Chuvas costumam derrubar barracos na comunidade.
Não longe dali, construção do habitacional está emperrada / Fotos: Gabriela López/BlogImagem Por Gabriela López A comunidade Vila Brasil, em São José, área central do Recife, é o retrato do abandono.
Na beira do rio, os moradores convivem com esgoto escorrendo pela porta da frente dos barracos, falta de água, mosquitos e ratos passando por dentro das residências.
As crianças precisam esperar a maré baixar para conseguir sair de casa e ir à escola.
Moradores também convivem com a espera.
Desde o primeiro ano de mandato do prefeito João da Costa (PT), em 2009, eles aguardam a mudança para o conjunto habitacional que está sendo construído a menos de 500 metros dali.
Segundo os beneficiados, a obra era para ter sido entregue este mês, mas a promessa agora é para 2014 e o cadastramento das famílias sequer começou.
Quando estiver pronto, o habitacional terá 448 unidades e, além de moradores da Vila Brasil, abrigará famílias retiradas do Coque e dos Coelhos.
O investimento na obra é de R$ 19 milhões.
Vizinhos da construção contam que os serviços pararam em novembro do ano passado e só retornaram em janeiro, com uma baixa de quase metade no quadro de funcionários.
No ano passado, eram 80.
Hoje, são 45.
A área só saiu do esquecimento das autoridades, mesmo que por alguns minutos, durante debate entre os candidatos a prefeito da capital pernambucana na Rede TV! realizado domingo (8).
Mendonça (DEM) perguntou se Geraldo Julio (PSB) conhecia o projeto que prevê a construção do habitacional, lembrando que a Secretaria de Habitação, que toca a obra, é comandada pelos socialistas e o adversário negou. “Não sou obrigado a conhecer todas as obras da cidade”, defendeu-se.
Debate da Rede TV! rende muitas farpas e poucas propostas novas Em visita à comunidade na tarde desta segunda-feira (10), a reportagem do Blog de Jamildo foi recebida por pessoas simpáticas, mas cujo sorriso desaparece quando o assunto é política.
Alguns moradores sequer sabem quem é o governador Eduardo Campos (PSB). É o caso da dona de casa Maria José Elias de Araújo, de 33 anos. “Esse daí nunca veio aqui”, contou a moradora.
Moradores da Vila Brasil sequer sabem quem é Eduardo Campos Frase estampa uma das tábuas que formam as paredes da casa de Dona Maria / Foto: Gabriela López/BlogImagem O filho dela, de 11 anos, recentemente teve uma infecção provocada pelo contato com a sujeira.
Também já teve dengue. “Ele vive correndo e caindo nos buracos das madeiras”, lamenta.
No meio da conversa com a reportagem, um rato passou correndo pela porta da frente.
Ninguém se espanta mais.
A dona de casa conta que a comida da família, que já é pouca por causa da falta de dinheiro, é levada pelos bichos. “Até óleo eles bebem”, conta incrivelmente sorrindo.
A renda da casa é de um salário mínimo, que ganha do programa Bolsa Família.
Este ano, o barraco de Dona Cássia não aguentou as chuvas e desmoronou por causa da madeira podre. “Como a maré enche e molha a madeira, tem que ficar trocando de tempo em tempo para não apodrecer, mas eu não tenho dinheiro.
Madeira é caro”.
Sem ter para onde ir, morou no meio da lama do mangue com a família até conseguir dinheiro para reerguer o barraco.
O recurso veio da filha de 12 anos, que, sem apego, lhe deu o dinheiro que ganhou do pai para comprar a roupa da festa de Natal.
Desde que Dona Cássia mora ali, há sete anos, esta foi a segunda vez que viu a casa desabar.
O barraco do vizinho de trás também caiu e eles precisaram se mudar até arrumar dinheiro para comprar material e reconstruir a palafita.
Dona Cássia divide a casa de 16 metros quadrados com os dois filhos e a mãe, de 54 anos.
Recentemente, arrumou espaço para cuidar por um tempo do filho de uma amiga que passa dificuldades. “Queria que os políticos viessem aqui para ver como a gente vive.
Os filhos dele saem de casa, entram direto no carro e vão para a escola.
Os meus precisam esperar a maré baixar para conseguir passar da porta e ainda andam 40 minutos até lá”, reclamou a moradora, que ainda não sabe em quem vai votar este ano.
Ela aprovou o governo Lula na presidência e ajudou a eleger Dilma Rousseff por causa dele.
Também votou em João da Costa (PT) em 2008. “Mas este ano está difícil, viu?”.
Veja vídeo com Dona Cássia e seu filha, Gabriele: Os moradores da Vila Brasil que já decidiram seu voto dividem-se entre Geraldo e Humberto Costa (PT). “Sei que Geraldo vai ganhar e não gosto de perder meu voto, por isso escolhi ele”, justificou o mecânico Jucélio José da Conceição, 42.
Já Maria José Elias de Araújo, 33, decidiu dar um “voto de confiança”, nas palavras dela, em João Paulo (PT), vice na chapa de Humberto. “Gostei dele como prefeito.
Humberto eu não sei as coisas que ele fez”, contou.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Secretaria de Habitação disse que se posicionará nesta terça-feira (11).