Fotos: Vinícius Sobreira/BlogImagem Os cerca de 300 alunos da Escola Municipal da Mangabeira, na Zona Norte do Recife, passam dureza no ambiente escolar.

Os incômodos vão de alagamentos pela chuva, casas de maribondo, salas de aula quentes e ainda têm de conviver com traficantes que escolheram o teto da escola como ponto de tráfico.

A vice-dirigente Karla Vieira conta que grupos de viciados e comerciantes de crack sempre estavam em cima da escola, onde montavam cabanas e ficavam morando, exercendo suas atividades comerciais e sexuais, que podiam ser vistas e ovidas pelos estudantes.

O cenário se agrava porque a escola apresenta uma esquisitice arquitetônica: grades no teto, em vez de laje ou telha, em alguns trechos do pátio.

A entrada de ar e de luz é livre, mas também a de água (da chuva).

E ainda possibilita a desagradável interação entre os traficantes e os alunos, que têm entre 4 e 12 anos.

A dirigente escolar conta ainda que crianças já foram ameaçadas pelos que acampavam em cima da escola.

Vez por outra os inquilinos indesejados eram retirados pela polícia, mas voltavam.

Mas com a volta da Patrulha dos Bairros, a presença da polícia ficou mais forte na área e os traficantes não montaram mais cabanas na escola.

Mas no histórico da instituição há uma série de invasões (justamente pelas grades do teto) de marginais, que roubaram vários bens da cozinha.

A medida de segurança tomada foi passar uma corrente na grade para que ela não fosse mais tirada.

O prédio de 30 anos é grande - tem 9 salas de aula -, atende a 5 comunidades e foi construído para ser uma escola (algo pouco comum no Recife).

Mas tem arquitetura ainda tem um conceito que já não é o mais apropriado para uma instituição de ensino, com difícil instalação de ar-condicionados, por exemplo.

Não satisfeita, uma ex-dirigente da escola, quando em exercício, instalou quatro “reservatórios” de água completamente desnecessários.

A intenção era que a água caísse da grade não alagasse a escola, como de costume.

Mas o reservatório é fechado (!) e plano, com apenas um ralo para a água escoar.

Obviamente não funcionou.

A escola perdeu área útil, ganhou um bloco de cimento e segue inundando e cancelando aulas a cada chuva forte.

O líder comunitário e coordenador do conselho escolar, Jucelino Castro Nunes, afirma que a instalação “não serve de nada”.

E completa. “Não temos telhado, também.

Está tudo quebrado.

Já solicitei coberta, na outra gestão, mas eles negaram porque já estavam fazendo o outro prédio.

Acontece que nas redondezas tem muita marginalidade.

Fico com medo que voltem a entrar na escola”.

Escola Mangabeira O “outro prédio” do qual Juscelino fala é vizinho às atuais instalações.

No mesmo quarteirão, a escola erguida deve ser entregue à população no fim de fevereiro.

As obras começaram em 2011, com previsão de entrega de três meses.

Mas até hoje segue em obras.

Construído agora e com um terreno vasto, o prédio poderia ser de grande estrutura.

Mas infelizmente não é.

As novas instalações são provisórias.

O prédio é pequeno, com salas poucas e apertadas.

O material usado para cobrir a escola retém calor, tornando indispensável o uso de ar-condicionado.

Todavia, as paredes foram feitas de blocos de gêsso, não sustentando ar-condicionado de caixa.

Unidades do splinter estão sendo instaladas.

Os territórios vizinhos, que abrigavam um centro comunitário, hoje só abriga esconderijo de tráficantes.

O abandono na região é nítido e se estende ao quintal da escola, coberto de folhas.

Dá para ver que a Emlurb não pisa lá há meses.

Os dirigentes da escola também afirmam ter chamado o Corpo de Bombeiros Militar desde novembro para derrubar as árvores do quintal.

Tomadas pelo cupim, as árvores derrubam galhos grandes diariamente.

Se até março o CBM não estiver feito o serviço, vidas de crianças estarão em risco.

Veja a situação de outras escolas: A 500 metros da Prefeitura, escola municipal vive de doações No Prado, população espera há anos que escola seja transferida Na Zona Norte, escola sem estrutura deixa alunos desconcentrados com o calor MPPE já tentou fechar escola com apenas três salas de aula, no Córrego da Areia BIBLIOTECA - A nova escola não tem espaço para biblioteca.

Mas no prédio que estará em funcionamento até março, quando começará a ser demolido, há uma biblioteca com relativo conforto.

Mas ao entrar, encontramos um amontoado de livros do “kit Manoel Bandeira”.

A dirigente Patrícia Reis revela que o kit deveria ter chegado em janeiro de 2012, mas só chegou há duas semanas e, ainda assim, todo bagunçado.

A equipe da escola organizou e deve entregar às crianças no primeiro dia de aula, nesta quarta-feira (6).

Na E.

M.

Mangabeira a biblioteca fica sob responsabilidade de uma professora da rede - mas que só está presente no turno da manhã.

No outro turno os professores ficam responsáveis pelas atividades com os alunos na biblioteca.

SEM COMPUTADOR - Ainda no espaço de leitura, 17 caixas de computador se amontoam.

A dirigente da escola revela que a informática só funcionou por pouco mais de um ano, antes da gestão dela.

O laboratório está fechado desde 2009, por conta de infiltrações.

As máquinas a dirigente não sabe para onde foram, mas acha que foram devolvidas à Prefeitura.

As novas chegaram ainda em 2009, mas as infiltrações constantes não permitiram sequer tirá-las das caixas.

Os estagiários de informática desta escola são redirecionados para atividades na secretaria e para serviços auxiliares com multimídia, auxiliando professores nas salas de aula.

SEM ÁGUA - A caixa d’água da escola não distribui água para toda a instituição.

O encanamento do banheiro dos professores, corroído com o tempo, é um dos que estão com abastecimento afetado.

A higiene dos educadores é toda feita na base do caneco e do balde - um prato cheio para o mosquito da dengue. “O pessoal da engenharia da Prefeitura disse que não podemos mexer porque seria uma obra grande, que mexeria com toda a rede hidráulica.

E não adianta mesmo fazer reforma.

Tem que demolir e fazer outra escola.

Esta é abaixo do nível do solo”, defende o líder comunitário Jucelino Castro Nunes.

SEM EDUCAÇÃO FÍSICA OU RECREIO - O colégio tem uma quadra que é utilizada durante a semana para fazer atividades físicas com o mesmo professor da sala de aula.

E recreio nem pensar. “Não tem recreio por conta da violência.

Não dá para fazer.

Eles saem, merendam e voltam para a sala”, afirma Juscelino Castro Alves.

DANÇA E MÚSICA - Graças ao Mais Educação, programa da Prefeitura que visa manter os alunos na escola além do seu turno de aulas, as crianças podem fazer aulas de percussão, judô, dança, canto coral, letramento e matemática Os educadores que ministram as aulas é que se dirigem à escola para solicitar a participação.

A instituição faz o intermédio entre prefeitura e profissional.

Veja a matéria pricipal e a galeria de fotos no link: Falta de estrutura das escolas é o principal entrave para a aplicação da Lei do Piso no Recife