O prefeito eleito de Igarassu, Mário Ricardo, do PTB, revelou ao Blog de Jamildo, nesta tarde, que vai ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), na próxima semana, para discutir a possível remoção de parte do acervo da Pinacoteca de Igarassu que provoca uma disputa entre religiosos da cidade e Olinda.
A Igreja da Sé exige da Pinacoteca de Igarassu a devolução de peças seculares.
O prefeito diz que não vai permitir. “As obras fazem parte do patrimônio de Pernambuco.
Vamos falar com o Iphan e com Dom Saburido.
Nós temos as igrejas mais antigas do Brasil e vamos investir no turismo religioso, bem como no turismo náutico.
Não podemos perder esse patrimônio.
Também vamos retomar a Coroa do Avião, pois Itamaracá não está nem recolhendo o lixo lá”.
Mesmo reconhecendo que não nem banheiros para os visitantes, o novo prefeito reclama que não há projeto para a Copa do Mundo de Futebol, para receber e mostrar a história das cidades. “Estamos atrasados.
A Copa está praticamente aí”, disse.
A polêmica em torno das obras veio a público no começo de setembro, a partir de uma reportagem de Cleide Alves, no caderno de Cidades do JC.
O texto mostrava que o Museu Pinacoteca de Igarassu, inaugurado há 55 anos, estava ameaçado de perder metade do seu acervo.
A Catedral da Sé, em Olinda, proprietária de 12 quadros, havia solicitado a devolução das peças.
O impasse começou há cerca de cinco meses antes daquela data, logo após a Semana Santa, quando o reitor da igreja visitou o Convento de São Francisco, onde funciona o museu, e descobriu a origem das pinturas.
Disposto a reaver as artes sacras, monsenhor Albérico Bezerra, o reitor, oficializou o pedido no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Mas os quadros da Catedral da Sé, na Cidade Alta de Olinda, foram levados para o Centro Histórico de Igarassu há 63 anos.
E a pinacoteca não quer perder as pinturas. “Recebemos 11 quadros, em 1949, porque a Sé não tinha condições de mantê-los em bom estado de conservação.
A transferência atendeu a um programa federal de interiorização do turismo e também serviu para proteger o patrimônio”, diz Inaldo Félix, professor de história e guia da pinacoteca.
A 12ª peça só chegou em Igarassu, município ao Norte do Grande Recife, em 1985.
Dos 12 painéis, três retratam cenas da via-sacra, na técnica de óleo sobre madeira. “São do princípio do século 17, podendo ser do fim do século 16”, diz o superintendente do Iphan em Pernambuco, Frederico Almeida.
Um deles está incompleto e ficou desaparecido por mais de 90 anos.
Encontrado em 1985, numa obra de restauração na Sé, servia de suporte para outro quadro.
Próximas Os nove restantes são representações de santos, sendo quatro mártires: Santo Otaviano, Santo Abdecalas, São João Nepomuceno e Santa Quitéria (única com pintura a têmpera). “As peças chegaram em 1949, mas a pinacoteca só seria aberta oito anos depois, em 1957, quando a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) conseguiu recursos para restaurar os quadros”, diz Inaldo Félix.
Localizado no primeiro andar do prédio do Convento de São Francisco, o museu pinacoteca é composto de 24 painéis.
Os outros 12 pertencem ao município.
Há pinturas sobre a chegada dos portugueses em Igarassu no século 16, a batalha de luso-brasileiros contra holandeses no século 17, um surto de febre amarela que acomete o Estado de Pernambuco (exceto Igarassu) e a fundação da Igreja dos Santos Cosme e Damião. “O museu é uma referência internacional do turismo, recebemos escolas públicas e particulares do Recife, Natal, Fortaleza e do interior de Pernambuco com frequência.
Empresas de turismo da Alemanha e de Portugal trazem visitantes todos os anos para conhecer a pinacoteca.
A segregação dos quadros será uma perda muito grande para Igarassu”, pondera o guia.
Ele acrescenta que o ordenamento dos quadros no salão obedece a uma sequência lógica religiosa e de contemporaneidade.
O local conta com segurança eletrônica (câmeras de monitoramento instaladas pelo Iphan) e patrimonial. “Lamento a retirada dos quadros, é um desfalque na pinacoteca, mas o tombamento não tira a propriedade do bem”, declara Frederico Almeida.