Foto: Flora Pimental/JC Imagem Foto: Chico Bezerra/divulgação Foto: Leo Motta/divulgação Foto: Flora Pimental/JC Imagem Luiza Freitas do NE10 A campanha eleitoral é quase um espetáculo, com direito a trilha sonora, artistas e público.
E um dos principais responsáveis pelo efeito impactante desse show é a militância.
Mas, com o pagamento de pessoas para fazer volume em passeatas e carregar bandeiras, “militar” não é mais uma ação exclusiva dos adeptos de uma ideologia partidária, se tornou também fonte de renda para pessoas que muitas vezes desconhecem.
Quando as campanhas não contavam com tantos recursos técnicos para preencher os horários gratuitos na TV e no rádio, investia-se nos comícios, onde a presença dos militantes era marcante.
Para o cientista político Eli Ferreira, a diminuição da participação de pessoas engajadas se deve principalmente ao descrédito da população na política. “Primeiro veio o impeachment de Collor e depois o Mensalão do PT, que tem uma história de militância muito forte”, diz Eli, apontando os fatores dessa mudança.
Uma outra visão, defendida pelo analista político Maurício Romão, é a que o crescimento da participação da militância paga em detrimento da ideológica é um reflexo da falta de identidade dos partidos. “É natural que, em um país onde os partidos pertencem a um líder, e não têm uma estrutura orgânica forte, haja cada vez mais gente sendo paga para isso”, explica.
Para ele, também deve-se considerar que os militantes remunerados são pessoas que precisam complementar a renda da família e muitas vezes nem conhecem as propostas que estão defendendo.
Mesmo com a fragilidade de contar com tanta gente que veste a camisa apenas no sentido literal, os grandes partidos conseguem bons resultados com a contratação de pessoas alheias à disputa política. “Não se ganha mais eleições fazendo comício.
O que vale é o apelo imagético, é a ocupação do espaço com a foto do candidato”, avalia Ricardo Borges, professor do curso de Ciência Política da UFPE.
Para Maurício Romão, esse apelo é uma forma de iludir o eleitor. “Isso distorce a competição.
As pessoas veem toda aquela gente e associam à aderência ao candidato, que não acontece necessariamente”.
Mas, se fazer campanha custa caro e os partidos menores têm um alcance limitado, com menos tempo nos horários do rádio e da televisão e menos dinheiro para colocar gente nas ruas, seus militantes são uma alternativa eficiente. “Eles têm a vantagem de conhecerem e acreditarem no partido.
Têm condições de conversar e convencer as pessoas”, avalia Eli Ferreira, que percebe essa postura em partidos mais orgânicos, como o PSTU, PSOL e o PT, em sua origem.
Ele também observa que no interior a situação das militâncias é mais acentuada.
Com a herança do coronelismo e práticas como o “voto de cabresto”, as pessoas são ainda mais alheias aos interesses dos candidatos.
Lamentando o espaço que esse tipo de militância vem tomando, Maurício Romão chega a afirmar que “ela é uma forma de compra de voto indireta”.