Moradores querem participar do debate em torno da urbanização do Centro (Fotos: Fábio Jardelino/NE10) Por Gabriela López, do Blog de Jamildo O estranho mora ao lado.

Eles são vizinhos do maior projeto imobiliário do Centro do Recife, o Novo Recife, que prevê a construção de 12 prédios no Cais José Estelita e a urbanização da área, mas não têm qualquer informação sobre o empreendimento.

Alguns sequer sabem que este ano deve iniciar a construção das torres que irão reformular não só a paisagem como a economia e a mobilidade do entorno.

Os moradores do Coque, na Ilha de Joana Bezerra, estão alheios ao debate.

João da Costa aprova projeto Novo Recife, sob protesto de grupo de arquitetos Moura Dubeux diz que Direitos Urbanos tentou, mas não conseguiu convencer nem a comunidade no entorno da obra Grupo diz que liminar impedia realização da reunião que aprovou projeto Novo Recife Polo Jurídico do Recife preocupa moradores do Coque “Temo que o projeto seja uma expulsão branca.

E este Polo Jurídico que vão construir também.

Ninguém é contra o projeto, mas não participamos da discussão”, reclama o integrante do Grupo Comunitário do Coque (Grupão) Cláudio Aprígio, conhecido como Cacau, 52 anos.

A reportagem esteve na comunidade nessa quinta-feira (10) e constatou a falta de informação dos moradores, que, quando eram questionados sobre a opinião em relação ao Novo Recife, expunham a mesma expressão de desconhecimento.

Moradores do Coque ainda desconhecem o Novo Recife De acordo com o Consórcio Novo Recife - grupo formado pelas empresas Moura Dubeux, Queiroz Galvão, GL Empreendimentos e Ara Empreendimentos, que bancam o projeto -, serão gerados 6 mil empregos na fase de construção e 2 mil após a conclusão.

Questionado se os moradores do Coque podem ser beneficiados com a geração de vagas de trabalho, Cacau respondeu com um argumento na ponta da língua: “Vá no Fórum e conte quantos moradores do Coque trabalham lá”.

O Fórum a que ele se referiu foi o Desembargador Rodolfo Aureliano, erguido em uma das portas de entrada da comunidade.

Moradora da localidade há 38 anos, desde que nasceu, Xênia Corrêia Ramos lembra que quem vive no Coque sofre preconceito para arrumar emprego, por causa do estigma de área violenta. “Queremos saber se esse projeto vai ser para melhor.

Eu queria que dessem atenção para a gente.

Os jovens daqui são inteligentes e a gente vê eles se perdendo nas drogas e com armas.

Quando vão arrumar emprego não podem colocar no currículo que são do Coque.

Se colocarem, são eliminados na hora”, lamentou.

Já o serralheiro Nicélio Francisco Cabral, 32, quando foi apresentado ao Novo Recife pela reportagem, disse acreditar que pode haver geração de empregos para moradores da localidade. “Deve ter muito ponto comercial, mas não estão divulgando.

Tenho nenhuma opinião [sobre o projeto] ainda, porque não conheço”, observa.

Segundo os dados mais atualizados da Empresa de Urbanização do Recife (URB), referente ao Censo de 2009, o Coque ocupa uma área de 11,64 hectares e possui uma população de 12.629 habitantes.

Parte da comunidade é considerada Zona Especial de Interesse Social (ZEIS).

Foto: Fábio Jardelino/NE10 Projeto prevê construção de 12 prédios no Cais José Estelita (Foto: divulgação) Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Consórcio Novo Recife informou que já houve discussões com líderes comunitários dos Coelhos, Cabanga e com representantes da ONG Comunidade dos Pequenos Profetas e, em breve, o projeto também será apresentado aos moradores do Coque.

O Novo Recife foi aprovado pelo Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU) no dia 28 do mês passado, penúltimo dia útil da gestão de João da Costa (PT), e gerou protesto de parte da população, que, já insatisfeita com a elaboração do projeto, reclamou da falta de debate.

O projeto está na Diretoria de Controle Urbano (Dircon) para nova apreciação.