Nem o cansaço dos 99 anos de idade impediu Elzita Santa Cruz de participar da cerimônia de instalação da Comissão Estadual de Memória e Verdade Dom Helder Câmara, no dia 1º de junho deste ano, no Palácio do Campo das Princesas.
Na ocasião, ela emocionou os presentes ao ler versos escritos por uma mãe que viu seu filho partir para a Guerra do Paraguai e não voltar: “Ei de vê-lo voltar ela dizia meu doce consolo, meu filhinho o véu do esquecimento baixando sobre as coisas tudo apaga menos da mãe no triste isolamento a saudade que o coração lhe esmaga”, recitou.
Elzita é mãe do estudante pernambucano Fernando Santa Cruz, que desapareceu durante a ditadura militar, no Rio de Janeiro.
Desde então, ela busca informações sobre seu paradeiro, um dos casos investigados pela Comissão Estadual da Memória e Verdade.
A saga de Elzita reflete as marcas deixadas pelo regime militar e virou tema do livro que será lançado nesta quinta-feira (22), às 19h, no Museu do Estado de Pernambuco, nas Graças, Zona Norte do Recife.
O título não poderia ser outro: “Onde está me filho?” (Cepe Editora, 317 páginas). “A obra foi feita originalmente em 1984, para lembrar os 10 anos do sumiço de Fernando.
Na época, a ideia era fazer apenas um panfleto, que depois virou um folder e mais tarde, um livro”, explicou o jornalista Gilvandro Filho, um dos seis autores da publicação, em entrevista ao Jornal do Commercio.
Ele é relator do Grupo de Trabalho do JC e editor interino do Blog de Jamildo.
Além de Gilvandro, assinam a publicação os também jornalistas Chico de Assis, Cristina Tavares, Jodeval Duarte e Nagib Jorge Neto, além da advogada Glória Brandão.
Fernando Santa Cruz desapareceu em 1974, aos 26 anos.
Era casado com Ana Lúcia e tinha um filho, Felipe.
Ele foi preso junto com Eduardo Collier Filho, no 23 de fevereiro de 1974, em Copacabana, no Rio de Janeiro, por agentes do DOI/CODI-RJ.
Logo em seguida, seu apartamento foi invadido pelos órgãos da repressão.
No dia 14 de março do mesmo anos, buscando saber do paradeiro de Fernando e Eduardo, as duas famílias foram ao DOI-CODI/SP, cujo carcereiro de plantão, conhecido como “Marechal”, confirmou que os dois jovens estavam presos ali, só podendo receber visitas no domingo, dia 17.
Foram deixados objetos de uso pessoal para eles, que foram devolvidos, depois, com a justificativa de que se tratava de um engano, pois os dois não estavam ali.