Por Manuela Dantas, especial para o Blog de Jamildo “Quando “oiei” a terra ardendo Qual a fogueira de São João Eu perguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação…” (Trecho da música Asa Branca de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) Chico há de ficar meio cismado comigo, já que ultimamente tenho passeado por outras inspirações, mas como não atender ao pedido de leitores para homenagear o centenário do nosso Rei do Baião!

Pois bem, solicitação aceita, o Rei do Baião encabeçará a partir de agora a nossa coluna de acessibilidade até o final de 2012!

O nosso rei merece, ele que enfrentou com sabedoria o preconceito, a pobreza, a seca, a cidade grande, o frio, o medo…

E por fim, transformou-se no símbolo do Nordeste para o País, fez o nordeste e Pernambuco falar para o mundo e se transformou no nosso orgulho, no nosso rei, devolveu a alto-estima ao nosso povo numa época tão sofrida, tão miserável…

Gonzagão nos devolveu as nossas asas para voar alto, para pensar grande, para fazer mais do que o possível para melhorar a nossa vida, para devolver a esperança ao nosso povo, para a nossa gente tão forte, tão batalhadora, tão generosa, mas também tão carente, tão necessitada, tão esquecida…

Luiz foi a voz do nosso povo excluído e marginalizado por um sistema que enxergava apenas o brilho econômico do sudeste do País, mas que se manteve forte para agora despontar para o mundo.

Por isso, por hora, desculpe-me Chico, mas o velho Gonzagão brilhará nos próximos artigos, fazendo “lumiar” as trevas da exclusão da nossa gente com deficiência, ou como diria o amigo Manuel, do nosso povo com necessidades específicas.

Pegando uma carona na Asa Branca de Gonzagão, o Movimento Recife Acessível resolveu adotar as calçadas do Recife e da Região Metropolitana do Recife para ser a sua primeira grande bandeira e lançou o programa “CALÇADAS DA GENTE”.

Assim, no dia 24/10/12 o MOVIMENTO RECIFE ACESSÍVEL apresentou o programa “CALÇADAS DA GENTE” ao Secretário das Cidades do Governo de Pernambuco, Danilo Cabral, com o intuito de colaborar com a implantação de melhorias da circulação de pedestres na rede viária do Estado de Pernambuco, proporcionando a circulação segura e inclusiva a todos os cidadãos.

As justificativas para lutar pela implantação de um programa de requalificação das calçadas são visíveis, ademais, considerando que, hoje, aproximadamente 32% da população de Recife, Olinda, Jaboatão e Camaragibe fazem sua viagem exclusivamente a pé e que o usuário do transporte coletivo também faz parte do percurso a pé, podemos considerar que 68% da população circulam nas calçadas da Região Metropolitana do Recife e necessitam de calçadas adequadas, seguras e inclusivas.

Com efeito, o programa “CALÇADAS DA GENTE” prevê a realização de intervenção nas calçadas nos principais eixos de transporte coletivo e nas instituições públicas estaduais, federais e municipais do Estado de Pernambuco com a finalidade de gerar o aumento da qualidade de vida com uma paisagem urbana mais agradável para todos, como também para garantir a Acessibilidade às pessoas com deficiência, idosos e gestantes.

Não à toa, o programa “CALÇADAS DA GENTE” também prevê a elaboração de um trabalho de comunicação e divulgação, a fim de conscientizar os cidadãos pernambucanos da importância de garantir a acessibilidade a todos.

No mais, toda a sociedade civil já clama por melhorias das calçadas, basta abrirmos diariamente os jornais e lermos nas demandas dos leitores, a onipresença de reclamações sobre as calçadas, apenas para ilustrar seguem alguns desses relatos: - No dia 1º de setembro de 2012, o Manoel Limoeiro escreveu no Jornal do Commercio: “Lamento muito a situação do LIXO NA CALÇADA da Escola Estadual Pintor Lauro Villares na Rua Professor Artur Coutinho, na roda de fogo.

A via pública está tomada por essa nojeira, onde se alimentam ratos e baratas”; - No dia 29 de setembro de 2012, o Wlademir Lacerda de Moura escreveu no Jornal do Commercio: “Como se não bastasse o descaso com o Cais da Aurora, revitalizado nas gestões passadas, a degradação também chegou ao notório casario, imortalizado nos cartões postais, cujas CALÇADAS NÃO RESISTIRAM AO ABANDONO DA PREFEITURA.

VÁRIOS PONTOS APRESENTAM ESGOTO ESTOURADO”; - No dia 29 de setembro de 2012, a Viviany Patricia de souza Alessi escreveu no Jornal do Commercio: “Tiraram o acesso aos deficientes físicos no piso superior do Centro de Convenções porque o Palácio do Governo está instalado provisoriamente lá.

Só nos resta apelar para as pessoas de bom coração a nos arrastar naquela infindável rampa ou nos guinchar nas escadarias.

Não há elevadores.

Só escadas e aquela rampa que qualquer pessoa que não tenha problema algum sofre ao subir.

Resultado disso: não pude participar de um evento porque fui só.

Não me deram nenhuma alternativa.

Os seguranças não me permitiram subir com o meu carro.

Até onde cheguei me ofertaram a mão de ajuda.

Não quero mão.

