Por Fernando Castilho Agora que o PT do Recife viu o que a pequenez dos gestos é capaz de fazer com um partido político que já foi vencedor.

Que, como o interesse pessoal pode atrapalhar o coletivo.

E o que o descompromisso com certos princípios pode resultar no errado, talvez esteja na hora do partido abrir o “livrinho” da capa preta e ver o que a Bíblia tem a lhes ensinar.

E deve começar pelo livro mais bonito da Bíblia e, certamente, o menos judaico-cristão de todos.

O Eclesiastes.

Está lá em sete versículos: 1.

Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de colher; 2.

Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; 3.

Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; 4.

Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de se afastar; 5.

Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de jogar fora; 6.

Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de silêncio, e tempo de falar; 7.

Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e há tempo para a paz.

Não vai ser fácil.

Nos últimos meses o PT entendeu que era tempo de morrer, de derrubar, de espalhar pedras, de jogar fora.

No Recife, o PT entendeu que era tempo de rasgar, de se afastar, de odiar e de guerrear e…

De perder.

Não será fácil, agora, conjugar verbos como plantar, prantear, guardar. coser.

E de fazer silêncio e de ajuntar pedras.

Porque nos últimos meses, o versículo que o PT mais cultivou foi o que diz que é tempo de matar.

E será difícil aceitar que foi uma luta sem qualquer sentido.

O PT estava na prefeitura há 12 anos, tinha uma sociedade como PSB de Eduardo Campos que lhe garantia 51% das ações, um projeto de sucesso cuja marca tinha sido priorizar ações nas pessoas.

E nos últimos anos vinha conseguindo organizar um modelo de gestão que lhe dava um discurso também de fazedor de obras e construtor de casa para pobre.

Certo, não tinha charme.

Mas não era o fim.

Mas, aí o PT entendeu que essa herança corria risco.

Que o gestor colocado da Prefeitura do Recife era burro, embora não fosse desonesto.

Que era feio, embora não fosse sujo.

E que comprometia o futuro da empresa política, embora os próprios irmãos viessem se encarregando de roubar a própria firma no que diz respeito ao capital político.

O PT foi capaz de fazer a coisa mais estúpida que um gestor pode fazer: dizer à concorrência que seu produto era ruim.

Que o controle de qualidade era falho e que não tinha futuro no mercado.

Esquecendo que o mercado não perdoa quem não se reinventa.

Mas, para fazer uma autocritica será preciso que o partido tenha a coragem de olhar para os seus com honestidade.

Há uma enorme tendência em responsabilizar o prefeito João da Costa pelo fracasso.

De dizer que ele se vendeu a Eduardo Campos.

De que o fracasso de sua administração é o que justificou as atitudes dos seus correligionários contra ele.

Terá que ter coragem de reconhecer que não poderia se meter numa aventura por um capricho de Humberto Costa, que entendeu de ser prefeito e agora era senador e, muito menos, deixar que o combustível dessa fosse o sentimento de inveja de João Paulo que não aceitava que João da Costa, um poste que ele inventou, fosse mais importante do que ele.

Esquecendo-se que no momento em que o eleitor do Recife elegeu João da Costa, era a ele que o prefeito tinha compromisso.

Terá que reconhecer que enganou vergonhosamente Maurício Rands fazendo-o entrar numa previa que não valeria, pois o senador Humberto Costa já combinara tudo com o comando do PT.

E reconhecer que a relação entre Eduardo Campos é muito mais forte que a de Lula com Humberto Costa e todo o Partido dos Trabalhadores junto e unido.

Talvez, porque Eduardo Campos seja mais leal a Lula do que Humberto, João Paulo, Dílson Peixoto e Pedro Eugênio, juntos.

Esqueceram que lá atrás, quando do inicio dos fatos que resultaram no mensalão, em privado, o PT quase abandonou o governo Lula e que foi Eduardo Campos, do PSB, e Aldo Rebelo, do PC do B, quem percorreram centenas de gabinetes costurando uma rede de proteção para evitar o caos.

Lula já disse que Campos e Rebelo são leais.

E que até na campanha atiraram contra si quando, com a desculpa de bater em Eduardo Campos, acusaram João da Costa de traição.

Na verdade, achavam que Costa cairia na armadilha de deixar-se virar traidor.

E, finalmente, que se desmoralizariam perante a sua militância quando, como líderes, acusavam publicamente João da Costa, sem ter coragem de lhe chamar de desonesto.

Talvez, porque não tivessem contra ele nenhuma prova que pudessem jogar-lhe na cara.

Com se vê, é um desafio muito grande para o partido.

Por isso, talvez, por isso, seja importante começar pelo último versículo: Há tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e há tempo para a paz. *Fernando Castilho colunista do JC Negócios