Foto: Clemilson Campos/JC Imagem Da Agência Estado Nos últimos anos, o PSDB tem vivido uma situação mais de torcedor do que de protagonista, onde os fatos se desenvolvem indiferentes aos desejos e prognósticos do partido.

Os tucanos têm errado tão sistematicamente que chega-se a desconfiar que errar seja uma estratégia.

O primeiro erro de avaliação do PSDB ocorreu em 2002, ao acreditar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não seria capaz de se reinventar.

Duvidar do “Lulinha paz e amor”, depois jurar que o petista não conseguiria governar e que seu governo seria um desastre.

Quando perceberam que não seria bem assim, passaram a acreditar que o escândalo do mensalão falaria por si.

Além disso, a “barbada” que seria vencer Lula, em 2006, acabou se revelando uma bravata.

A avaliação é do cientista político e professor do Insper Carlos Melo.

Para Melo, há também o fato de que no segundo mandato de Lula, os tucanos não acreditaram no poder simbólico do PAC.

E cita outros exemplos de como alguns fatos transcorreram de forma oposta ao diagnóstico dos tucanos, como “o anunciado caos de 2008”, quando pregaram que o PT finalmente enfrentaria uma crise de verdade e a maré de sorte terminaria, a descrença com a então candidata e afilhada política de Lula, a atual presidente Dilma Rousseff, e, mais recentemente, a aposta no que se acredita ser as diferenças entre Lula e Dilma ou o rompimento entre “criador e criatura”.

Eduardo Campos Nessa linha, Carlos Melo diz que, no momento, a nova aposta atende pelo nome do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB. “Ele é um dos vitoriosos destas eleições municipais: duplicou o números de administrações, vencendo em capitais importantes.

Além de tudo, é sangue novo.

Em virtude disso, aposta-se nos conflitos, reais, entre PSB e PT.

Imagina-se que, de alguma forma, o governador se bandeará para a oposição.” O cientista político destaca que, evidentemente, não se pode afirmar que Eduardo Campos não saltará do governismo. “Como tudo na política, isto depende das circunstâncias.

A começar pelas circunstâncias econômicas de 2014.

Como estará o País, e, por decorrência, a presidente Dilma Roussef.

Contudo, acredita que se forem mantidas as atuais condições, sobretudo, os altos níveis de emprego, é possível que a presidente chegue bastante competitiva à eleição, talvez favorita.” E se isso se confirmar, questiona: “Por que Campos sairia do governismo?” Com relação às cidades nas quais o PSB se descolou do PT neste pleito, como Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, Carlos Melo avalia: “Em Recife, o PSB estaria com o PT se o PT não fosse o PT que se mostrou em Recife.

Lá, os petistas desalojaram seu próprio prefeito, um desastre de popularidade.

Em Belo Horizonte não dava para descartar o apoio à reeleição de Márcio Lacerda, um prefeito bem avaliado.

Em Fortaleza, a disputa se deu entre PT e o clã dos Gomes.

Onde realmente importava, para Lula e Dilma, Campos esteve presente: em São Paulo, aliás, interveio no PSB.

No mais, como esquecer a folha de serviços prestados: retirar Ciro da disputa, em 2010, não foi irrelevante.” O professor do Insper diz que Eduardo Campos aumentou seu poder, elevou seu cacife e, por decorrência, sua capacidade de articulação e influência. “Foi necessário para estabelecer outro patamar de diálogo com o PT e seus aliados. É o jogo.

As circunstâncias podem levá-lo para qualquer lugar, é claro.

Elas são soberanas.

Mas, não convém acreditar que se darão, necessariamente, do modo que gostaríamos.

A história, sobretudo a história recente do PSDB, tem demonstrado autonomia em relação à esperança.

Então, melhor agir ao invés de torcer.”