Por Edilson Silva Muita gente tem me perguntado: “Edilson, quais são as propostas de sua candidatura?”.

Parece um gesto mecânico dos eleitores, meio que esperando um gesto também mecânico do candidato. É normal e desejável, por parte de quem debate, se falar nesta época em saúde, educação, segurança, mobilidade, etc, etc.

Mas acho isto mero clichê.

Aos que me perguntam, respondo com outra pergunta: - Tem tempo para ouvir uma resposta honesta?

Se sim, emendo uma declaração de amor ao Recife, para depois falar de nossos problemas e daquilo que julgo serem soluções para o que penso serem as prioridades de intervenção do poder público.

Tenho dito, com convicção, que Recife é uma cidade abençoada pela natureza, pela sua história e pelo povo que aqui vive, mas amaldiçoada pelos tipos políticos que estão encastelados na gestão da cidade.

Recife é cidade ensolarada praticamente o ano todo: isto é energia luminosa, térmica, elétrica.

Recife é cidade litorânea: isto é mar, é praia, é porto, é pesca, é turismo, é lazer democrático.

Recife é cidade de rios, lagoas e açudes: isto é água, riqueza, cidade sustentável.

Recife possui o maior manguezal urbano do mundo, no Parque dos Manguezais.

Recife é cidade de topografia generosa, que se conecta em linha plana de norte a sul, de leste a oeste: vamos do Marco Zero a Camaragibe, a Olinda, a Jaboatão, sem enfrentar um único aclive severo.

Recife é cidade que é porta de entrada da Europa, dada sua localização geográfica; é cidade que está no centro da região nordeste, entre Salvador e Fortaleza.

Recife é cidade histórica: Nassau aqui esteve e deixou suas marcas.

A Sinagoga mais antiga das Américas está aqui.

O conjunto arquitetônico do Recife Antigo guarda um pouco desta história.

A República brasileira brotou em Recife: aqui viveram Frei Caneca, Joaquim Nabuco, Tobias Barreto. É em Recife que está a Faculdade de Direito mais antiga do Brasil.

Recife abriga uma das mais importantes universidades do Brasil, a UFPE, centro de produção de conhecimento, de quadros intelectuais e técnicos talentosos, como nos mostra a experiência exitosa do Porto Digital.

Recife possui um povo vibrante, alegre, criativo, trabalhador, produtor de cultura, de arte popular.

Em cada comunidade há grupos culturais, artistas populares, poetas.

Recife é a terra do frevo, do maracatu, do Manguebeat, do Galo, do maior carnaval do mundo.

Recife é cidade com orçamento anual de R$ 5 bilhões.

Recife, cidade abençoada!

No entanto, esta mesma cidade não consegue sequer recolher e tratar mais que 30% do seu esgoto, lançando a maior parte em canais que vão desembocar em nossos rios e no mar, ou então deixando-os sobrar fedorentos e insalubres no meio das ruas.

Esta cidade tão rica não dá atenção à saúde da população, com quase 50% daqueles SUS-dependentes sem ter qualquer atendimento.

Os professores desta cidade recebem salários abaixo do piso legal e sobram estagiários em salas de aula recebendo meio salário mínimo para substituir professores.

Esta cidade com tamanha riqueza possui, nos seus 94 bairros, apenas uma biblioteca pública municipal.

As creches públicas somam pouco mais de 60, muitas interditadas, o que significa que grande parcela dos pais e mães que precisam trabalhar ou estudar não contam com este serviço público essencial.

A cidade, tão rica em cultura, arte, culinária, folguedos e iniciativas populares, possui apenas 24 mercados públicos e destes quase todos estão entregues aos cuidados da sorte e iniciativas de permissionários, com limpeza e segurança a dever.

Esta cidade plana e de topografia generosa não possui ciclovias e ciclofaixas.

O modal rodoviário se impõe sobre a racionalidade que seria termos metrôs e VLTs.

O povo trabalhador e estudantes são transportados como entulho em ônibus desconfortáveis e de tarifas caras.

Enquanto isso, a Câmara de Vereadores da cidade que já abrigou Nassau, Frei Caneca, Nabuco, Dom Hélder, Gregório Bezerra, Pelópidas da Silveira, distrai-se dedicando boa parte de seu tempo dando nome a ruas, praças, títulos de cidadão e construindo formas “alternativas” de aumentar os seus próprios salários sem chamar a atenção dos pagadores de impostos da cidade.

Minha proposta, portanto, é convidar a cidade a compartilhar conosco o sonho de equilibrar nossa cidade, para diminuir injustiças e torná-la um lugar mais democrático nos sentidos fundamentais.

Pra começar, vamos abrir mão do aumento de 62% nos salários – vamos trabalhar com os reajustes dados aos professores do Recife.

Vamos abrir mão de 14º e 15º salários, ou auxílio-paletó.

Faremos isto não como medida populista ou moralista, mas como um gesto em direção à cidade.

Queremos ter com os recifenses uma relação de confiança, solidariedade, respeito e transparência.

O equilíbrio deve começar na relação do poder público e dos representantes com a cidade.

Temos, então, a pretensão de fazer de nosso mandato na Câmara um ponto de unidade de amplas forças éticas, republicanas, progressistas, democráticas, humanistas e libertárias de nossa cidade, pois este ponto de unidade, de encontro destes espíritos do bem, é a ante sala inescapável da resolução do conjunto de problemas que nossa sociedade enfrenta.

Assim, nossa candidatura e nosso mandato estarão a serviço não de propostas setorizadas somente, de bairros, de varejo, mas a serviço da causa do bem comum, do Estado laico, da liberdade, da igualdade e da democracia na nossa cidade.

Queremos e vamos ser um mandato de articulação política da sociedade civil com a institucionalidade; não somente porta-voz de demandas, mas fundamentalmente, uma ponte que permita a reconexão sadia da sociedade com a política.

Presidente do PSOL-PE e candidato a vereador do Recife