Por Terezinha Nunes, especial para o Blog de Jamildo Na história da humanidade é muito conhecida a política do pão e circo adotada durante muito tempo pelos imperadores romanos, acostumados a manter, a ferro e fogo, o poder imperial, abafando a insatisfação popular com o desemprego e os aumentos constantes na cobrança de impostos.

Nos estádios, dos quais o mais famoso era o Coliseu, cujas ruínas encantam ainda hoje os turistas que visitam Roma, gladiadores travavam lutas sangrentas, quase sempre resultando na morte de um dos contendores, enquanto a multidão aplaudia entusiasmada e bem servida da comida distribuída com fartura pelos poderosos de então.

Houve um momento, porém, em que a insatisfação era tal que, mesmo de barriga cheia, as pessoas começaram a protestar nos estádios contra a cobrança dos impostos e o feitiço virou contra o feiticeiro.

Por isso, ainda hoje, a política de pão e circo é tida como um mal que não deve ser repetido pois tem vida curta.

Guardadas as devidas proporções, o Nordeste brasileiro é vítima, no momento, de algo parecido.

Para satisfazer o orgulho de exibir estádios caríssimos, construídos com recursos públicos, e nos quais serão exibidos poucos jogos da Copa do Mundo de 2014, os estados de Bahia, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte estão investindo perto de R$ 2 bilhões para reformar ou construir arenas de primeiro mundo.

Pernambuco está investindo R$ 530 milhões na Arena de São Lourenço da Mata, o Rio Grande Norte se comprometeu a construir a Arena das Dunas por R$ 350 milhões, o Castelão, no Ceará, já concluído, custou R$ 623 milhões e a Bahia investe R$ 592 milhões no estádio da Fonte Nova.

No total R$ 1 bilhão e 895 milhões estão sendo comprometidos com os quatro estádios.

Como há sempre correções para maior nestes valores durante as obras é certo que no final terão sido gastos mais de R$ 2 bilhões.

Alguns dirão que também há investimento privado nos estádios mas levantamento recente aponta que, do total investido, 97% sairão dos cofres públicos.

De sã consciência ninguém pode ser contra a construção de um estádio e é bem provável que qualquer desses governadores que tivesse se negado a fazê-lo sairia perdendo em aprovação popular mas salta aos olhos a contradição de uma região carente como o Nordeste exibir tais obras – as únicas até hoje que serão entregues no prazo – quando uma seca inclemente dizima o rebanho do sertão, espalha ainda mais a fome entre as famílias e conclui-se que muito desse drama poderia estar resolvido se as pessoas contassem com simples cisternas para armazenar água.

Isso sem falar em barragens e adutoras que levam décadas para serem construídas.

Está certo que, neste particular, a culpa não é dos governadores e sim do Governo Federal mas causa também perplexidade que, enquanto os estádios seguem de vento em popa, as obras de transposição do rio São Francisco e a Transnordestina, ambas tidas como fundamentais para reduzir a pobreza sertaneja, se encontrem paralisadas ou a passo de tartaruga.

Mesmo com o pão e circo, o Império Romano desabou.

No Brasil é quase certo que nos jogos da Copa multidões se encantem ao comparecer às tais arenas como se, de repente, todos os seus problemas estivessem resolvidos, mas o preço disso tudo será pago e muito caro.

Disso pouca gente tem consciência.

Quase ninguém se detém para fazer as contas.

Além do que está sendo desembolsado pelas obras, é cada vez mais rara a presença de público nos estádios brasileiros.

Corremos, portanto, o risco de, daqui a alguns anos, estarmos enfrentando o drama de ver verdadeiros elefantes brancos se deteriorando sem que se consiga, sequer, fazer sua manutenção.

CURTAS Limonada – Sempre atento ao marketing, o governador Eduardo Campos transformou o que seria uma notícia negativa – a queda de arrecadação estadual – em positiva, anunciando ao mesmo tempo corte de gastos e a previsão de investimentos para o ano de 2013.

Chiadeira – Mas o mar não está pra peixe.

Cresce nos corredores dos órgãos estaduais a irritação de fornecedores do estado, reclamando de atrasos no pagamento.

Custeio – O que ficou mal explicado na entrevista do governador foi o fato de ter sido autorizada uma redução de R$ 300 milhões nas despesas de custeio.

Se tanto dinheiro pode ser cortado sem prejuízo para o funcionamento da máquina, fica claro que poderia ter tido economizado em quatro anos R$ 1 bilhão e 200 milhões consumidos inutilmente pelos órgãos públicos.