Por Paulo Rubem Santiago, deputado federal pelo PDT-PE Contrariando expectativas mais otimistas, o Deputado Federal Henrique Eduardo Alves, do PMDB-RN, foi eleito com escassos 14 votos acima da maioria simples de 257 parlamentares, necessária para sua vitória no primeiro turno.
Não votei nele, embora o conheça desde meu primeiro mandato iniciado em 2003.
Mesmo com a marca de candidato “oficial“, Henrique foi surpreendido por quase 170 votos dados ao deputado Júlio Delgado, do PSB–MG, em quem votei e que fez um discurso e uma campanha pontuando várias diferenças quanto ao papel da Mesa Diretora, do legislativo federal e da valorização da ação de cada parlamentar nesse processo.
Além disso, Júlio apontou que o legislativo, assim como defendemos desde 2007 na Frente Parlamentar de Combate à Corrupção, não pode se expor dando as costas para fatos e situações que desgastariam a imagem e o papel do poder, em especial frente às denúncias de improbidade contra alguns de seus membros.
Sua votação, além disso, expressou a dissonância com os acordos de cúpula dos dois maiores partidos da casa, PT e PMDB, que parecem, a cada dia, fazer planos para uma vida eterna à frente da República, da Câmara e do Senado.
Uma situação insólita, para não dizer estranha.
O PMDB, filho do MDB, onde fizeram história figuras como Fernando Lyra, Marcos Freire, Jarbas Vasconcelos, Freitas Nobre, Ulisses Guimarães, Chico Pinto e tantos outros, transformou-se, após a redemocratização, numa geleia de interesses locais e regionais, pela qual, embora sem nome forte para disputar a Presidência com candidatura própria, consegue se manter inserido nos blocos de poder vigentes desde a redemocratização, neles negociando seus interesses na máquina federal.
Longe de ser um partido que sirva ao Brasil, como afirmam seus integrantes, em bloco, é um partido que serve, sobretudo, a si próprio.
Claro, ainda respiram no PMDB deputados e senadores com posições diferentes, que argumentam e se expõem, no plenário e nas comissões, pelas teses que julgam corretas.
Seguem, porém, isolados, sem conseguirem repercutir suas posições para a maioria do partido.
Hoje toda a imprensa de Brasília, do sul e sudeste deu destaque às declarações de Henrique Eduardo Alves, sinalizando que a Câmara poderá não seguir (negando-se a abrir processo) a recomendação do STF pela cassação dos deputados condenados na Ação Penal 470, conhecida como o julgamento do “Mensalão”.
Um péssimo caminho.
Uma tentativa de conduzir o Poder servindo às conveniências e interesses dos dois maiores partidos.
Estivesse o PT na oposição, como ocorreu no governo Collor, qual seria a atitude do partido e de suas bancadas, num caso semelhante que atingisse figuras de proa do PSDB ou do DEM?
Quem subiu à tribuna da casa, com a revista VEJA em mãos, estampada na capa a denúncia de Pedro Collor contra o governo do irmão Fernando, para denunciar a trama e pedir CPI contra aquilo tudo?
José Dirceu.
E deve tê-lo feito com convicção, acredito.
Começar um mandato à frente da Câmara Federal com essas declarações, nos fazendo crer que poderá, com isso, juntar-se em coro às pretensões do PT em se dedicar em 2013 à anulação do julgamento da Ação Penal, é uma escolha perigosa, equivocada, um desserviço à democracia.
Há dúvidas quanto ao respeito às leis e aos princípios da defesa dos denunciados?
Mudem-se as leis.
O PT, o PMDB e seus aliados de sempre não contam com maioria na Câmara e no Senado?
As grandes tarefas do legislativo continuarão sendo o aprimoramento do regime democrático no país, a realização efetiva das reformas esquecidas, em especial nas áreas tributária e agrária, a fiscalização do orçamento e das medidas voltadas ao crescimento e ao desenvolvimento do país, além da aprovação urgente de dezenas de propostas de combate à corrupção, para fechar as portas da administração pública ao crime organizado público-privado. É nessa direção que mais de uma centena e meia de deputados que não votaram em Henrique Eduardo Alves querem seguir em 2013. É nessa direção que a maioria da sociedade, tenho certeza, quer ver a Câmara dos Deputados caminhando esse ano.