Por Gustavo Krause, especial para o Blog de Jamildo Seria pretensioso e inútil dar conselhos.
Tô fora.
O povo tem razão: se fosse bom, conselho não seria dado, seria vendido.
Ainda assim só se dá a quem pede.
Na política, o poder corre o risco de se submeter a um bando de “conselheiros”, loucos para adular, mostrar prestígio, influência e, com caras e bocas, saquear o orçamento público.
Mas existe o outro lado da moeda: os grandes conselheiros.
Sobre o assunto, a literatura política é torrencial.
Tanto que o título do artigo é uma publicação do Senado Federal com 831 páginas (2003) utilizando textos de treze autores.
Aliás, a sapientíssima lição do mais venerado e odiado conselheiro, Maquiavel, ensina: “O príncipe deve aconselhar-se, mas quando ele próprio, e não outrem, o julgue conveniente (…).
Daí se conclui que os bons conselhos nascem da sabedoria do príncipe, e não que a sabedoria do príncipe nasça dos bons conselhos”.
Além de vasta e incontrolável, a propensão a aconselhar governantes vem de longe: quatro séculos antes de Cristo, atribui-se a Kautilya, primeiro ministro do rei indiano, Arthashastra, um texto de longas prescrições à arte de governar.
Entre elas: “Quando o conflito tiver início, convém encorajar o partido mais fraco, dando-lhe assistência, porém ligeira, suficiente apenas para incitá-lo à luta que irá destruí-lo”.
Ora, se estamos às vésperas da posse de 5.564 prefeitos, não custa extrair dos sábios algumas máximas que possam ser úteis sem a preocupação, é importante frisar, com as circunstâncias históricas em que foram proferidas.
De Isócrates (433\345 a.C) para Euágoras, rei de Salamina: “Tenha cuidado e rigor em arrecadar impostos para brilhar sobremaneira e poder arcar com todas as despesas”.
De Platão (427\348 a.C) para Dionísio, o jovem, rei de Siracusa: “Tornar-se cada vez mais senhor de si e conquistar partidários e amigos fiéis”. (Platonicamente, o filósofo grego era defensor intransigente dos reis sábios e filósofos).
Em Maquiavel (1469\1527), a obra se impõe na totalidade.
No entanto, existem reflexões e questões frequentemente mencionadas que merecem referência: “É melhor ser amado ou temido?
Convém ser ambas as coisas.
Dada a dificuldade, o mais vantajoso é ser temido (…).
Fazendo-se temido, se não conquistar o amor, evite o ódio (….).
O príncipe deve adotar, ao mesmo tempo, a índole do leão e da raposa; porque o leão não sabe fugir das armadilhas e a raposa não sabe defender-se dos lobos.
Assim cumpre ser raposa para conhecer as armadilhas e leão para amedrontar os lobos (…) A primeira opinião sobre a inteligência do príncipe estriba-se na qualidade dos homens que o circundam (…) O melhor abrigo contra a lisonja (dos aduladores) consiste em levar os homens a compreenderem que não ofendem quando dizem a verdade”.
Na seara do aconselhamento, A Educação de um Príncipe Cristão de Erasmo de Roterdã insiste na necessidade da conduta virtuosa do homem e se afasta radicalmente da moralidade maquiaveliana que consagra a manutenção do Estado como o máximo ético a ser seguido pelo bom governante.
Já o Breviário dos Políticos, da lavra do Cardeal Mazarino, primeiro-ministro de Luís XIII, condensa prescrições de relações interindividuais dos homens do poder a exemplo de observações do tipo: “O homem astuto é frequentemente reconhecido por sua doçura fingida, o nariz curvo e o olhar cortante (…).
Dá precedência aos idosos, segue-lhes os conselhos, cerca-os de honra e veneração, pois eles se tornam facilmente agressivos”.
Os textos do Conselho aos Governantes se completam com Cervantes, Sebastião César de Menezes, D.
Luís da Cunha, Marquês de Pombal, Frederico da Prússia, todos com reflexões que, embora longe de amplo acatamento, têm, em comum, sabedoria e experiência.
Deixei uma menção especial para o Testamento Político de Maurício de Nassau, um primor de equilíbrio político e de emoção telúrica em relação ao trópico recifense.
Merece ser lido e guardado o preceito em que aconselha: “Devem Vossas Senhorias abster-se de lançar novos impostos, pois tributos geram indisposições no povo”.
E, para finalizar, vale a pena registrar trechos das duas cartas do Imperador Pedro II, enviadas à Princesa Regente, sua filha, D.
Isabel, por ocasião da viagem que fez ao exterior entre março de 1876 e setembro de 1877.
Escreveu o notável Imperador, demonstrando sua dimensão de estadista em várias passagens da correspondência: “Sem educação generalizada nunca haverá boas eleições (…).
Escuso observar que as estradas são o mais importante melhoramento material (…).
Veja se as obras existentes não param, ainda que não possam ir todas depressa (…).
A magistratura vem provocando bastantes queixas.
Muito escrúpulo na primeira escolha (…).
Todos os negócios, que sejam importantes, por influírem na política, e na marcha da administração, não devem ser resolvidos, sem serem primeiro examinado, em conferência dos ministros, e depois em despacho com o imperador (…).
Reprovo a despesa que se faça por conta do ministério com a imprensa (…).
Os ataques ao imperador, quando ele tem consciência de haver procurado proceder bem, não devem ser considerados pessoais, mas apenas manejo ou desabafo partidário”. Ó tempos! Ó costumes!