Como encomendar uma boa pesquisa fraudada Por Roberto Numeriano As pesquisas de opinião são a Geni das campanhas eleitorais.

A depender da posição do sujeito na tabela, ela é execrada ou “espelha a realidade das ruas”.

Na época do meu mestrado em Ciência Política, tive que me debruçar sobre os tipos e as técnicas de pesquisa, os cálculos estatísticos, os testes de significância, universo da amostragem etc.

Tudo muito belo e científico.

Mas o fato é que uma pesquisa de opinião é um dos trabalhos mais vulneráveis à fraude humana.

Não me refiro à famosa “margem de erro”, que muita gente fica imaginando quem é essa moça que tanto assombra os candidatos.

Refiro-me ao erro intencional, à fraude mesmo, que pode distorcer resultados de pesquisa num certo sentido, conforme a encomenda.

Mas até a fraude também deve ser “científica”.

E vou explicar.

Conhecidos meus, eleitores ou não, já me narraram, desde 2008 (quando pela primeira vez concorri à prefeitura do Recife), algumas “entrevistas” eleitorais que espelham bem como uma fraude bem elaborada na origem provoca resultados de alta significância, consistentes.

O famoso disco apresentado aos eleitores com o nome dos candidatos, com seus espaços divididos igualmente, pode induzir a opção de voto pelo simples modo como ele é mostrado ao eleitor, aliando-se à forma de mostrar (e, depois, pegar de volta), a forma de perguntar.

Você induz voto quando, por exemplo, entrega o disco com o nome de um dado candidato sempre para ser visto em primeiro lugar pelo entrevistado.

E se vc pergunta coisas do tipo: “Se a eleição fosse hoje, o sr(a) votaria nesse candidato, por exemplo?” interroga, apontando o dedinho no disco.

Ou faz pergunta do tipo: “Se a eleição fosse hoje, o sr(a) votaria em quais desses candidatos?” interroga, com o dedo apontando também para um espaço determinado no círculo.

As formas são sutis e infinitas.

Por esse meio, institutos venais conseguem tudo.

Há casos em que a fraude é bruta: o pesquisador dá alguns nomes (para forçar futura polarização, por exemplo), nomeia-os em alto e bom som, ainda que tenha passado o disco para o entrevistado.

Como candidato, foram denunciados a mim alguns desses tipos.

Outros meios mais científicos são os famosos “universos amostrais” (área de concentração de votos para determinado candidato etc), ou o momento da pesquisa (aproveitando eventos que causaram comoção pública favorável a um e negativo a outro candidato).

Não estou afirmando, aqui, que há institutos locais fraudando pesquisas.

Estou somente esclarecendo que a atividade é realmente muito vulnerável (do ponto de vista técnico, operacional e político) ao poder do dinheiro em processos eleitorais, sobretudo aqueles radicalizados por grupos políticos e máquinas empresariais que sobrevivem justamente em concubinato nas prefeituras e governos municipais.

Diante de um jogo pesado desse, o que é fraudar uma pesquisa (em alguns pontos percentuais para mais ou para menos)?

Com a resposta, você, caro eleitor.

Roberto Numeriano é candidato da Frente de Esquerda PCB-PSOL à Prefeitura do Recife.