Foto: Eduardo Braga/divulgação Foto: Leo Motta/divulgação Foto: Társio Alves/divulgação Foto: Chico Bezerra/divulgação Bruna Serra, no Jornal do Commercio deste domingo (30) O filósofo francês Gilles Lipovetsky disse em seu “Império do Efêmero” que a moda recicla as formas antigas, fazendo com que chegue até nós sob a perspectiva da liberdade individual.
A moda não foi utilizada ao longo dos anos somente como um instrumento para a distinção entre as classes sociais, mas principalmente para a diferenciação entre os indivíduos de uma mesma classe.
A escolha do figurino pelos candidatos a prefeito do Recife se encaixa com perfeição nas teorias de Lipovetsky, um estudioso detalhista da moda e do consumo.
Desde que a campanha eleitoral tomou as ruas da capital pernambucana, uma profusão de cores invadiu o cotidiano dos recifenses.
Verdes, amarelos, vermelhos e azuis ajudam a conceituar os prefeituráveis, que brigam para conquistar o voto usando todos os artifícios possíveis, inclusive a roupa.
Além de transmitir a imagem de seriedade e distinção, da qual todos querem se apropriar, afinal, são predicados fundamentais a o chefe da capital, eles mudam os cabelos, o olhar e até a postura.
Quem não se lembra das mudanças radicais no visual da presidente Dilma Rousseff, quando deixou o ministério da Casa Civil para invadir os lares brasileiros com cabelos muito bem cortados e sem os óculos que lhe imprimiam um ar tão formal.
No Recife, a mudança de visual que ganha mais destaque a olhos nus é a do líder das pesquisas de intenções de votos.
Geraldo Julio (PSB), um ilustre desconhecido até pouco tempo, tirou os óculos, o tradicional terno azul marinho e a gravata.
O objetivo é manter o ar sério, trabalhado no slogan da campanha que o vende como um gerente habilidoso, e adotou uma singela camisa branca de algodão.
O conceito não é assim tão novo, já vinha sendo adotado por seu padrinho político, o governador Eduardo Campos (PSB) desde 2006, quando disputou pela primeira vez o cargo de chefe do executivo.
A mensagem dessa peça é a mais direta possível: paz.
O pessebista destaca como um mantra ser o candidato de uma frente de 14 partidos e por estar em franca oposição ao PT, adotou o branco e prega a paz política.
Uma contraposição às brigas protagonizadas no período pré-eleitoral pelos petistas.
Anos atrás, talvez, Humberto Costa, candidato do PT, adotasse a tradicional camisa vermelha, peça indispensável ao guarda roupa de qualquer militante da legenda.
Entretanto, o vermelho remete ao radicalismo de esquerda, que durante muito tempo esteve atrelado ao PT e não é a essa mensagem que o senador quer se associar.
Por isso, também anda agarrado com as camisas brancas, para tentar ganhar assim um ar mais leve.
O vermelho coube, então, ao seu vice, o ex-prefeito João Paulo, um político que gosta de salientar sua formação marxista-revolucionária.
Ex-governador, Mendonça Filho (DEM) tem um desafio imposto por sua própria campanha: o de ocupar o posto de candidato popular.
Por isso segue a risca o conceito simples no vestir com camisas polo azuis, cor que remete ao seu partido, o Democratas, além de tênis e calça jeans. É assim que ele entra diariamente nas TVs durante o programa eleitoral.
Mendonça Filho tem buscado uma linguagem mais simples, atacando, inclusive, de repórter em seu próprio programa, o que demonstra uma mudança também de postura, reforçando o conceito popular.
DANIEL - Com dez camisas verdes em seu guarda-roupa, Daniel Coelho (PSDB) garante que comprou todas por gosto pessoal, sem qualquer assessoria.
O candidato tucano foi protagonista de uma verdadeira batalha para continuar utilizando a cor do partido que abandonou.
Depois que deixou o PV para cair no ninho tucano, a legenda verde resolveu travar uma guerra judicial para que ele não pudesse continuar usando a cor da esperança, um dos ícones do partido que remete à causa ambiental.
A cor tradicional dos tucanos é azul e amarelo.
Mas Daniel Coelho conquistou o aval do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e anda pelo Recife sempre com uma camisa de botões em tecido de algodão num tom de verde claro. “Como todas as camisas são iguais desde o começo, encomendei dez peças e uso sempre a mesma roupa, nunca tem diferença”, explica o tucano, que afirma também ser fiel ao alfaiate que conhece desde o começo de sua carreira política.
Questionado se recorre a assessoria ou a dicas de sua mãe ou esposa, o tucano é enfático: “Tudo eu mesmo”.
Usando e abusando do verde nas suas peças publicitárias, Daniel chegou a causar furor no ninho tucano, sendo acusado por muitos de negar o partido que o acolheu, tamanha é a associação de sua imagem à bandeira do Partido Verde.
Os adversários, durante alguns debates, chegaram a tocar no assunto, na tentativa de constrangê-lo a explicar sua posição política. “Saí do PV para não amarelar”, disse Coelho, em resposta a uma provocação no debate promovido pelo portal NE10 no início de agosto.
A resposta era, na verdade, uma provocação, já que os verdes aderiram ao palanque do PSB, ao qual Daniel faz oposição.