Foto: Marcelo Soares/JC Imagem Por Denis Russo Bugierman Cada um de nós tem uma escolha a fazer sobre como chegar ao trabalho todas as manhãs.
Podemos ir de carro, a pé, de transporte público, de táxi, de moto, de bicicleta.
Há prós e contras para todas as opções. Ônibus é mais barato, mas também não é nenhuma pechincha: em São Paulo, onde a passagem custa R$ 3, um mês de ida e volta de ônibus custa R$ 180 por pessoa, 30% do valor do salário mínimo.
E é infernal: implica muito aperto, muito tempo perdido, muito susto com motoristas estressados… (e quem não se desequilibraria passando o dia no trânsito?). É tão ruim que uma minoria crescente da população opta por ter um carro.
A vida com carro não é boa, mas é muito melhor do que dentro do ônibus.
Os vidros fumê, o ar condicionado e a música ambiente dão a sensação de que está tudo bem, apesar de Sodoma e Gomorra lá fora.
Ter carro é caro: custa mais de R$ 1 mil por mês, se tudo for colocado na conta (impostos, estacionamento, gasolina, depreciação do veículo).
E há vários contras para o resto da cidade: essa opção implica poluição, piora do clima, custos para a saúde.
Além dos usuários de transporte público e carro, há quem prefira caminhar (a escolha mais barata), outros andam de táxi.
E há quem opte pela bicicleta.
Bicicleta só não é mais barato do que caminhar.
E, além do custo baixo, ela é boa para quem pedala (evita obesidade, depressão, doença cardíaca, câncer, melhora o sono, o sexo, a disposição) e para a cidade (reduz o trânsito, não emite poluentes, não piora o clima e reduz gastos públicos com saúde).
A prefeitura de Copenhague calculou que, a cada quilômetro que uma pessoa anda de carro, a cidade gasta R$ 0,30.
A cada quilômetro pedalado por uma bicicleta, a cidade ganha R$ 0,70 (com o incremento do turismo, por exemplo).
Ou seja, abrir espaço para bicicletas é bom para todo mundo.
A boa notícia é que nunca se pedalou tanto.
Só na cidade de São Paulo o número dos deslocamentos de bicicleta subiu de 47 mil por dia em 1987 para 147 mil em 2007 (data das estatísticas mais recentes).
Isso é quase o dobro dos deslocamentos de táxi (78 mil).
Em países bem administrados, os cidadãos são estimulados a escolher aquilo que é melhor para todos.
Na Bélgica, por exemplo, ciclistas pagam menos impostos.
Já no Brasil, pedestres e ciclistas são punidos com a falta de espaço.
O prefeito é o responsável por construir infraestrutura para a cidade.
Ele cobra impostos de todos os habitantes e, com esse dinheiro, tem a obrigação de tornar o espaço público adequado para todo mundo.
Nas cidades brasileiras, a maior parte dos investimentos no espaço público é tradicionalmente voltada para quem anda de carro - o dinheiro que a prefeitura toma de todo mundo é gasto com um só grupo.
Por quê?
Por inércia.
Na nossa cultura política, o que rende voto é obra monumental - basicamente grandes viadutos e avenidas.
Não por coincidência, as empreiteiras que fazem essas obras são as grandes financiadoras das eleições.
Ou seja, o dinheiro doado na campanha volta multiplicado ao bolso de quem “doou”.
Esse ciclo vicioso, por si só, não é o responsável pela quase inexistência de infraestrutura para ciclistas no Brasil, mas ajuda. É que as obras viárias matam dois coelhos dos políticos com uma cajadada só: rendem contratos gordos para os financiadores de campanha e votos, muitos votos.
Mas essa é uma visão caduca.
Não é de hoje que bom urbanismo ganha eleição - e não é exagero concluir que essa tendência vive um auge histórico.
O caso do Bike Rio serve de exemplo.
Trata-se de um sistema de aluguel de bicicletas a exemplo do Vélib´, de Paris: você aluga a bicicleta num ponto e devolve em outro.
Esperavam que o sistema tivesse 7 mil usuários.
Pouco depois da inauguração, em outubro de 2011, eram 45 mil.
Moral da história: construa uma boa infraestrutura, e a bicicleta como meio de transporte virá - para o bem de todos.
Olhar com atenção para esse assunto não é só uma questão de urbanismo, inclusive, mas de segurança pública.
Em março, a ciclista Juliana Ingrid Dias morreu esmagada por um ônibus na Avenida Paulista, em São Paulo.
Ela foi uma entre os 3 ciclistas mortos no Brasil naquela semana.
José Carlos Lopes, o motorista do ônibus que a matou, disse que a conhecia, que a via todos os dias, que ela era consciente, cuidadosa, educada, “tinha noção do espaço dela”.
Mas não havia espaço para ela.
E enquanto a visão urbanística dos nossos prefeitos continuar míope, as mortes não vão parar.