Por Terezinha Nunes Desde que saiu de Pernambuco ainda criança a bordo de um pau-de-arara, e acabou se tornando Presidente da República, Lula virou uma espécie de “Rei Midas” no Nordeste.

Aquele que, como na lenda, teria o poder de transformar em ouro tudo o que tocasse.

Claro que o simples fato de ter nascido em Caetés ou o simbolismo de ter saído da classe dos imigrantes nordestinos para a elite política do país não seria suficiente para fazer de Lula um vice-rei nordestino.

Foi fundamental nisso o fato de ter universalizado o bolsa família, distribuindo dinheiro público para as pessoas mais pobres, e de ter, de forma clara, usado este programa para multiplicar os votos no meio de pessoas acostumadas a ser manobradas por políticos inescrupulosos que, ainda hoje, compram votos com dinheiro vivo,na véspera das eleições.

Até pouco tempo atrás, falar simplesmente no nome de Lula era a senha no Nordeste, inclusive nas capitais, para fazer um candidato vitorioso por antecipação ou derrotado de véspera.

Em Pernambuco, por exemplo, Lula virou sozinho o jogo sucessório em 2006, depois de ter ajudado o PT a eleger seguidamente o prefeito da capital.

O candidato do DEM a governador naquele ano, Mendonça Filho, estava praticamente eleito no primeiro turno quando o ex-presidente chegou ao estado, via Petrolina (município sertanejo), e uma semana depois as pesquisas já indicavam o candidato do PT, Humberto Costa, encostado em Mendonça.

Humberto acabou vitimado pelas denuncias sobre o escândalo dos vampiros e quem foi para o segundo turno junto com Mendonça foi o candidato do PSB, Eduardo Campos, um lanterna no pleito.

No segundo turno, novamente Lula, na televisão e nos comícios, garantiu a vitória de Eduardo.

Isso aconteceu em vários estados, compensando a dificuldade do PT de se firmar no eleitorado do Sul e do Sudeste.

Tanto Lula quanto Dilma tiveram no Nordeste em torno de 70% dos votos.

Nesta eleição municipal, porém, o PT e Lula amargaram derrotas acachapantes na região.

O PT, que usou o ex-presidente como cabo eleitoral em Recife, Salvador, Fortaleza e João Pessoa, só ganhou a eleição nesta última capital, uma das menores da região.

Em São Luís ganhou o pequeno PTC, o PSDB venceu em Teresina e Maceió, o DEM em Salvador e Aracaju, o PSB em Recife e Fortaleza e o PDT em Natal.

Em Recife Lula não compareceu a pedido do governador Eduardo Campos que, mediante este compromisso, fez o seu PSB apoiar Fernando Haddad em São Paulo.

Mas o ex-presidente estava diariamente na televisão pedindo votos para o candidato a prefeito do PT, senador Humberto Costa, que acabou em terceiro lugar.

Na sua frente chegaram o prefeito eleito Geraldo Júlio, do PSB, e o tucano Daniel Coelho.

Em Salvador Lula tentou colocar ACM Neto no canto do ringue dizendo que ele havia ameaçado dar-lhe uma surra.

Pensava Lula em ver os pobres se armarem na periferia e aplicar, aí sim, uma surra de votos em ACM.

Deu no que deu.

O que teria levado Lula a esta derrota nordestina?

O mensalão, as promessas não cumpridas e as obras inacabadas, além da crise econômica que está quebrando prefeituras que vivem exclusivamente do FPM, agora menor, para favorecer a venda de automóveis fabricados no Sudeste, podem explicar esta derrocada.

O certo, porém, é que Lula não manda mais sozinho na área mais pobre do país.

Para fazer campanha agora terá que “combinar com os russos”, como dizia Mané Garrincha.

CURTAS Mulher bomba – Nesta período em que as mulheres avançam na conquista de cargos públicos causa apreensão a situação da prefeita de Natal, Micarla de Souza, afastada do cargo por irregularidades, depois de uma acachapante derrota nas urnas.

Isso demonstra que o eleitor não vai proteger as mulheres no poder.

Pode defenestrá-las, assim como faz com os homens, se não corresponderem ao que delas se espera.

Sem votos – A abstenção na eleição deste ano chegou a 19,11%, só comparável à de 1996, quando foi implantada a urna eletrônica e os chamados “eleitores fantasmas” desapareceram dos cadastros do TSE.

A abstenção de hoje tem várias explicações entre elas o desencanto com a classe política, após os vários escândalos descobertos, em especial, o do mensalão.

E, pelo visto, não foi só o PT que pagou.

Os políticos em geral perderam credibilidade.

Protestos – Acendeu a luz amarela na área de pessoal do Governo do Estado.

Na semana passada o protesto foi dos funcionários admitidos por contratos temporários.

Agora é toda a categoria que faz greve de advertência de 24 horas.

E é porque o PT, por enquanto, ainda está base do governador Eduardo Campos, mesmo que magoado.

Ausência – Esta coluna vai deixar de ser publicada durante duas semanas em função de viagem da titular.