(Imagem: divulgação) “Bom tempo” - Chico Buarque Um marinheiro me contou Que a boa brisa lhe soprou Que vem aí bom tempo O pescador me confirmou Que o passarinho lhe cantou Que vem aí bom tempo… (Trecho da música Bom Tempo de Chico Buarque) Ultimamente, ando bem empolgada com o engajamento da sociedade pernambucana na luta pela acessibilidade.
Contabilizando os últimos dois meses tivemos grandes movimentos de discussão e ação pela conquista da acessibilidade em Recife e Pernambuco, várias entidades, órgãos e empresas organizaram eventos para fomentar, divulgar e eliminar barreiras arquitetônicas e atitudinais que causam prejuízo à inclusão das pessoas com deficiência na nossa sociedade.
Cada evento que eu participava, conseguia enxergar mais adeptos a essa necessidade e mais pessoas que entregaram parte da sua vida a essa missão como a Dra.
Eliana Lapenda, procuradora do Ministério Público de Contas, que motivou mais pessoas e entidades a essa busca incessante pela cidadania.
Todos esses eventos indicam que algo está mudando na nossa sociedade e temos uma responsabilidade histórica com a consolidação dessa mudança.
Eu, participando e observando esse Bom Tempo não poderia deixar de tentar unir todos esses atores em prol dessa causa e assim nasceu em setembro o MOVIMENTO RECIFE ACESSÍVEL (MRA).
Aliás, o MOVIMENTO RECIFE ACESSÍVEL nasceu no dia 27 de setembro de 2012 com a participação de entidades sociais e de classes, órgãos do poder público, como também da sociedade civil, com o objetivo de promover a ampliação das condições de acessibilidade da Cidade do Recife, através do debate, propostas e fiscalização da aplicação da Legislação Federal, Estadual e Municipal, quanto aos Direitos das Pessoas com Deficiência.
A primeira atividade do MOVIMENTO foi lançar a CARTA DE MANIFESTO À CIDADE DO RECIFE DO MOVIMENTO RECIFE ACESSÍVEL, a qual foi enviada a todos os candidatos à prefeitura da cidade do Recife.
O Movimento espera engajar toda a sociedade recifense nessa campanha pela melhoria da qualidade de vida do povo recifense, por meio da melhoria das condições de acessibilidade da cidade.
Apoiam o MOVIMENTO RECIFE ACESSÍVEL o Clube de Engenharia de Pernambuco, o GERE- Grupo dos Executivos do Recife, o Blog de Jamildo, o Sindicato dos Arquitetos do Estado de Pernambuco, o Ministério Público de Contas, o CREA-PE (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), a Odebrecht Infraestrurura, a JBR Engenharia, a Lailson - Arte, Comunicação e Marketing e o grupo social Novo Jeito.
Decerto que esse movimento se propõe a desempenhar um papel de controle social em que todos nós deixaremos de ser coadjuvantes nesse processo, mas seremos, principalmente, protagonistas desse processo de transformação social.
Enfim, um país que tem 24% de sua população com algum tipo de deficiência não pode aceitar que esse grande contingente da população esteja excluído, como também não podemos ser indiferentes a uma realidade que bate a nossa porta a todos os momentos, mesmo quanto insistimos em viver como Alice no País das Maravilhas.
A bem da verdade, as necessidades e demandas para existência desse movimento são inúmeras tais quais: -Recife possui 38% da sua população composta por pessoas com deficiência, segundo dados do Censo 2010 do IBGE; -Recife não possui um Programa de Acessibilidade, com Plano social e político para inclusão na sociedade das pessoas com deficiência; -Recife é considerada uma das capitais brasileiras com menor acessibilidade, tendo obtido o quarto pior desempenho na avaliação de suas calçadas, realizada pela Mobilize Brasil, divulgada em agosto de 2012; -O Decreto Federal no 5.296 de 2004 determina que os logradouros de Uso Público e de Uso Coletivo deveriam estar em plenas condições de acessibilidade, de acordo com a Norma da ABNT 9050, desde o ano de 2008 e na sua maioria não estão; -A imprescindível participação do controle social por meio de segmentos organizados da sociedade civil e a necessidade de conscientização e engajamento de toda a sociedade para a implementação desses direitos.
