Por Michel Zaidan Filho Foi o poeta pernambucano Carlos Pena Filho que disse:“uma cidade se inventa dos sonhos dos homens”, antencipando-se sem querer ao escritor intaliano Ítalo Calvino, em seu livro “Cidades invisíveis”.

A cidade dos nossos sonhos não é a cidade cenográfica da propaganda política ou governamental.

Esta é produto de uma engenharia simbólica destinada a capturar consumidores incautos ou eleitores alienados, nunca cidadãos ou cidadãs.

A cidade performática, de empresários (beneficiados pelo poder público), de artistas (funcionários públicos), e outras figurinhas carimbadas nas festas e embalos oficiais não coincide nem com a cidade real, palco de tantos sofrimentos do povo trabalhador, nem com a cidade de nossas utopias.

Mais ainda quando em lugar de um gestor público, temos um “flaneur”, um garoto- propaganda, um porta-voz.

Desde sua eleição, o atual prefeito vive um “estado de graças” com o poder, não com o povo recifense ou a Cidade do Recife.

Inquerido, no debate, se ele tinha conhecimento da situação da saude nos hospitais públicos do Recife, ele desconversou para falar de sua primeira medida administrativa: “limpar e embelezar a cidade”.

Faltou esclarecer qual é o sentido dessa limpeza ou desse embelezamento.

Será o “embelezamento estratégico”, do prefeito de Paris, retirando das áreas nobres, do centro da cidade, dos logradouros públicos, das margens dos canais e rios, a “canalha”, a “raia miúdo”, o povareú"?

Preparando o Recife para os grandes eventos turísticos, para os quais tabalha uma população operária de 4.000 pessoas e vai ser gasta uma bagatela de 4,5 bi lhões de reais?

Naturalmente quem começa uma campanha d embelezamento e limpeza da cidade pelas chamadas áreas nobres do Recife (Espinheiro, Parnamirin, Casa Forte etc), não deve estar muito preocupado com as mazelas da cidade cruel, como disse Oscar Barreto.

Está preocupado com a imagem, o produto turístico que vai vender aos visitantes de fora, seja no carnaval, seja no São João, seja no Natal.

A função de um administrador público nunca é se vangloriar de ter ganho uma eleição de uma cidade populosa e problemática, como a nossa. É de se preocupar com os mais pobres, os miseráveis, os que só contam com as políticas públicas para amenizar o sofrimento cotidiano de suas vidas.

O que o novo prefeito, da nova prefeitura do Recife tem a dizer sobre isso, além de cobrar o IPTU majorado em 40%, de entregar a saúde aos amigos (do IMIP) do governador, em oferecer renúncia fiscal à s empresas de transporte?

Ser o gestor de uma metrópole como o Recife não é uma dávida, um presente do governador. É um enorme desafio e uma grande responsabilidade, diante dos grandes problemas que a cidade enfrenta.

Não é viver um sonho, ou vestir uma fantasia e ir desfilar em carro alegórico no Galo da Madrugada.

Isto porque o sonho acaba, o carnaval passa, e os visitantes endinheirados ou não vão embora.

Mas os problemas permanecem sem solução, sendo transferidos de gestão para gestão.

Em vez de propaganda e gestos de marketing, a cidade precisa de ação, de trabalho, de competencia gerencial e administrativa.

E sobretudo, de administradores que disponha de simpatia para com a dor dos que sofrem.