Por Jamildo Melo É bastante constrangedora, para dizer o mínimo, a volta de Renan Calheiros ao poder, com sua eleição para o comando do Senado, por um período de dois anos.
Não apenas para aqueles que enxergam na sua figura a imagem pública de desmandos.
Será que o PMDB não teria um nomes menos desgastado para o cargo?
O que me pergunto é se Renan precisava voltar à vitrine?
Uma explicação possível é que o político alagoano esteja em busca de uma redenção, uma segunda chance, para provar que não é um pária, depois de ter sido obrigado a renunciar ao cargo de presidente do Senado, cargo que ocupava desde 2005.
Renan fora forçado a deixar o comando do Congresso em 2007 após 194 dias em que foi acusado de corrupções várias.
O tempo dirá se existe razão.
O problema é quando figuras públicas como José Dirceu, condenado por corrupção, saem em sua defesa.
Não ajuda em nada.
Assim, não deixou de ser curioso, entretanto, que Renan tenha se afastado de José Dirceu oceanos e oceanos ao prometer ser um defensor da liberdade de imprensa durante o seu mandato. “A imprensa precisa ser independente, não só da tutela estatal, mas também das forças econômicas.
A pretensão de abolir a liberdade de expressão é totalmente imprópria, até mesmo insana, não pode e não deve haver.” Nesta sexta, Renan disse, com a cara dura dos políticos, estar confortável em assumir a presidência do Senado mesmo sob suspeita, por considerar que a ação da procuradoria era motivada politicamente.
O STF vai dizer quem está falando a verdade, como o fez no mensalão, aquele escândalo que não existiu.
Para ampliar o desgaste público da casa, hoje cedo a revista “Época” divulgou o teor da acusação do MPF contra Renan: falsidade ideológica, uso de documentos falsos e peculato.
A denúncia do procurador-geral, Roberto Gurgel, ocorreu na semana passada.
Se a eleição fosse aberta - Renan foi eleito na manhã desta sexta-feira (1º) em votação secreta por seus pares, com 56 votos - o resultado poderia ter sido outro, quem sabe, com boa parte dos senadores sendo influenciados pela força da opinião pública.
No atual esquema de eleição, o que pareceu imperar mesmo foram as promessas de manutenção de cargos na Mesa Diretora.
O outro candidato, o senador Pedro Taques (PDT-MT), recebeu 18 votos, apenas.
Ou seja, a bancada que supostamente luta pela ética cabe numa van (ou seria vã filosofia?).
No seu discurso, mesmo tendo tratado de ética, em um recado aos independentes, Renan ignorou a denúncia do procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
Daqui do Estado, Renan Calheiros havia enfrentado reação pública do senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB, mas que se define como independente e nunca deixou de alfinetar o líder partidário alagoano.
Também a ala governista do PSB, de Eduardo Campos.
Taques havia recebido apoio público de bancadas de oposição, como a do PSDB e a do DEM.
Com essas alianças, espera-se que Renan Calheiros seja mais alinhado ao governo Dilma e governista do que nunca, embora sem seu discurso tenha reafirmado a independência do Senado.
Na agenda prática, precisa colocar em votação os mais de 3.000 vetos presidenciais que aguardam apreciação do Congresso e buscar votar Orçamento Geral da União, sempre monopolizado pelo Executivo, aquele que tem os cargos, as verbas, moeda de troca para aprovação de qualquer peça.
Sem falar no excesso de medidas provisórias que chegam ao Congresso.
Nitidamente, algo que se sabe que será ruim com a volta de Renan Calheiros é o preconceito contra o Nordeste.
Há políticos safados em todas as regiões, mas os nordestinos pagam sempre um preço mais alto, por pertencerem a uma região tida como mais atrasada, loteada por coronéis.
Há muita gente tosca, é verdade, mas a generalização não é justa.
No final, o que se espera, para o bem do Brasil, da imagem que se tem dos políticos em geral, é que Renan tenha mais sorte ou decoro e que não desperdice a sua segunda chance, como o fizeram Antonio Palocci, que foi abatido sob suspeita de quebrar o sigilo de um caseiro, conseguiu notável reabilitação política e voltou a um ministério.
Mas acabou apanhado outra vez em suspeitas de irregularidade e caiu novamente.
Também José Roberto Arruda, que também havia conseguido se reerguer após o escândalo da quebra do sigilo do painel do Senado, acabou despejado do governo do Distrito Federal e chegou a ser preso.
Nesta data, Renan acabou voltando pela mesma porta que saiu, a dos fundos.
Tomara que não volte ao mesmo vexame.
No primeiro escândalo, Renan brindou o Brasil com os dotes da jornalista Mônica Velloso, pivô do “Renangate”, caso que trouxe à tona a relação extraconjugal do senador Renan Calheiros (PMDB-AL).
O escândalo expôs ainda a relação pouco ortodoxa de Renan com o lobista Claudio Gontijo, ligado à empreiteira Mendes Júnior.
Era Gontijo quem pagava, a pedido de Renan, a pensão alimentícia por conta do filho que tiveram.
Com a repercussão do caso, Mônica posou nua para uma revista masculina em outubro de 2007.