Por Angelo Castelo Branco, jornalista Há momentos em que uma campanha eleitoral toma rumos desconcertantes.
Isso é normal e acontece sempre.
Em seu horário gratuito na TV os homens do PT estão acusando o candidato do governador Eduardo Campos, o neófito Geraldo Júlio que dispara nas pesquisas como franco favorito, de não saber o valor de uma passagem de ônibus.
Creem os petistas que em não sabendo quanto custa um ticket de coletivo, uma criatura não pode estar credenciada para gerenciar uma cidade como o Recife.
Seria o caso de também indagar: e quanto custa um quilo de sal ou um pacote de margarina, ou uma cartela com botões para camisas.
Quem assiste a esse espetáculo da arquibancada, como é o caso desse repórter, fica imaginando que qualquer preço de qualquer produto de necessidade básica interfere radicalmente, uma vez majorado, no orçamento de um trabalhador e de sua família.
Quanto menor a faixa salarial mais peso exercem os alimentos e os transportes num orçamento familiar, asseguram as lições básicas de economia.
Cabe, portanto a um gestor público, negociar ao extremo para segurar o preço de uma passagem de ônibus, independentemente de seu atual valor, e fazer o mesmo para o sal e os botões em escala secundária de prioridade.
Entende-se, numa sociedade organizada, que a macrovisão de um processo administrativo público é o paradigma por excelência.
As projeções por uma política de transportes de massa eficiente e os projetos urbanos que contemplem pessoas e não automóveis, por exemplo, exigem muito mais de um candidato do que seus saberes a respeito do preço de uma passagem de ônibus ou de um pacote de margarina cujas oscilações de tarifas e valores certamente batem forte num ambiente de salário mínimo.
Questionamentos como esse, do ticket de ônibus, dão a entender que os candidatos do PT montaram uma armadilha para GJ para arranha-lo junto às classes menos favorecidas que tomam ônibus todos os dias e consomem horas preciosas de suas vidas no sufoco de coletivos ruins e calorentos, em transito engarrafado, sem segurança, e tudo porque os governos, atuais e passados, nunca produziram projetos para solucionar essa questão de forma digna e definitiva.
O metrô de Lisboa tem mais de um século junto com o de Paris e de Londres, e embora essas cidades sejam, há muito tempo, territórios de lazer e de constantes visitas para a maioria ou a totalidade de quem já governou, de quem governa e de quem vai governar, jamais fomos contemplados com medidas do mesmo alcance social.
Permanecemos preocupados com a tarifa do busão enquanto a população cresce, abre espaços para novas ideias e novas lideranças (as pesquisas são uma prova disso), mas os equívocos se sucedem.