Foto: Clemilson Campos/JC Imagem Wladmir Paulino, do NE10 Maria Eduarda, de oito anos, cantava sozinha o jingle da campanha da dupla petista Humberto Costa e João Paulo.
Nos batentes que davam entrada ao comitê da legenda, alguns militantes olhavam para o nada.
Outros sorriam sem graça.
Afinal, já eram mais de 60% das urnas apuradas e a derrota já era realidade.
A própria menina tratou de dar o recado: “Humberto chega em 15 minutos”.
Os dois candidatos chegaram.
Sérios.
Foram à sala de imprensa e antes de qualquer pergunta, reconheceram a derrota, baseada, segundo o próprio Humberto em dois pontos: desejo de mudança do eleitor e falta de unidade do partido.
O desejo de mudança citado pelo senador foi o percentual de votos de seus adversários.
Juntos, o prefeito eleito Geraldo Julio (PSB) mais os candidatos Daniel Coelho (PSDB) e Mendonça (DEM) somaram pouco mais de 80 por cento dos votos válidos.
Humberto teve 154.460, o equivalente a 17,43% “Havia um desejo de mudança da população.
Os candidatos Geraldo Julio, Daniel Coelho e Mendonça tiveram 80 por cento dos votos”, lembrou.
A falta de unidade do PT passou, obrigatoriamente pela postura do atual prefeito, João da Costa, correligionário de Humberto, mas que não participou da campanha após ser impedido de pleitear a reeleição por conta de uma decisão da executiva nacional, que anulou as prévias nas quais Costa saíra vencedor. “Foi reforçado (o desejo de mudança) pela atual administração que não é bem avaliada e tem uma rejeição muito forte.
Essa rejeição foi transferida para o PT e o candidato do PT”, disse.
Nessa hora, a militante Maria Eduarda entrava no meio da coletiva para tirar fotos de seu ídolo.
O mais irônico é que, em tom de lamentação, tanto Humberto como João Paulo enfatizaram a ausência de João da Costa nos atos de campanha. “Em nenhum momento, ele apoiou nossa candidatura.
Não participou de nada.
Essa falta de unidade no partido contribuiu para o resultado”.
O motivo secundário foi o que Humberto citou como condições desfavoráveis, uma clara referência ao apoio maciço do governador Eduardo Campos (PSB) à campanha de Geraldo, embora tenha falado apenas em tempo de televisão no guia eleitoral.
Por isso, chamou sua empreitada de “missão” e garantiu não ter projetos pessoais. “Busquei forças lá de dentro para cumprir a missão que me foi delegada pelo PT nacional.
O PT me solicitou e não foi a primeira vez.
Mesmo assim, não me sinto credor de nada.
Tivemos apenas uma derrota eleitoral; não foi uma derrota política.
Essa derrota fortalece nosso espírito de luta.
A sensação é de dever cumprido”, arrematou.
FUTURO - O futuro do PT no Estado foi respondido de forma evasiva por Humberto, para quem é melhor esperar e conversar com as principais lideranças.
Já João Paulo foi mais incisivo e deu o tom de que a vida não será fácil daqui por diante. “Temos que fazer uma reflexão mais profunda no Estado. É uma missão que se torna muito mais difícil”, avaliou.
Humberto também fugiu de questões delicadas no que dizem respeito à cisão dos petistas no Recife.
Indagado sobre uma possível expulsão de João da Costa da legenda, respondeu que não era momento de se fazer esse tipo de análise.
O mesmo discurso foi repetido para comentar como será a atuação da bancada no governo socialista. “Ainda não é momento de se falar isso.
Vamos discutir mais à frente”.
ELOGIOS E AGRADECIMENTOS - Humberto Costa agradeceu o apoio dos militantes, de seu candidato a vice e a todos que confirmaram seu número nas urnas. “Agradeço aos que confiaram no PT e nas mudanças que iniciamos em 2001 na gestão de João Paulo”, disse.
Os adversários também foram elogiados, principalmente Daniel Coelho e Mendonça.
Para o senador, Daniel surge como uma nova liderança na política pernambucana. “Parabenizo a campanha muito bonita de Daniel Coelho, apesar de nossos partidos terem divergências profundas.
Ele é uma liderança que desponta”, pontuou.
Sobre Mendonça, o discurso foi de aliviar a baixíssima votação do democrata. “O resultado da urna não representa o que ele é para nossa cidade”.