Fotos: Vinícius Sobreira/BlogImagem No Córrego da Areia, do outro lado da rua onde fica a Escola Municipal Casa Amarela, uma pequena casa foi transformada em instituição de ensino, no início dos anos 2000.
Sem qualquer estrutura, a escolinha E.
M.
Anexo Casa Amarela já enfrentou três tentativas de fechamento por parte do Ministério Público de Pernambuco.
O terreno, surpreendentemente pequeno, é alugado pela Prefeitura.
Uma divisória, levantada pelo proprietário e alugada a uma cabelereira, fez com que um salão de beleza funcionasse praticamente dentro da escola, fazendo com que todos os cheiros fortes dos produtos invadissem as salas de aula.
E dentro da escola há ainda um cercado, gradeado, com entulho, atraindo ratos e insetos para habitarem alí.
Aqueles pequenos metros quadrados seriam de grande importância para as crianças daquela instituição, que sequer têm recreio por falta de espaço.
Naquela área funcionava uma piscina, mas que nunca esteve inclusa no contrato do aluguel, inviabilizando o uso daquela parte do terreno.
O proprietário não se preocupa com a higienização daqueles metros quadrados e a limpeza acaba sob responsabilidade pessoal da vice-dirigente, Raquel Pereira. “Isso aí era uma piscina, que depois eles aterraram.
Mas fica com esses entulhos aí e eu mesma que varro.
Já mandei ofício para a Prefeitura, mas eles não responderam.
O proprietário do terreno não quer alugar este espaço para a Prefeitura”, lamenta, ainda sonhando com um espaço para as crianças brincarem. “Ele disse que não é lucrativo, que vale muito mais a pena alugar para alguém fazer um box (comercial).
Imagine um box aqui, dentro da escola, o barulho que vai fazer?!” Veja a situação de outras escolas: A 500 metros da Prefeitura, escola municipal vive de doações No Prado, população espera há anos que escola seja transferida Escola Municipal da Mangabeira convive com tráfico de drogas no telhado Na Zona Norte, escola sem estrutura deixa alunos desconcentrados com o calor Escola Casa Amarela A três salas de aula, bem apertadas, atendem crianças de 4 e 5 anos - 18 por turma.
As salas são conectadas e sequer têm portas, de modo que todo o barulho feito de um lado, invade a outra aula.
O barulho da televisão do salão de beleza também atrapalha consideravelmente.
A passagem para os dois banheiros também não tem porta.
Os cheiros correm livremente, se misturando com os cheiros de produtos de cabelo.
O prédio é alugado há 12 anos.
Inicialmente deveria ser um anexo da Escola Municipal Casa Amarela, mas por questões políticas foi desmembrada, sem o cuidado sequer de ter o nome mudado.
A ex-secretária de Educação, Edla Soares, teria transformado o anexo em escola para poder dar a direção para a amiga Márcia, que havia perdido o posto de diretora numa outra instituição.
A E.
M.
Anexo Casa Amarela era ideal: bem pequena, acessível (Márcia é deficiente física) e com pocos profissionais, de modo que sua direção não estaria ameaçada numa eleição.
Mas Márcia sofreu um AVC e está de licença média há dois anos. “Aqui sou eu e eu mesma”, afirma a vice-dirigente Raquel Pereira, avisando que Márcia perdeu a memória e não está em condições de voltar - mas segue como dirigente da pequena escola. “Este ano encerra o mandato dela de dirigente.
Aí verei como faço.
Vou conversar com as professoras para saber se alguma vai querer ser minha vice”.
A escola tem dois estagiários de informática, um de manhã e outro a tarde.
Sem qualquer espaço para um laboratório, o jeito é improvisar.
Notebooks são levados pelos estagiários para as crianças e a sala vira o laboratório de informática.
A escola é tão pequena que sequer tem espaço para recarregar os aparelhos simultaneamente.
Um dia na semana os estagiários se voltam apenas ao carregamento das máquinas, de seis em seis.
A merenda é no mesmo sistema.
As crianças fazem filas - uma turma de cada vez - para irem até a cozinha buscarem seus pratos.
Eles voltam para a sala de aula, onde fazem a refeição.
Nada de recreio, porque não tem espaço. “Damos um tempinho para eles comerem e tomarem uma água”, explica Raquel.
Os 20 minutos que deveriam ser dedicados ao recreio são jogados para o fim do dia e as crianças são liberadas mais cedo.
De acordo com a vice-dirigente, que está lá desde a inauguração da escola, o MPPE já tentou fechar a instituição por três vezes. “Tentaram três vezes, dizendo que isso daqui não é escola.
Só não fecharam por conta do grito da comunidade.
Não podem fechar sem ter feito outra.
Os meninos iriam estudar onde?”, questiona, com razão.
Também não há como discordar do MPPE quando afirmam que aquilo não é uma escola.
Mas, por falta de ações do poder público, aquele espaço precário é extremamente necessário àquela comunidade.
A prova disso é a disputa por vagas. “As mães dormem aqui na escola para pegar um vaga”, afirma Raquel, lembrando das mães que madrugam anualmente para colocarem seus filhos na E.
M.
Anexo Casa Amarela.
Enquanto o Blog fazia a visita, a jovem Amanda Gomes, 20, mãe de Maria Gabriela, 4, foi à escola tentar, sem sucesso, matricular sua filha.
Sem espaço adequado na minúscula sala transformada em diretoria, secretaria e sala dos professores, a vice-dirigente levou a mãe para conversar na sala de aula. “Mas esta é a única escola perto de casa”, afirma Amanda.
Mas o pedido é negado porque “não tem cadeira suficiente e nem espaço na sala para comportar mais que 18 alunos”, de acordo com Raquel.
A mãe lamenta.
As opções para ela são tão poucas que aquela escola está perto do ideal para colocar sua filha. “Infelizmente é muito pequena, mesmo.
Isso aqui fora era para ser uma área de lazer, espaço para educação física.
Mas a educação aqui é boa.
Me falaram que é uma ótima escola.
Nunca ouvi queixas daqui, só elogios.
Aqui eles mexem em computador.
Tem escola particular que não têm isso.
E as professoras aqui são boas.
Tem escola onde a professora grita, dá beliscão…” Ciente da carência naquela região, a vice-diretora sonha com “uma escola de verdade”.
Tenho esperança que antes de eu me aposentar a Prefeitura vai construir uma escola como a comunidade merece.
Estamos lutando por isso".
Veja a matéria pricipal e a galeria de fotos no link: Falta de estrutura das escolas é o principal entrave para a aplicação da Lei do Piso no Recife