Por Angelo Castelo Branco É durante uma campanha eleitoral que os líderes políticos devem redobrar cuidados para preservar suas biografias, livrando-as de palavras e atos que não comprometam a desejada coerência, suas efetivas responsabilidades republicanas e nem os seus vínculos com o exigido respeito pela democracia, que no nosso caso é fruto de muito sangue, muitas lágrimas, muita inspiração e muita transpiração.
Estamos fartos de teses que valorizam os elevados interesses nacionais, mas que se revelam, sempre depois, como bem lembra o conselheiro Acácio, uma máscara a esconder uma bem disfarçada pequenez de vaidades e de ambições pessoais.
As gerações que antecederam aos nossos dias colheram muitos exemplos de pessoas que sepultaram suas biografias por simples destempero e de outras que, inclusive para surpresa da maioria, cometeram gestos que os eternizam no panteão popular dos corações e das mentes.
No dia 30 de abril de 1981 o pernambucano Nilo de Souza Coelho era presidente do Senado quando um grupo de terroristas de direita, supostamente ligados ou com livre acesso aos arsenais militares, cerraram as portas do show comemorativo ao Dia do Trabalho, no Rio Centro, para explodir uma bomba que mataria centenas e talvez milhares de jovens que lá vibravam com seus ídolos pops.
A providência divina mudou o curso da tragédia e a bomba explodiu no colo de seu condutor, que se achava a bordo de um automóvel esporte, supostamente à espera da ordem para colocar o artefato no interior do centro de convenções do Rio de Janeiro.
Levado por um sentimento de grave responsabilidade pelo cargo que ocupava o ex-governador Nilo Coelho, que se notabilizou pelo bom humor e até (para o delírio dos fotógrafos) pela toalha envolta no pescoço nos antigos carnavais dos bailes dos casados da Estrada dos Remédios, tomou uma posição histórica.
Afirmou que era o presidente do Senado e não do “senado do meu partido” (que apoiava o governo militar) e repudiou energicamente o atentado do Rio Centro, num discurso que de tão emocionante foi também apontado como causa primeira dos problemas cardíacos que o mataria meses depois.
Esse discurso seguido de entrevistas inundariam a mídia nacional e iriam pousar nas primeiras paginas dos mais acreditados jornais estrangeiros.
Ser presidente do Senado e não “do senado do meu partido” é mais do que uma simples frase. É uma lição chave para que os líderes de hoje reflitam sobre a posição que ocupam levados pela maioria da vontade de um povo, postos em cadeiras suficientemente elevadas para que descortinem sua gente como um mosaico único, embora multicor, precavidos para não cometer injustiças a quem quer que seja e principalmente aos que um dia os ajudaram a avançar um pouco em seus sonhos, naturalmente republicanos.
O êxito das etapas que sempre virão depende fundamentalmente da grandeza dos gestos de hoje.
Afinal, cabe à história, sempre ela, tarefa de julgar as biografias de cada um.
E o texto final depende apenas de cada um.