Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem Por Jamildo Melo, editor do blog A divulgação oficial dos nomes dos secretários do novo governo municipal, realizado nesta manhã de sexta-feira, em Boa Viagem, não causou surpresa, embora muitos já tenham se apressado em classificar o conjunto como pífio, fraco, chinfrim.

Em parte, este sentimento esteja ligado à elevada expectativa gerada pelo socialista na campanha eleitoral, falando sempre em mudança, em inovação.

Na minha avaliação, embora seja verdade que não há grandes estrelas nesta constelação, não é o caso de se desmerecer o conjunto, desde que ele funcione a contento.

A rigor, o perfil do secretariado de Geraldo Júlio atende a dois objetivos básicos, segundo consigo alcançar.

Um deles é cuidar da cidade, de fato, não apenas com slogans, como fazia o PT, deixando a cidade entregue às baratas.

O outro fim é acomodar docemente as raposas do PMDB de Jarbas e Raul Henry, de modo a garantir uma plataforma de apoio cada vez mais ampla ao socialista, nacionalmente.

Quando escrevi aqui, ainda antes do início da campanha, que o PMDB iria fazer uma composição com Eduardo Campos e que Raul Henry era o elo de ligação entre os dois grupos, muitos não acreditaram.

Não deu outra.

Os nomes dos jarbistas estão em destaque no secretariado anunciado agora.

Que seja bom para eles, desde que também seja bom para a cidade.

De olho em jogo nacional, Eduardo Campos pode compor chapa no Recife com PMDB Geraldo Júlio não tem, pelo menos por hora, grandes pretensões eleitorais.

Daí aceitar colocar a prefeitura do Recife a serviço dos voos nacionais de Eduardo Campos, depois de ter recebido de mãos beijadas a Prefeitura do Recife.

Jarbas ajuda Eduardo Campos no plano nacional porque é um nome respeitado nacionalmente.

Assim, caso Eduardo Campos saia candidato a algo, é bom não ter um inimigo com inserção nacional na planície, jogando pedras no seu telhado.

No plano local, nesta parceria, cabe ao ex-prefeito ajudar a tentar fazer o melhor governo possível. É neste contexto que deve ser entendido a reintrodução de figurinhas carimbadas do passado jarbista como Pandolfi e João Braga.

Numa conversa com empresários, logo depois da eleição, o ex-auxiliar de Jarbas reclamava como a manutenção da cidade estava relegada a um segundo plano e como o ex-chefe era obsessivo com esse cuidado.

Assim, não se trata de conservadorismo de Geraldo Júlio, mas sim puro pragmatismo.

Numa adaptação livre dos ensinamentos chineses, não interessa a idade do gato, desde que ele cace o rato.

Além deste grupo político, o que se destaca é o conjunto de técnicos, do governo do Estado ou do TCE, que cuidará do dia a dia da gestão, nas áreas mais chatas, como administração e previdência.

No secretariado anunciado hoje, também chama a atenção o nome de Eduardo Granja, para a área de habitação. É o afago possível ao PT, dividido aqui em Pernambuco.

O nome dele é ligado a João da Costa, que foi escorraçado por uma banda do PT.

Como por debaixo do pano deu ajuda a Geraldo Júlio, na verdade, trata-se de uma retribuição ao gestor que se afasta agora.

De fato, se há uma área em que João da Costa saiu-se muito bem, com louvor, foi a construção de casas populares.

Há uma outra leitura possível, com essa jogada.

Eduardo, com seu raposismo, aposta mais ainda na cisão do PT local, ao privilegiar João da Costa em detrimento dos outros caciques.

Uma parcela significativa da sigla, liderada pelo deputado federal João Paulo e por Humberto Costa, não queria a aliança e poderá protagonizar turbulências.

Os líderes buscaram levar a maioria do diretório municipal a aprovar a posição de independência, mas foram vencidos graças a um racha na tendência de Humberto, a Construindo um novo Brasil (CNB).

A fatia da corrente sob as bênçãos do secretário estadual de Transportes, Isaltino Nascimento, terminou votando pela adesão.

A dúvida agora é saber se, acomodando a legenda na estrutura da máquina municipal, o novo gestor terá ou não problemas.

De todo modo, Geraldo Julio costurou bem, uma vez que a manobra desagradava a partidos da base governista, que consideram que o PT – com a candidatura do senador Humberto Costa – foi para o enfrentamento de forma dura durante a campanha e por isso não mereceria espaço no cobiçado secretariado.