Por Luciano Siqueira, vice-prefeito do Recife pelo PCdoB Acabou aquela conversa, com ares de teoria, do tempo da ditadura militar e da era FHC, de que seria necessário primeiro crescer o bolo para depois dividi-lo.
Era para justificar a imensa concentração de riqueza e renda (e o consequente empobrecimento dos que vivem do trabalho), marcas do nosso capitalismo dependente e precocemente monopolizado.
Ontem a ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, dirigindo-se à plateia do Encontro Nacional com Novos Prefeitos e Prefeitas, em Brasília, foi taxativa: “Pela primeira vez, a gente divide o bolo ao mesmo tempo em que está crescendo.
A América Latina está fazendo esse movimento e tem sido olhada por todos os lugares do mundo”.
E é verdade.
Podemos dizer que é um fenômeno novo, aqui na latino-américa, em contraste com as políticas de contenção de investimentos, regressão de direitos e desemprego que se pratica na Europa em crise.
A ministra mata a cobra e mostra o pau.
O PIB per capita passou de R$ 16,5 mil a R$ 21,3 mil entre 2001 e 2011, acelerando-se nos últimos oito anos.
E se verificarmos o Índice de Gini, praticado pelo IBGE, que mede o grau de concentração de renda, teremos que caiu 0,553 para 0,500.
Ou seja, distanciou-se um pouco de 1 e, portanto, revelou menor concentração.
Essa foi uma das vertentes da ação do governo Lula (e que continua com Dilma) para enfrentar os efeitos da crise global sobre a economia brasileira.
Desoneração fiscal de segmentos industriais, para manter o nível do emprego, ampliação do crédito e estímulo ao consumo se somam à ousada política de redução de juros.
Daí que mesmo em 2012, quando o PIB não ultrapassou 1%, nos mantivemos num padrão tecnicamente considerado pleno emprego.
O bolo até que tem crescido – mas não o suficiente.
E seus frutos, compartilhados gradativamente por amplas parcelas da população – mas ainda aquém das verdadeiras necessidades do povo brasileiro.
Importa avançar a passos consistentes e rápidos, para assegurar a sustentabilidade do crescimento com inclusão social.
Para tanto, urge corrigir a relação PIB/investimentos.
Países como a China, que crescem a taxas elevadas, conseguem investir em torno de 40 por cento do PIB.
No Brasil, mal chegamos a 19%. É preciso atingir pelo menos 25% em curto prazo.
Isso em proveito da retomada do desenvolvimento industrial e do revigoramento da infraestrutura.
Reduzir os custos da produção com medidas como a recentemente adotada em relação ao preço da energia.
Incrementar a inovação tecnológica para modernizar e aumentar a produtividade do parque industrial.
O fato é que a ministra tem boa dose de razão – como os fatos comprovam; e é bom que ela assim se pronuncie e que os brasileiros e brasileiras sinceramente interessados no progresso do País com soberania e inserção produtiva da maioria aprofundemos o tema que, afinal, se impõe no debate de ideias.