Contabilizando essas demandas crescentes e o trabalho humanitário necessário para inclusão na nossa sociedade desse grande contingente de pessoas que se tornaram invisíveis em meio ao turbilhão de pessoas e de problemas da nossa cidade metrópole.
Mas, como esquecer o homem, se as cidades são feitas para as pessoas?
Como esquecer o direito imprescindível à dignidade e a cidadania?
Como esquecer o direito legal de ir e vir numa cidade ao mesmo tempo bela e excludente?
De fato, os números gritam e as pessoas custam a acreditar, mas quando é quebrada a barreira do desconhecimento se unem a essa bandeira.
Ademais, viver numa sociedade inclusiva, pensar que ela valoriza a diversidade humana, que possui oportunidades reais para todos e que temos a consciência de que não somos apenas responsáveis pelas nossas vidas, mas também pela qualidade de vida do outro é um sonho que pode ser mais real à medida que nos conscientizarmos do nosso papel responsável perante a um mundo desigual.
Temos a responsabilidade de incluir a todos e até adaptar nossos hábitos a esse novo paradigma que se apresenta.
Aliás, Meu amigo Lailson, disse-me nesse final de semana que temos uma missão educativa pela frente, temos que convencer as pessoas do que é certo e temos que trazê-las para o nosso lado, não adianta apenas usarmos o rigor da lei.
Ele, como educador e sábio, com certeza sabe mais do que eu, que às vezes fico demasiadamente irritada com o descaso as pessoas e a lei advindo de esteios que deveriam ser o exemplo para a nossa sociedade e o nosso povo.
Digo isso, porque fui ver a exposição Paideia no Santander Cultural e me deparei com a calçada inacessível sem rampas de acesso e com degraus na porta de entrada a exposição, dessa forma, tive que ser carregada para conseguir ter acesso a mesma, o que já tirou metade do meu entusiasmo.
A barreira quase me impossibilitou de ver a ótima iniciativa do Santander e a exposição gratuita e dedicada ao nosso povo.
Mágoas a parte, não obstante termos a melhor legislação do mundo quanto ao direito das pessoas com deficiência, essa legislação não tem eficácia e a fiscalização é insuficiente, quando não é inexistente.
Voltamos então à questão de Lailson da educação e essa deve ser dirigida principalmente aos nossos políticos e até aos mais letrados formadores de opinião, que por desconhecimento, omitem-se quanto ao tema, para os quais ACESSIBILIDADE é apenas uma palavra bonita, que ultimamente entrou para o padrão do politicamente correto, esquecem eles que, como diria Exupéry, “O essencial é invisível aos olhos” e dentro dessa palavra existem várias outras mais conhecidas e mais aplicadas como: respeito, dignidade, justiça, cidadania e amor.
Mais um ponto para meu amigo Lailson, não adianta apenas utilizar armas verbais e ameaças punitivas, já que temos a nosso favor a LEI, mas temos antes de tudo que conquistar essas pessoas e tocar vossos corações.
Nesse momento, sinto-me a vontade de convidá-los para serem protagonistas de um movimento em prol de uma sociedade verdadeiramente inclusiva e essa sociedade requer as condições do acesso de todos sem distinção e a promoção da cidadania através do resgate da dignidade humana.
Isto posto, decidi conversar com vossos corações e convidá-los a participar do MOVIMENTO RECIFE ACESSÍVEL que se inicia na casa de cada um de vocês.
Conversem com seus amigos, filhos, sobrinhos, primos, conhecidos, colegas.
Vamos juntos estabelecer uma corrente do bem, que informa e que atua sempre pensando no bem comum e no amor aos homens.
Vamos juntos consolidar um novo caminho para a nossa cidade.
O caminho da cidadania!