Por Manoel Guimarães, do Jornal do Commercio, especial para o Blog de Jamildo Uma confraternização de final de ano na casa de uma determinada pessoa influente do Recife reune todos os atores políticos do Estado.

Sem holofotes, sem Imprensa, todos à vontade.

A festa vira a noite.

Em meio ao clima harmonioso, o proprietário do recinto revela um desejo nutrido e pede a sua realização para aquela noite.

Sonhava assistir a uma partida do famoso jogo War (ou Risk, como desejem) entre os representantes do povo.

Se vontade de anfitrião normalmente deve ser atendida, avalie quando o mesmo a expõe em uma festa para políticos. À mesa, sentam-se de pronto o governador Eduardo Campos (PSB); os senadores Armando Monteiro Neto (PTB), Humberto Costa (PT) e Jarbas Vasconcelos (PMDB); o prefeito do Recife, João da Costa (PT); e o deputado estadual Daniel Coelho (PSDB).

Surge logo o primeiro atrito: Humberto e João da Costa disputam quem fica com os exércitos vermelhos.

Em tom de vitimização, João da Costa cede e escolhe os exércitos brancos, na tentativa de fazer um gesto de paz.

Do outro lado, Daniel não abre mão de jogar com os exércitos verdes.

De maneira inquestionável, Eduardo fica com os amarelos.

Jarbas escolhe os azuis e Armando pega os pretos.

O prefeito eleito do Recife, Geraldo Julio (PSB), optou por não compor a mesa.

Justificou que só assumirá o mandato em janeiro, quando só então passará a tomar as decisões.

Nos bastidores, o burburinho de que o mesmo não queria ter que se confrontar com Eduardo nem num jogo de par ou ímpar.

Como o encontro é no Recife, Renildo Calheiros (PCdoB) marca presença.

Por ter renunciado ao mandato, Elias Gomes (PSDB) foi barrado da festa.

Através de sua assessoria, o tucano alegou que estava “estudando para o futuro”, mas o fogo amigo dizia que Elias foi visto na porta da casa ao lado de outro barrado, o vereador de “mandato popular” Edilson Silva (PSOL).

Conhecido pelas respostas curtas, o deputado Sérgio Guerra (PSDB) justificou sua ausência na mesa: “Não sou cacique”.

Também de fora, mas subindo na ponta dos pés para observar a partida, o deputado Mendonça Filho (DEM) tenta dar algumas dicas, mas apenas o correligionário Augusto Coutinho o escuta. “Se me chamarem, jogarei com todo o prazer”, completava André de Paula (PSD).

Pensando grande, como de costume, o vereador Raul Jungmann (PPS) sugeriu aos competidores que retirassem os paletós.

João Paulo (PT), que esqueceu a sunga do ano novo para mergulhar na piscina da casa, opta por fazer meditação transcendental no terraço da casa.

Raul Henry (PMDB) prefere se manter distante da guerra, por “não ter esse perfil”.

Eduardo da Fonte (PP) reclama do gasto de luz excessivo na sala de estar, enquanto Cleiton Collins (PSC) e Cadoca (PSC) mantêm distância regulamentar.

Inocêncio Oliveira (PR) assiste a “Eu sou a Lenda” na televisão, e se diz “muito identificado” com o filme.

Os competidores, então, puxam as cartas dos objetivos.

Todos, exceto Eduardo. “Para a partida demorar um pouco mais, o governador joga para conquistar todos os territórios”, justifica um palaciano, que prefere não se identificar.

Após tirar a carta “destruir exércitos amarelos”, Jarbas pede para trocar de objetivo.

Alega não querer voltar a se indispor com o governador, com quem resgatou recentemente uma amizade perdida há 20 anos.

O peemedebista queria “destruir os exércitos vermelhos”, missão que caiu logo para João da Costa.

O objetivo de Humberto, “conquistar 18 territórios com dois exércitos em cada”, foi aclamado como o mais difícil e virou a grande piada da noite. “Reunir dois vermelhos num território já está tão difícil, avalie em 18”, soltou o deputado Sílvio Costa (PTB), que pouco acompanhou a partida, pois telefonava para os 493 parlamentares que o “conhecem pelo nome”.

Daniel pede a exclusão da carta de “destruir os verdes” do sorteio. “É uma bandeira antiga, suprapartidária”, justificou o tucano.

Já Armando preferiu seguir observando o ambiente, evitando qualquer possibilidade de ameaçar o objetivo de Eduardo.

Começa, enfim, a partida, e já de início João da Costa e Humberto travam uma briga ferrenha.

Todavia, evitam o contato direto, optando por ataques em diferentes continentes, como no confronto entre Alaska e Vladvistok.

Com falta de sorte nos dados vermelhos (de ataque) e sendo atacado por todos os lados, o prefeito passa a adotar a estratégia de se defender.

Fica com os dados amarelos (de defesa) em mãos o tempo todo, atitude que rende críticas da parte de Humberto e de outros petistas que acompanhavam a partida.

Armando e Jarbas firmam pacto de não-agressão por algumas rodadas, e Daniel se queixa de que nenhum deles ousa atacar Eduardo.

O tucano termina ficando isolado em Madagastar, ilha que tem ligação apenas com os territórios da África do Sul e do Sudão.

O socialista vai expandindo seus domínios pelo mapa.

Conquista diversos territórios, mas permite que os adversários não retirem suas pedras dos mesmos. “Não vim para dividir, mas para somar”, prega Eduardo.

Sua grande dificuldade é o Brasil, comandado pela tropa de Humberto.

Embora coloque peças em todos os pontos de fronteira (os conglomerados Argentina/Uruguai, Colômbia/Venezuela, Peru/Bolívia/Chile e Argélia/Nigéria), Eduardo diz que não quer entrar num conflito nacional com os vermelhos.

Procura não se mostrar fazendo questão de ter mais dois exércitos pelo contintente ao conquistar a América do Sul, mas reforça a importância de um novo “pacto federativo” no tabuleiro.

Enquanto Armando tece elogios às estratégias do socialista, Humberto diz que já lançou muitos alertas sobre as ambições do governador.

Todavia, alguns se fazem de surdos ao escutá-lo.

Após reclamar das parceiras públicas e privadas de Eduardo com os demais jogadores, ele enche o Brasil de “vermelhinhos”.

A estratégia é criticada por Jarbas. “(Os vermelhos) só querem o poder, e ainda brigam por coisas pequenas”, acusa, citando duelos por territórios como Omsk, Tchita, Aral, Dudinka, Sumatra e Borneo.