Por Débora Duque, do Jornal do Commercio Passado um mês do primeiro turno, o clima ainda é de “ressaca eleitoral” na Câmara do Recife.

O ritmo dos trabalhos legislativos segue lento.

As sessões, muitas vezes, não chegam a durar nem 30 minutos.

A pauta de votação tem sido composta majoritariamente por requerimentos.

Desde o mês de agosto que um projeto de lei não é apresentado na Casa.

O que mais chama atenção, porém, é a baixa assiduidade dos vereadores, principalmente, daqueles que não conseguiram renovar o mandato no último pleito.

Nas últimas quatro sessões, metade das cadeiras do plenário estava vazia.

Sérgio Magalhães (PSD), por exemplo, protagoniza o caso mais emblemático.

Depois de ter sido derrotado nas urnas no dia 7 de outubro, ele não compareceu a nenhuma das 13 sessões realizadas desde então.

O seu gabinete, localizado no segundo andar da Casa, está sem movimento e trancado com cadeado.

Procurado pelo JC, o vereador alegou que resolveu tirar esse período (30 dias) para “descansar” e “arrumar a cabeça” após a campanha.

Ressaltou, no entanto, ter encaminhado três pareceres da Comissão de Educação que estavam pendentes e garantiu que voltará a frequentar a Casa a partir de desta segunda-feira (12).

A lógica de Magalhães foi seguida por outros vereadores.

Embora faltem menos de dois meses para o início do recesso, alguns aproveitaram para a viajar ao exterior a fim de descansar do corre-corre da campanha.

Depois de ter sido, novamente, o campeão de votos da Câmara, André Ferreira (PMDB) só foi a duas sessões e viajou, no dia 31 de outubro, para os Estados Unidos, onde ficará por 15 dias.

Maré Malta (PSD) que, ao contrário do peemedebista, não conseguiu se reeleger, esteve por dez dias no mesmo destino.

Já Gilberto Alves (PTN), também reeleito, viajou para a França e Inglaterra no dia 31 e só volta no dia 14 de novembro.

Quem também engrossa a lista de faltosos é o vereador Gilvan Cavalcanti (PSD), que não renovou o mandato.

Ele não foi a nove das 13 sessões realizadas e, ao ser questionado pelo JC sobre o motivo das ausências consecutivas, informou que não iria se pronunciar. “Tenho dois mandatos e nunca me procuraram para falar de algo positivo.

Prefiro não me pronunciar”, disse, por telefone.

O caso do vereador Alexandre Lacerda (PRTB) é ainda mais curioso.

Ele faltou oito vezes no último mês, não saiu vitorioso da eleição, mas partiu, na última quinta-feira (7), para Florianópolis (SC), onde participará de um curso de formação voltado para vereadores, prefeitos e vice-prefeitos.

Detalhe: com direito a R$ 2.500 em diarias custeadas pela Câmara, além de R$ 390 referentes à inscrição no evento. “Eu não me reelegi, mas não morri não.

Preciso me aperfeiçoar”, argumentou Lacerda, por telefone.

O JC procurou o presidente da Câmara, Jurandir Liberal (PT), para saber o motivo pelo qual a Casa havia liberado recursos financiar a “formação” de um vereador que estava a menos de dois meses de terminar o mandato.

O petista argumentou que a autorização fica a cargo do primeiro-secretário, Augusto Carreras (PV).

Carreras, no entanto, não atendeu às ligações.

Responsável por comandar as finanças do Legislativo, ele, aliás, está na lista dos mais faltosos do mês pós-eleição.

Só compareceu a quatro das 13 sessões e é alvo de queixas constantes dos colegas que reclamam da dificuldade em contactá-lo.

Até funcionários da Casa relatam o mesmo problema.

Seu comportamento “inacessível”, como classificam alguns vereadores, é encarado como um dos obstáculos a sua recondução à primeira-secretaria na próxima legislatura.

A relativa facilidade com que os vereadores se ausentam das sessões – ou resolvem “folgar” em pleno período de atividade legislativa e fora dos dois recessos anuais a que têm direito – pode ser atribuída ao descumprimento generalizado do regimento interno da Câmara.

Em tese, os vereadores deveriam ter 1/30 do salário descontado para cada falta não justificada.

Pela normas, as ausências só devem ser “abonadas” em caso de doença, missão oficial, casamento ou falecimento de um familiar.

Os critérios, no entanto, não são aplicados na prática.

Segundo relato dos próprios vereadores, as remunerações não costumam ser descontadas, independente do motivo do não comparecimento.