QUERO O MEU DIREITO DE IR E VIR RESPEITADO”; - No dia 6 de outubro de 2012, o JC nas Ruas escreveu no Jornal do Commercio: “Trecho de 1Km de CALÇADA no Caxangá Golf Club, na Avenida Caxangá, NÃO OFERECE MOBILIDADE NEM SEGURANÇA.

Além de ser de barro e ter montes de lixo como obstáculos, à noite as luzes não acendem, o que facilita assaltos, como relata o leitor Alexsandro Leite.

A legislação do Recife cobra do proprietário a responsabilidade sobre a calçada onde está seu imóvel, mas a prefeitura também tem que garantir a iluminação e a limpeza”; - No dia 7 de outubro de 2012, o Francisco da Cunha escreveu no Jornal do Commercio: “Tentam resolver o problema da mobilidade dando prioridade aos carros.

Quando, na verdade, o pedestre é que deve ser respeitado antes de tudo.

Mas AS CALÇADAS DO RECIFE SÃO UMA LENDA URBANA.

As que existem estão, na maioria, destruídas, sem cuidado, usadas até como estacionamento”; - No dia 27 de outubro de 2012, o JC nas ruas escreveu no Jornal do Commercio: “Cena comum na Avenida Rosa e Silva, em frente à escola de idiomas ABBA: CARROS ESTACIONADOS NA CALÇADA.

Motoristas param sem cerimônia, os pedestres, principalmente, os com dificuldade de locomoção, que se virem.

Alô, CTTU!”; - No dia 27 de outubro de 2012, o Paulo Guimarães escreveu no Jornal do Commercio: “Muito se tem falado sobre mobilidade, direito de ir e vir, etc.

Nos últimos anos, os prefeitos do Recife não deram importância às praças da cidade, principalmente as dos bairros mais distantes, como é o caso da Praça Pinto Damásio, na Várzea. É só dar uma olhada na imagem e constatar a quantidade de BARRACAS INSTALADAS NAS CALÇADAS”; - No dia 28 de outubro de 2012, o JC nas ruas escreveu no Jornal do Commercio: “É uma rua, mas parece depósito de lixo.

Eis o cenário encontrado na Rua Bolivar, no Arruda, próximo ao Estádio José do Rêgo Maciel.

MAL EDUCADOS JOGAM O QUE BEM ENTENTEM NA CALÇADA, QUE AINDA POR CIMA FICA OBSTRUÍDA, A EMLURB SABE DISSO?”.

Não por acaso, a campanha “O Recife que precisamos”, idealizada pelo Observatório do Recife está ganhando cada vez mais adeptos para discutir e propor soluções para o ordenamento na cidade, planejamento para o futuro, melhoria da mobilidade, preservação da história e recuperação e uso do Rio Capibaribe.

Para não dizer que não falei de flores, li no Jornal do Commercio de 6 de outubro um exemplo relevante de boa prática da ação de órgãos, entidades e sociedade civil em Petrolina, lá o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) iniciou um procedimento com participação da sociedade e dos poderes executivo e legislativo para recuperar o bem público em beneficio da população, garantindo que praças e calçadas ocupadas por bares, quiosques e pequenos estabelecimentos comerciais se adequem ao interesse público, garantindo a acessibilidade dos cidadãos e mobilidade coletiva.

Ademais, a recuperação de todo o passeio público na extensão que margeia o Rio São Francisco estão dentro das normas de acessibilidade.

Outro bom exemplo acontece em Caruaru em que as faixas elevatórias, uma mistura de lombada e faixa de pedestre que permite a travessia no mesmo nível das calçadas, de forma mais segura e rápida, começaram a ser instaladas nas ruas da cidade.

Serão aproximadamente 30 faixas nos locais com maior circulação de pessoas, essas faixas ajudam a todos os pedestres, mas, principalmente, a pessoas com deficiência.

Não obstante esses bons exemplos em Pernambuco, observo preocupada a degradação urbana do Recife, com os olhos de quem passou 8 anos fora da cidade e voltou para comprovar uma realidade de autodestruição rápida da minha linda e amada cidade.

A degradação se alastra pelo Recife, como uma doença autoimune que se propaga rapidamente: calçadas mutiladas, praças mal cuidadas e insuficientes, engarrafamentos diários, insuficiência de transporte público, ausência de planejamento, exclusão social, ausência de um plano de mobilidade urbana integrador da cidade, violência urbana, a epidemia do crack e a inexistência de projeto de cidade no sentido de construção da cidadania.

Por fim, pego carona na Asa Branca do velho Gonzagão e clamo a sociedade pernambucana e Recifense para nos unirmos em prol do bem comum, essa participação maciça da sociedade nos movimentos sociais pode ser o grande diferencial para construirmos junta a cidade que precisamos, a cidade que queremos…

Podemos ser os agentes dessa transformação que grita, que ecoa no Recife, como expressa Francisco Cunha do Observatório do Recife, com propriedade: “Não podemos assistir passivamente ao que está acontecendo com o Recife.

Quanto mais pessoas engajadas, maior a possibilidade de mudança” Com efeito, findo o artigo com as palavras de Geraldo Vandré: “Vem, vamos embora que esperar não é saber.

Quem sabe faz a hora não espera acontecer” Por isso amigos, uni-vos, saquem seus notebooks, computadores, ipads, iphones, celulares e se engajem nos debates e na construção das soluções para o crescimento da cidadania no Recife.

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