O presidente da Chesf, João Bosco, ficou em um imprensado danado com o apagão desta quinta-feira.
Os jornais tiveram grande dificuldade de ouvir explicações dele sobre a queda de energia na região, na madrugada desta quinta-feira.
Não era para menos.
Como o PSB controla a Chesf e está na base do governo Dilma, qualquer palavra do dirigente mal interpretada poderia soar como um ataque ao governo Dilma, uma vez que o governador Eduardo Campos tem sido tratado como presidenciável em 2014.
João Bosco deve ainda andar pisando em ovos, uma vez que o sindicalismo ligado ao petismo pode abrir fogo a qualquer momento, caso Eduardo Campos já tivesse assumido qualquer projeto nacional.
Curiosamente, me lembro da imagem do ex-governador Miguel Arraes, posicionando-se contra a possibilidade de privatização da Chesf, no governo FHC, afirmando que “o rio São Francisco era do povo”.
Do “polvo” ou seria dos barrageiros?
A disputa por espaços de poder, no meio energético, rola solta desde que a presidenta anunciou a intenção de reduzir as tarifas de energia.
E é claro e cristalino que essa briga vai desembocar na sucessão de 2014.
No meio deste mês, além da carta encaminhada à presidenta Dilma Rousseff, os sindicalistas do setor e suas infinitas representações chegaram a enviar cartas públicas sobre o pacote de redução das tarifas do setor elétrico aos deputados e senadores do Nordeste.
CARTA AOS DEPUTADOS E SENADORES Aos Excelentíssimos Senhores Deputados e Senadores, 1.
As entidades do setor elétrico vêm alertar aos excelentíssimos senhores deputados federais e senadores a iminente destruição da Companhia Hidro Eletrica do São Francisco (CHESF) como indutora do desenvolvimento regional, transformando-se em mera prestadora de serviços. 2.
A decisão política do Governo Federal de reduzir as tarifas de energia elétrica é altamente positiva para os interesses nacionais, inclusive utilizando-se para isto a oportunidade do final do prazo de concessão de inúmeras instalações do sistema, bem como o fato de que grande parte de tais instalações pertencem a empresas estatais, constituindo patrimônio público que assim seria usado como meio para promover benefício a toda a sociedade. 3.
Entretanto, as entidades do setor elétrico consideram que seria um grande equívoco que esse objetivo de reduzir momentaneamente as tarifas venha a ser alcançado com a destruição simultânea do patrimônio inestimável representado por empresas estatais federais (CHESF, FURNAS, ELETRONORTE, ELETROSUL etc.) e estaduais (CEMIG, CESP, COPEL etc.). 4.
A redução de tarifas na forma proposta asfixiará financeiramente estas empresas.
Na CHESF, por exemplo, o MWH será reduzido de R$ 92,00 (médio) para R$ 30,00 (ou menos), o que inviabilizará completamente a empresa, que não terá condições de arcar com os custos de operação e manutenção e demais tarefas associadas, tais como: engenharia, contenciosos cível e trabalhista, benefícios aos empregados e modernização de instalações.
Estudos realizados por técnicos da CHESF demonstram que o valor mínimo do MWH para a cobertura de todos estes gastos seria de R$ 67,00 (valor do Leilão de Telepires).
Caso venha mesmo a ser assinado contrato entre a CHESF e a ANEEL com o MWH no valor de R$ 30,00 será posto em risco a operação e manutenção do sistema, que atualmente já funciona com manutenção preventiva bastante reduzida. 5.
As demonstrações financeiras e relatório da administração da CHESF – Exercício 2011, informam um total de ativos não amortizados da ordem de R$ 14 bilhões de reais.
No entanto, fala-se em uma indenização de apenas R$ 6 bilhões, ou seja, a CHESF perderá R$ 8 bilhões de reais. 6.
Somado ao estrangulamento financeiro com o MWH a R$ 30,00 e a perda de R$ 8 bilhões em ativos não amortizados, denunciamos também outra ação de desmantelamento da CHESF, através da reestruturação da ELETROBRAS.
Com esta “reestruturação”, a ELETROBRAS poderá absorver atribuições próprias da CHESF (mobilidade de quadro), sobretudo da área de engenharia, logística, administração, finanças e suprimentos, funções exercidas pela empresa regional (CHESF). 7.
Entendemos que cada uma dessas empresas tem em sua área de atuação importância ímpar, pela responsabilidade e ações destinadas a toda sociedade, sejam essas ações de caráter social, cultural, financeiro, seja com a absorção dos profissionais formados pelas universidades e escolas técnicas da região, seja na organização, provimento e assessoramento de comunidades carentes e afetadas por elas, seja na distribuição de patrocínios para os artistas locais, seja na geração de postos de trabalho, cada uma dessas empresas age de forma a promover o desenvolvimento regional onde está inserida e que essas ações têm sido tomadas desde a fundação dessas instituições, formando na memória viva da população uma identidade, uma referência e objetivo a ser alcançado. 8.
Isto posto, as entidades que assinam a presente mensagem, após amplo debate, e tomando a CHESF como exemplo, por ser a primeira a sofrer tais conseqüências, esperam o APOIO dos deputados federais e senadores para esta luta fundamental, sobretudo nos seguintes pontos: a) A CHESF não deve ser esvaziada e deve continuar desenvolvendo no Nordeste as funções de engenharia, logística, administração, finanças e suprimentos, para tanto deve continuar a prover postos de trabalho de qualidade para absorver a mão de obra formada pelas escolas, faculdades, universidade da região; b) A CHESF deve continuar a comandar projetos de desenvolvimento humano e socioeconômico nas áreas de influência de suas hidrelétricas e na região nordeste como todo, e dessa forma continuar a desempenhar o papel de indutora da cultura e fomentadora do avanço tecnológico no Nordeste, por meio, por exemplo, de patrocínios e projetos de pesquisa e desenvolvimento.
Onde não podemos esquecer a dívida histórica da empresa e do Governo Federal para com as populações afetadas, tais como Itaparica, Paulo Afonso e Sobradinho, onde temos os atingidos por barragens, acampamentos, hospitais e escolas da região que não podem ser simplesmente abandonados.
No projeto de reassentamento de Itaparica, por exemplo, a CHESF investe anualmente cerca de R$ 71 milhões de reais e, em Paulo Afonso, investe anualmente cerca de R$ 31,8 milhões com o Hospital Nair Alves de Souza, que atende a população de Paulo Afonso e cidades vizinhas. c) Uma justa indenização dos ativos não amortizados, obedecidos os valores anualmente apresentados nos balanços da CHESF, bem como que os recursos da indenização permaneçam no Nordeste e, obedecidas as determinações e diretrizes do Conselho de Administração e da assembleia de acionistas da empresa, sejam utilizados pela CHESF em projetos de expansão da geração e transmissão, em benefício da região. 9.
Por fim, a Federação Regional dos Urbanitários do Nordeste (FRUNE) e Intersindical/NE colocam-se a disposição, inclusive com equipe técnica, para os devidos esclarecimentos e aprofundamentos necessários sobre esta questão crucial para o Nordeste. 10.
Seguem anexos “Carta a Presidente Dilma” e “Carta de Acionista da CHESF”.
Atenciosamente, Edvaldo Gomes de Souza Presidente FRUNE