Por Clemente Rosas, consultor Na página de oponião do JC desta terça Os brasileiros de boa-fé que foram agradavelmente surpreendidos com o voto do ministro Lewandowski, acompanhando o ministro-relator Joaquim Barbosa, em relação ao primeiro grupo de réus, no julgamento do mensalão pelo Supremto Tribunal Federal (STF), quedam-se agora perplexos.

O senhor ministro-revisor, diante de situação semelhante e, sob alguns aspectos, até mais escandalosa (pois envolve a esposa de um deputado federal), declarou inocente o segundo grupo de acusados.

Haverá réplica do relator, o Lewandowski insiste na tréplica, e, no momento em que escrevo, começa-se a temer pelo resultado do julgamento, que poderá ser motivo de profunda frustração nacional.

Continuaremos com a triste imagem do País em que só os pobres vão para a cadeia?

Mas, pensando melhor, não se poderia esperar outra coisa, ao menos desse ministro, cuja personalidade pode ser bem avaliada pela sua conversa, via computador, com a ministra Carmen Lúcia, em plena sessão do STF, quando o então procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, fazia a sustentação oral de sua denúncia, neste mesmo processo.

Isso ocorreu há cinco anos, e o diálogo foi captado pela lente de um fotógrafo e publicado em vários jornais do País, inclusive neste (JC, 24/8./2007).

Reproduzo aqui apenas alguns trechos, pois há coisas que não temos o direito de esquecer.

Lewandowski: “Carmen, impressiona a sustentação do PGR”.

Carmen Lúcia: …“acho que seria conveniente… que a gente se encontrasse no final do dia… para ver o sentimento que… está dominando toda a comunidade”.

Lewandowski: “Não sei não, mas mudar à última hora é complicado”.

Carmen Lúcia: …“Mas a quadrilha, vai ser fogo negar”.

Lewandowski: …“o termo quadrilha está empregado na acepção vulgar”.

Carmen Lúcia: “Sim, mas teremos de negar os indícios de que eles se associaram”…

Lewandowski (ao seu assessor Davi): “A sustentação do PGR impressiona”…

Davi (o assessor): “Posso, porém, minutar o voto em sentido contrário”…

Para os que tomam conhecimento desse vergonhoso colóquio eletrônico, a imagem menos gravosa que fica é a de um juiz que não alcança a dimensão mais nobre da função judicante, e acomoda seu voto a questões paroquiais.

Não cede à “nudez forte” da verdade, nem ao supremo valor da Justiça: apenas a conveniências.

E essa atitude transparece agora no tom que adota em seus pronunciamentos, variando entre o cínico e o irônico, em contraste com a pureza d"alma do ilustre ministro-relator.

E a nós, que diante do quadro esboçado corremos o risco de, na inesquecível expressão de Rui Barbosa, “desanimar da virtude, rir-nos da honra e ter vergonha de ser honestos”, o que resta?

Apenas consolar-nos com a máxima de Aparício Torelly, o Barão de Itararé, pioneiro do humorismo inteligente no Brasil: “De onde menos se espera, daí é que não vem nada mesmo”.