Clemilson Campos Por Manoel Guimarães, especial para o Blog de Jamildo Como já vinha sendo dito, a eleição do Recife deste ano serviu para derrubar muitas “verdades incontestáveis” de outrora.

Há alguns meses, era inimaginável que o PT tivesse menos de 30% do eleitorado na Capital.

Da mesma forma, o eleitorado tido como “conservador”, “anti-PT” e atribuído ao DEM, mais especificamente a Mendonça Filho, também era estimado em 20%.

Números que caíram por terra, tal qual a tese de que um governador não elegia o prefeito do Recife bancado por ele - lembrando que João da Costa não era o candidato de Eduardo em 2008, e sim o candidato de João Paulo, então prefeito com alta aprovação.

Mas vamos aprofundar esta análise, afinal houve razões diversas para que estas lógicas fossem derrubadas.

O PT não só teve menos de 20% dos votos válidos, como ficou atrás de um candidato tucano.

O PSDB não lançava candidato no Recife desde 1996, quando João Braga ficou em segundo lugar, também à frente de um petista, João Paulo, então deputado estadual mais votado, mas ainda não era o temido e popular ex-prefeito do Recife.

Que o PT errou, é claro.

Posso relatar quinhões de erros só do período em que fui setorista do PT - menos de um ano, desde o final de 2011 até pouco tempo atrás.

A prévia foi um erro, mas um erro descambado de uma série.

Todos erraram, e não há como se apontar a gênese de tantas falhas.

Porém, há de se constatar que as falhas tendem a se perpetuar, uma vez que o candidato Humberto Costa jogou a culpa da derrota no próprio partido.

Não tomando partido, mas vale lembrar que em 2010 o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) tomou uma derrota acachapante para Eduardo Campos pelo Governo do Estado.

Obteve apenas 14% dos votos, e o próprio Humberto falou em chinelada.

O peemedebista, que recentemente devolveu a ironia, assumiu toda a culpa pela derrota na época, sem apontar dedos ou falhas de outros.

Mas é difícil esperar que Humberto se espelhe em Jarbas.

O fato é que a tal releitura esperada sobre o PT não deve acontecer.

Mesmo que todas as lideranças estaduais e federais do partido sofreram derrotas nessas eleições municipais.

Todas, sem exceção.

O PT continuará da mesma forma.

Humberto, embora tenha somado a oitava derrota, continuará como principal liderança, até por ter mais seis anos de mandato, ante os dois dos deputados federais e senadores, e os quatro dos novos vereadores eleitos.

Após passar um ano ameaçando deixar o partido e aceitar uma candidatura a vice que em nada agregou, João Paulo tornou a perder o bonde andando.

Em 2006, prefeito reeleito, não conseguiu juntar o partido para se lançar candidato ao Governo, e viu Humberto perder a disputa.

No ano passado, não saiu do PT após todo um jogo de cena.

Nem mesmo as 12 prefeituras que o PT fez (quatro a mais que em 2008) servem de consolo, visto que perdeu Recife, Igarassu e Itamaracá, que já governava, e Paulista, que era contada como certeza.

Ainda deixou de lançar uma candidatura em Olinda, que quase foi para o segundo turno numa eleição de Renildo Calheiros contra dois nomes considerados com pouca densidade.

Ainda assim, a peemedebista Izabel Urquisa conseguiu crescer em cima da rejeição do prefeito.

Com a terceira derrota em quatro eleições, Mendonça Filho sofreu uma derrocada que compromete até a própria reeleição como deputado federal.

Não há cenário de chapa para ele coligar.

A derrota de sua irmã em Belo Jardim para o primo, com o qual brigou no ano passado, e o fato do DEM só eleger um prefeito em 184 municípios do Estado abre o alerta para crise do DEM, que vinha de 19 prefeituras em 2008.

Sem abrir mão de disputar a Prefeitura, queixa que recebeu de todos os partidos na época da Mesa da Unidade, Mendonça saiu das urnas menor do que entrou, assim como Humberto e João Paulo.

Embora nenhum deles irá admitir isso publicamente.

Demonstrando que sabe ler como poucos os cenários políticos, ainda quando eles nem se avizinham, Eduardo Campos se consolidou no Estado.

Ficou grande demais até para sonhos estaduais.

Esse é um ponto básico para o lançamento a uma candidatura presidencial: dispor de prestígio estadual. É o que ocorre com Aécio Neves (PSDB), que em 2010 se elegeu senador, fez o sucessor no Governo do Estado e ainda reelegeu, este ano, o prefeito de Belo Horizonte (Márcio Lacerda, do PSB) contra um candidato do PT que teve em seu palanque Dilma Rousseff e Lula.

Até abril de 2014, prazo que teria para se desincompatibilizar do cargo caso dispute a Presidência da República, Eduardo nunca admitirá que será candidato.

Pode até ser que não seja mesmo.

Mas continuará alimentando a mídia com essa possibilidade.

Mandará recados, como já fez no domingo, ao dizer que “o PSB estará no jogo em 2014”.

Algo mais do que natural para quem conhece como poucos os meandros da política.

Eduardo conciliará gestão administrativa e articulação.

Saberá aguardar os fatos e acompanhará atentamente os índices de aprovação de Dilma Rousseff.

E fará isso com o pleno aval do amigo Lula, a quem deverá encontrar bastante nas próximas três semanas, em função do segundo turno em São Paulo.

Embora seja um raciocínio lógico, é cedo para dizer se Daniel sai maior politicamente.

Tudo bem que ele entrou na disputa com menos de 10% e terminou com 25%, na frente do outrora imbatível PT.

Entretanto, não se sabe como o tucano aproveitará essa fatia do eleitorado que o escolheu.

Basta lembrar que sua ex-correligionária dos tempos de PV, Marina Silva, teve 20 milhões de votos no País.

Ficou independente no segundo turno presidencial, e esses votos foram diluídos em questão de semanas, pela natureza do processo eleitoral.

Coelho é novo, tem estrada, mas terá que calcular os passos que traçará a partir de agora.

Citando o estilo do fiador de sua candidatura, Sérgio Guerra, um pouco de pragmatismo nunca fez mal a ninguém.

Ao final, o que esta eleição demonstra é que o eleitorado não é fixo, e sim volátil.

Isso é lógico?

Aparentemente não nas cabeças de quem achava que, por iniciarem a disputa na frente, não poderiam cair tanto como caíram, além de acreditarem que outros não passariam do patamar com o qual iniciaram a disputa.

De volta ao planejamento.

Repórter da editoria de Política do Jornal do Commercio