Por Jamildo Melo, editor do blog A primeira impressão que se tem ao ler o discurso de posse é que o próprio governador Eduardo Campos escreveu a peça.

Pode ter dado alguma orientação, mas não deve ter posto a mão diretamente.

Trata-se de um alinhamento claro, como convém a um aliado.

A aposta na união política é a principal bandeira, em um cenário político em que adversários costumam se destacar, espalhando brasa, apresentando-se como melhor que os outros, essa coisa sal da terra que alguns partidos buscam vender.

A melhor coisa do discurso de posse de Geraldo Júlio foi o pé no chão.

Ele repetiu inúmeras vezes a palavra trabalho.

Na prática, sugere que agora é a vez do partido do trabalho.

Não custa lembrar, o prefeito é um empregado da cidade e não o contrário.

Chamou a atenção, nas suas primeiras palavras, que Geraldo Júlio não usou nem abusou da demagogia, como costuma ocorrer com alguma frequência nos discursos políticos. É um bom sinal. É um grande sinal.

Chega de discurso barato, de gente que se apresenta como defensor dos pobres, blá, blá, blá.

O que a cidade precisa é de ação permanente, de gestão comprometida com resultados, de planejamento sério, mas não precisa de pequenos heróis, pseudo guerrilheiros, em uma imaginária revolução, que só a eles interessa e serve.

Chega de personalismo, de salvadores da pátria.

Neste sentido, foi salutar ouví-lo falar em trabalho em equipe, em compromisso coletivo.

Notem que o prefeito eleito falou duas vezes em Miguel Arraes e nem nesta hora foi piegas, resvalando para o populismo barato adotado pelos bajuladores de plantão quando se referem ao ex-governador do Estado.

Gostei de ouvir ainda a frase a cobrança mobiliza.

Normalmente, os governantes odeiam ser cobrados.

Quando simplesmente não espancam cotidianamente a transparência.

Vamos ver na prática, no exercício cotidiano.

Nesta área, para começar bem, o novo prefeito poderia começar divulgando todos os dados do projeto Novo Recife. É importante que a cidade conheça os avanços que o projeto vai proporcionar para a região do Cais José Estelita.

Com a falta de informações oficiais, viceja a irresponsabilidade, a má fé, com insinuações de negociatas e coisa e tal.

Não cabe nem se imaginar isto na administração pública.

Além disto, também está obrigado Geraldo Júlio a informar se vai ou não corroborar o edital da PPP dos estacionamentos públicos, lançada por João da Costa no final da gestão, na semana passada.

O novo prefeito pode mudar ou mesmo abolir o edital, para lançar outro, mas João da Costa não iria lançar nada desta magnitude sem o aval do sucessor, depois de uma transição tão amistosa.

Na semana que passou, ao responder a razão de aprovar três projetos antes mesmo de assumir o cargo, o prefeito eleito explicava para uma repórter se ela preferia que os projetos fossem enviados somente em março ou abril, depois do recesso, depois do carnaval.

A oposição sempre vai criticar o chamado rolo compressor. “Quem fica no prejuízo é a população”, afirmava Geraldo Júlio.

Esse mesmo senso de urgência transparece no discurso, não com estas palavras. É torcer para que a animação não esmaeça.

Eu pessoalmente acedito que não haverá recuo, primeiro porque Geraldo Julio conta com um partido unido, coisa que João da Costa sonhou, mas não teve.

Depois, porque interessa a Eduardo Campos que a gestão do Recife seja uma espécie de vitrine, de cartão postal socialista, na antesala de 2014.

Geraldo também disse que não era de briga, sou de luta. É outra frase balizadora.

Geraldo Júlio não é o tipo de pessoa que vai para o embate.

Prefere matar na unha.

Aviso aos navegantes.

Só resta torcer que dê tudo certo.

Em 2013 e adiante.