Rômulo César fazendo sua refeição tradicional.
Por Vinícius Sobreira, repórter do Blog de Jamildo O desempregado Rômulo César Peixoto, pertencente aos quadros do PRTB em Pernambuco, foi eleito prefeito de Primavera, na Zona da Mata Sul do Estado, em uma campanha para lá de inusitada.
Na pequena cidade, ele ficou conhecido como “Pão Com Ovo” e derrubou o atual prefeito, Galego do Gás (PR), que contava com o apoio não apenas do deputado federal Inocêncio Oliveira (PR), bem como do governador Eduardo Campos (PSB). “A campanha foi difícil”, lembra Pão Com Ovo, em conversa com o Blog de Jamildo nesta terça-feira (16), Dia Internacional do Pão. “Ele (o adversário na disputa) é irmão de outros prefeitos [o de Escada e o de Amaraji, na Zona da Mata], tem muito recurso e ainda desviou recursos do município, atrasando o pagamento do transporte escolar.
Mas a gente orientou o povo, explicou que 200 reais ou 300 reais não ajudava em nada.
Com duas ou três feiras o dinheiro acaba”. “Galego do Gás queria o povo na extrema pobreza para ter mais poder.
Não ofereceu ambulância e nem remédio, para o povo pedir favor a ele e pensar que ele é o bonzinho.
Mas ele não é bom”, critica, mesmo após a vitória nas urnas.
E é da pobreza que vem o inusitado apelido de “Pão Com Ovo”.
Na sua primeira campanha para prefeito, em 2004, Rômulo começou a ser chamado de “esmoléu” e “liso” pelos adversários.
A razão?
O ousado postulante ao cargo de prefeito só tinha pão com ovo para servir para suas visitas. “O povo chegava lá em casa de manhã, eu tava comendo pão com ovo.
Ia a tarde, eu tava comendo pão com ovo. À noite, só para variar, eu jantava pão com ovo.
Os outros todos com dinheiro colocaram o apelido, porque na minha casa não entrava outra comida.
Mas eu respondi que o meu pão com ovo eu dividia com todo mundo, enquanto o caviar deles, eles comiam sozinhos.” O apelido pegou e Pão Com Ovo foi eleito pelo PSDB com 72% dos votos, naquela eleição de 2004.
Com um ano e três meses de mandato, Pão Com Ovo terminou cassado, condenado por ter comprado voto com uma única cesta básica.
De acordo com o prefeito eleito, tudo não passou de uma armação.
Mas a pena foi de multa e não o deixou inelegível para tentar voltar a se candidatar. “O “filho de Zé Ermídio” estava precisando.
Ele era meu amigo havia muito tempo, mas armou.
Veio me pedir ajuda e eu dei a ele um vale para comprar uma cesta básica.
Mas ele entregou isso para “Ferreco” [que era adversário].
E aí ele me denunciou por compra de voto.
Depois que assumi o mandato fui condenado pela Justiça Eleitoral, saí da prefeitura, paguei uma multa, mas não fiquei inelegível.” Ele voltou a se candidatar em 2008.
Mas, faltando três dias para o pleito, teve seu registro de candidatura cassado, algo que não se repetiu este ano.
Pão Com Ovo, eleito com 4.069 votos, 50,46% do total, é desempregado.
Técnico em Agropecuária formado pela Escola Agrotécnica de Belo Jardim, no Agreste do Estado, Pão Com Ovo até já iniciou a faculdade de letras.
Mas, sem condições financeiras para pagar o curso para ele e para a sua então esposa, priorizou a (agora ex) mulher. É proprietário de um sítio, onde planta inhame e banana para vender. É pequeno agricultor, mas sem emprego fixo.
Desde o início de 2011, vive com ajuda de amigos e doações de familiares como a mãe, a professora aposentada Severina Moura, que tem comprado a feira dele nos últimos meses.
Mas ele já trabalhou mais. “Na assessoria técnica para o deputado estadual Carlos Santana (PSDB).
Fazia uns bicos e ia levando a vida”, lembra.
Questionado se sua vida iria melhorar a partir do próximo ano, Pão Com Ovo mostra esperança, mas sem pressa. “Se Deus quiser as coisas melhoram.
Mas eu nem sei ainda quanto vai ser o salário.
Nem sei quanto a Câmara aprovou.
Se já aprovou.” Nas ruas, depois do veredito das urnas, o preço da resposta a provocação dos adversários, depois de vários anos, é estampada com ironia.
Veja também: Assistencialista, Irmã Iolanda é a mais votada de Paulista, que há duas décadas não elegia uma mulher (Fotos: Clemílson Campos/JC Imagem)