Por Terezinha Nunes Coisas estranhas estão acontecendo no Brasil.

O Nordeste acaba de ser apontado, em pesquisa Datafolha, como a região brasileira onde a população está mais satisfeita com a vida que vem levando.

Tudo isso diante de uma crise econômica que fez com que o Brasil tivesse este ano o menor crescimento percentual da América Latina – inferior a 1% - e quando uma seca inclemente dizima rebanhos e provoca fome e sede no sertão, como não se via há 50 anos.

Alguns poderão dizer que o Nordeste, por ser uma região pobre, se contenta com pouco e, mergulhado em um subdesenvolvimento secular, vê qualquer sinal de melhoria no emprego como uma benção de Deus.

O problema, porém, é que a mesma pesquisa traz outros dados incompreensíveis num primeiro momento.

Embora esteja crescendo o contingente de brasileiros que reprovam o atendimento à saúde, à educação e à segurança – itens fundamentais para quem deseja um mínimo de bem-estar – a presidente Dilma, que tinha 64% de aprovação dos brasileiros em janeiro deste ano, tem agora 62%.

Ou seja, como toda a discussão sobre a crise econômica e a corrupção dentro do Governo, Dilma só caiu 2% na análise popular.

Em janeiro deste ano, segundo o Datafolha, 48% dos brasileiros consideravam ruim e péssima a assistência à saúde no país.

Agora o número subiu para 52%.

Na segurança, 51% analisavam a performance do Governo como ruim e péssima.

Agora o número pulou para 62%.

Na educação, onde a tendência da população é ser mais condescendente nas avaliações porque não se percebe no dia-a-dia que as crianças estão saindo das escolas sem saber ler e escrever, a avaliação da população em janeiro era a seguinte: 25% a consideravam ruim ou péssima e 37% ficavam entre ótima e boa.

Agora os índices nestes itens são de 26% e 36%.

Ou seja: nada mudou.

Na mesma pesquisa, há um item que pode explicar, em parte mas não totalmente, a popularidade da presidente.

Ouvidos sobre a situação da economia, 36% dos brasileiros avaliam como boa e ótima a performance do Governo e 26% como ruim ou péssima.

Embora o ruim e péssimo estejam altos, não se pode negar que o resultado na chamada boca-do-povo é razoável.

Analistas econômicos e sociais costumam pontuar que, quando a economia vai bem, o povo fica satisfeito.

Muitas vezes, mesmo vivendo em uma ditadura.

Quem não lembra dos tempos de chumbo quando o presidente Médici era reverenciado na copa de 70, quando o Brasil foi campeão do mundo e a economia ia bem, quando nas prisões a tortura campeava solta?

Bem, como o cenário econômico este ano já não está bom, é possível que a popularidade de Dilma passe a espelhar a irritação com o desemprego que tende a aumentar somente após as festas do final do ano.

Mas há outra questão a considerar em todo este cenário.

A pesquisa Datafolha expressa que a maioria da população considera que está aumentando a corrupção no Governo.

Se Dilma não está afetada por isso, das duas uma: ou o STF, mandando para a cadeia os mensaleiros, está dando grande alegria à população ou a presidente, que tem deixado crescer a percepção de que a culpa é do PT e não dela, tem passado ao largo desta questão.

Neste caso, a oposição, mantendo a discussão só na questão da corrupção e da economia, pode dar com os burros n`água.

Se a economia realmente continuar em declínio tudo bem, senão terá sido em vão o esforço.

Parece evidente que chegou a hora de descer mais o nível da discussão para o dia-a-dia e mostrar, com todas as letras, que, após 10 anos de PT, a escola não consegue ensinar, a saúde é um caos e a segurança foi pro beleléu.

Essa linguagem o povo parece entender.

E muito bem.

CURTAS Senador - Embora haja uma grande torcida dentro do PSB de Pernambuco e de alguns outros estados para que o governador Eduardo Campos seja candidato a presidente em 2014, também cresce nos meios políticos a convicção de que ele pode ser mesmo candidato a senador, apoiando as candidaturas de Dilma ou de Lula.

Nem tanto assim - A última pesquisa Datafolha que mostrou o governador com apenas 4% das intenções de voto, após meses a fio sendo citado como presidenciável, não causa animação suficiente aos que desejam, desde já, colocar o bloco na rua.

Sucessão estadual - Já é grande o número de pré-candidatos a governador em 2014 na base do governo: o senador Armando Monteiro, pelo PTB; o vice-governador João Lyra, pelo PDT e um nome do PT que, pelas contas do senador Humberto Costa, deve ser o deputado federal João Paulo.

Isso sem falar no PSB que, depois que conquistou a Prefeitura do Recife, dificilmente vai querer abrir mão do Palácio das Princesas.