Por Vinícius Sobreira Quando um partido com candidatura majoritária se coliga a um segundo, alguns interesses estão em jogo.

O partido com candidato majoritário quer aumentar o tempo do seu guia de tv e ampliar a rede de candidatos a vereador que levam para os bairros o nome do seu candidato a prefeito.

Em troca, o partido que tem candidato majoritário precisa oferecer a famosa “estrutura” para os aliados.

E se não oferecer, vai ter de se contentar só com o aumento no guia de tv.

Porque os vereadores irão apoiar quem quiser.

Ou todos. É o caso do vereador do PT do B no Recife, Marcos de Bria.

Ele é o único representante da sigla na Câmara Municipal e precisa se reeleger.

O partido achou mais positivo colocá-lo numa chapa proporcional menor, com o PSDB, que tem como candidato a prefeito Daniel Coelho.

Acontece que Marcos di Bria pertence à base governista do prefeito João da Costa (PT) e seu partido compõe - ou compunha, até então - o grupo da Frente Popular, que tem como candidato Geraldo Julio (PSB).

No meio da salada, Marcos di Bria escolheu Geraldo Julio (PSB), o candidato com mais “estrutura”.

Mas o vereador pertence à coligação de Daniel Coelho (PSDB).

O vereador do PT do B foi flagrado em caminhada do candidato socialista, além de ter mandado pintar vários muros com o seu nome ao lado do nome de Geraldo.

A desculpa dele era de que participava da Frente Popular e, por Geraldo ser o candidato da Frente, ele poderia apoiá-lo.

Mas depois dos registros na mídia, o vereador mudou de comportamento.

Passou a ir às caminhadas de Daniel Coelho (PSDB) e até colocou imagens com ele no seu guia.

Os muros pintados a partir daquele dia, carregam o nome do candidato tucano.

Mas o crescimento do candidato tucano na reta final ajudou. “Meu candidato é Daniel Coelho”, disse convicto. “Mas todos os eventos em Santo Amaro eu participei.

Quando Geraldo veio, eu acompanhei.

E quando Humberto (PT) veio eu também acompanhei”, entregou o vereador.

Esse fez até banner!

O caso de Luciano Barros (PHS), conhecido como “Caniço”, é mais tranquilo.

A pesar de seu partido estar coligado oficialmente com o PT, ele está apoiando abertamente com Daniel Coelho (PSDB).

Mas tudo com o aval do presidente do partido. “Eu conheço Daniel Coelho desde 2004, quando fui candidato a vereador pelo PV e ele também.

Em 2010 trabalhamos juntos.

Eu ajudei ele na campanha para deputado estadual”, afirmou Caniço. “Se ele ganhar, tenho amizade com o prefeito.

Mas Humberto Costa (PT), eu nem o conheço pessoalmente”.

O seu “apoio a Daniel é ideológico”, disse o candidato a vereador, que também reclama que o PT não lhe ofereceu “estrutura nenhuma”. “Quando participei das reuniões do PHS perguntei ao presidente se existia algum problema no meu apoio a Daniel.

E disse que se existisse eu iria pro partido dele (de Daniel).

O presidente disse que não.

Há muitos outros candidatos que estão com Daniel, Geraldo ou Mendonça”, lembrou.

Caniço e outros candidatos do PHS têm autorização do presidente estadual do partido para apoiarem quem quiser.

Também pudera, o próprio presidente, Belarmino Sousa, não apoia a candidatura de Humberto Costa (PT), com quem está coligado. “Não posso puní-los.

Cabe ao candidato majoritário conquistar o apoio do candidato a vereador.

Se ele (Humberto) não conquistou, não posso fazer nada”, disse Belarmino. “Sou presidente estadual mas o meu candidato mesmo é Geraldo Julio (PSB).

Só aceitei apoiar o candidato do PT porque foi uma decisão da Nacional.

A regional tem de acatar.

Mas até hoje não fui a nenhum evento do PT porque não era de minha vontade apoiar Humberto, apesar de não ter nada contra ele.

Eu optei por ficar neutro”, afirmou o presidente da sigla. “O PHS é da base do governador Eduardo Campos (PSB) e meu candidato é o candidato do governador, seja ele quem for”.

O caso mais emblemático é o do vereador Osmar Ricardo (PT), cujos muros em sua maioria não vinculam sua candidatura à de Humberto Costa (PT), do seu próprio partido, mas à de Geraldo Julio (PSB).

Para piorar, a esposa de Osmar Ricardo, Beatriz Vidal, foi a coordenadora da caminhada de Geraldo em Santo Amaro, bairro onde se concentram os votos do vereador. “Não fui eu”, se defende. “Quem mandou pintar os muros foi Beatriz.

A caminhada de Geraldo também foi ela”, afirma Osmar.

A sequência de episódios lhe rendeu uma punição.

Osmar teve seu guia de televisão barrado pelo partido.

Mas o castigo só durou um dia. “O meu partido é o PT e o meu candidato é Humberto Costa no dia 7 (de outubro).

Mas não posso definir o voto das pessoas.

Agora eu preciso me reeleger e para conseguir eu preciso delas.

Mas todos os que são ligados a mim sabem que o meu candidato e o da minha militância é Humberto”.

Osmar Ricardo defendeu, no primeiro semestre, a candidatura à reeleição do prefeito João da Costa (PT), que sofreu dura oposição dentro do próprio partido e enfrentou um processo de prévias internas contra o então deputado federal Maurício Rands.

Este, por sua vez, era apoiado por Humberto e João Paulo, ex-prefeito e maior desafeto político de João da Costa. “Eu defendi uma candidatura do PT que eu considerava legítima.

A avaliação que a Direção Nacional teve foi equivocada.

Ele (João da Costa) é o único que poderia defender o governo dele”, afirma Osmar.

Após o resultado das prévias ser cancelado, os dois candidatos foram descartados pela Direção Nacional, que escolheu Humberto para a candidatura à Prefeitura.

João da Costa e seu grupo se mantiveram de fora da campanha, com raras exceções.

Mas nenhum havia sido tão radical ao ponto de vincular sua candidatura à de um rival.

Em Santo Amaro, bairro de Osmar (Fotos: Vinícius Sobreira/Blog de Jamildo)