A Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara (CEMVDHC) realiza, nesta quinta-feira (13), às 14h, no auditório do bloco Capunga, do Centro universitário Maurício de Nassau, bairro das Graças, sessão pública para tomar os depoimentos dos ex-presos políticos Carlos Alberto Soares, José Emilson Ribeiro da Silva e José Calistrato.
As ouvidas fazem parte do trabalho da CEMVDHC para esclarecer as circunstâncias dos casos de mortes e desaparecidos durante a ditadura no País.
Os nove representantes da comissão participam da solenidade.
A abertura do encontro é presidida pelo coordenador e ex-presidente OAB-PE, Fernando Coelho.
A sessão é aberta ao público.
Carlos Alberto Soares é único preso político do Brasil a receber duas condenações à prisão perpétua por ter participado de ações armadas.
Natural da Paraíba, mudou-se para o Recife aos quatro anos de idade.
Antes de entrar na clandestinidade, estudava Geologia na UFPE.
Militante do PCBR quando foi preso em 1971 por oficiais do exército, dentro de um ônibus interestadual no Rio Grande do Norte.
Foi levado ao quartel do Exército no RN e, no dia seguinte, enviado com outros companheiros (a esposa, Rosa Maria Barros; Maria Yvone Loureiro - mulher do estudante Odijas Carvalho - e Claudio Gurgel), para o DOPS/Recife.
Momentos depois, foi encaminhado ao quartel do Batalhão de Cavalaria Dias Cardoso, em San Martin.
Já estava respondendo a processo na Auditoria da 7ª Região Militar quando foi retirado e levado ao Quartel da Aeronáutica.
Segundo Carlos Alberto, ele foi barbaramente torturado por jovens oficiais sob as ordens do Cel.
Carlos Alberto Bravo Câmara.
Cumpriu pena na Casa de Detenção do Recife e na Penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá.
Conseguiu transferência para prisão em SP.
Carlos Alberto foi o último preso político solto, em dezembro de 1979, após a anistia, mas mesmo assim em regime de liberdade condicional.
José Emilson Ribeiro da Silva é jornalista.
Preso no Recife pelo delegado Fleury em agosto de 1973.
Era membro da Aliança Libertadora Nacional (ALN).
Passou seis anos e oito meses cumprindo pena em Itamaracá.
Foi retirado da penitenciária, com mais alguns presos políticos, e encaminhado ao Quartel da Aeronáutica, no Recife.
Lá, era realizada uma preleção para jovens oficiais em comemoração ao 31 de março.Os presos políticos eram colocados numa sala onde serviam de cobaias para administração de aula de tortura.
Emilson conta que sofreu torturas físicas e também chegou a ser empalado (método de tortura e execução que consistia na inserção de uma estaca no ânus, vagina ou umbigo até a morte, além de outras formas brutais de agressões físicas).
Atualmente, José Emilson é pesquisador da cultura popular, participa de movimentos sociais e preside o Comitê de Verdade Memória e Justiça da Paraíba.
José Calistrato era militante da Aliança Libertadora Nacional (ALN), em janeiro de 1972, quando foi preso com a queda de um aparelho em Olinda.
Na ocasião, foi morto, durante o tiroteio, João Mendes Araújo (que integra a lista preliminar com nomes de mortos e desaparecidos políticos e que são alvo de investigações da CEMVDHC).
Calistrato foi detido por policiais do DOI-CODI e encaminhado, inicialmente, para o Quartel da PE.
De acordo com Calistrato, os policiais receberam a ordem do comandante para levá-lo de volta ao aparelho e matá-lo, já que o outro também tinha morrido em tiroteio.
Em vez de acatar essa ordem, os policiais seguiram para o DOI- CODI onde conta que foi bastante torturado.
Condenado pela Auditoria da 7ª RM a 86 anos de prisão foi conduzido à Penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá.
Permaneceu preso por oito anos e conseguiu a liberdade depois da Anistia.
Hoje é funcionário público aposentado e um dos dirigentes do Comitê da Verdade Memória e Justiça da Paraíba.