação pessoal do gestor do Núcleo Afro e abuso do poder são o que justificam a retirada arbitrária do grupo da lista de Afoxés que terão o direito de desfilar na Noite dos Afoxés.
Mas, de qualquer maneira, a Cultura Popular continua indo à rua, com ou sem o apoio da Prefeitura (nova ou velha) do Recife.
O Afoxé Oyá Tokolê conduzirá uma multidão de pessoas em Cortejo daqui a pouco, saindo do Pátio de São Pedro em direção ao Marco Zero, a partir das 18h.
Ao novo gestor, deixo apenas a ressalva de que esse tipo de gestão é completamente incompatível com sua campanha e com a defesa de uma gestão pública íntegra e moderna, como desejamos.
E é realmente um novo Recife que queremos.
Um Recife múltiplo, inclusivo, respeitoso e que valorize suas raízes.
Axé.