Por Jamildo Melo A menos de um mês da eleição para prefeito do Recife, com a confirmação de mais uma queda do candidato do PT, Humberto Costa, ultrapassado pelo candidato Geraldo Julio (PSB), crescem as apostas, nos bastidores eleitorais, de que a vaca petista foi para o brejo.
Acredito que Geraldo Julio vai vencer no primeiro turno, com folga, mas há sempre o imponderável em campanhas.
Uma banana aqui, uma líder comunitária ali, e o mar de rosas dos socialistas pode desandar.
Haverá coragem para apresentar alguma denúncia consistente, se existir, contra os ex-aliados?
Não se sabe.
Vamos ver.
Depois de figurar em primeiro lugar no Vox Populi e no Ibope, o socialista agora lidera o levantamento do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN) feito em parceria com o Jornal do Commercio.
O levantamento divulgado mais cedo pelo Blog de Jamildo mostra Geraldo com 34%, oito pontos percentuais à frente de Humberto, que teve 26%.
Daniel Coelho (PSDB) obteve 12% das intenções de voto e Mendonça Filho (DEM) ficou com 9%.
No comparativo com seu próprio desempenho na última pesquisa IPMN, de 23 de agosto, quando tinha 22,2%, Geraldo subiu 11,8 pontos percentuais em 14 dias.
O socialista foi o único dos concorrentes a crescer em toda a série histórica do instituto.
Em julho, ele tinha 6,8%.
No dia 9 de agosto, data do segundo levantamento IPMN, Geraldo já estava com 14,4%.
A consolidação do socailista na liderança na corrida pela Prefeitura do Recife já era esperada.
Há vários motivos que podem ser invocados como explicação.
O PT paga por uma sucessão de erros na capital pernambucana.
A principal delas talvez tenha sido subestimar o poder eleitoral do governador Eduardo Campos (PSB).
O PT dormia com o inimigo há vários anos e achava que não havia condições de o PSB lançar um candidato, muito menos que ele fosse competitivo.
Na pesquisa da Nassau, um dado mostra uma covardia danada.
Na frente de Eduardo, o prefeito João da Costa (PT) é um nanico.
Eduardo Campos tem 52% de avaliação boa, 23% de ótima e 19% de regular.
Só 5% acham sua gestão ruim ou péssima.
João da Costa tem 20% de ruim e 29% de péssimo. 82% não admiram João da Costa.
O problema é que o petista foi desconstruído pelo próprio PT, os bons camaradas.
Outro dado da pesquisa da Nassau mostra que Eduardo Campos tem hoje mais força do que Lula no Recife.
Os entrevistadores perguntam, mencionando os candidatos com seus devidos padrinhos, em quem o eleitor votaria.
No embate entre Lula e Eduardo, Geraldo Julio ganha com folga, com 34% das intenções.
Humberto aparece com apenas 27% da preferência, em resposta à mesma pergunta.
Na campanha do PT, outro erro fundamental foi ter apostado em uma nacionalização da campanha, ancorada na imagem de Lula.
Não é que o mito já era, não se trata de ingratidão com o ex-presidente, mas não parece apropriado fazer toda uma campanha como se estivesse propondo um plebiscito em torno da figura de Lula.
O principal debate, aquele que interessa de fato ao eleitor, é a gestão da cidade e neste o PT não podia fazer, uma vez que, mesmo sem mostrar João da Costa, Humberto representa a continuidade. É como se o PT achasse que tinha cadeira cativa na Prefeitura do Recife, depois de destronar o antigo PFL de Roberto Magalhães.
Assim, o maior problema, entretanto, chama-se fadiga de material.
Depois de 12 anos, a cidade parece querer renovação.
Na pesquisa da Nassau, contra o slogan de cuidar das pessoas, a vida no Recife continuaria do mesmo jeito para a maioria dos entrevistados, com destaque para os menos escolarizados (62%) ou idosos (51%).
Ao ser questionado se o PT merecia continuar no comando da Prefeitura, a maioria, 54%, disse que não. 39% que sim.
O governador Eduardo Campos realizou pesquisas de opinião antes mesmo do período eleitoral, detectando não apenas a fadiga de material com o PT.
Nesses levantamentos, os eleitores também reclamavam um candidato que tivesse mais sinergia com o governador Eduardo Campos, com o desenvolvimento do Estado.
Não se sabe se em um movimento combinado, o PTB de Armando Monteiro Neto foi o primeiro a ensaiar este discurso e abandonar a Prefeitura de João da Costa.
Depois, veio o ministro Fernando Bezerra Coelho (PSB) defendendo publicamente a tese do ritmo do desenvolvimento do Estado no Recife.
O próprio partido PT perdeu oportunidade de se renovar, apresentando novas lideranças, como João da Costa.
Ou mesmo o ex-deputado federal Maurício Rands, que acabou trucidado pela máquina partidária e abandonou a vida pública.
Humberto e João Paulo são candidatos envelhecidos, não são caras novas na disputa.
O PT local não deu o pulo do gato de Lula, que abandonou sua fase sindical.
No plano nacional, o próprio Lula tem feito isto, buscado reciclagem, ao descobrir que os quadros do PT ou estavam queimados ou com prazo de validade vencida.
Desta leva, saiu Dilma e agora Haddad.
A briga, mesmo depois de estancada (?), continua atrapalhando as expectativas dos eleitores.
Na cabeça do eleitor, ele deve estar se questionando algo como o seguinte pensamento: se eles estavam unidos, deu no que deu.
Imagina agora este povo desunido, se eles continuam na prefeitura…
Assim, no que toca ao Recife, se um erro pode ser fatal em política, imagina-se o quanto devastador pode ser uma coleção de erros.
Fato novo O PSB faz, até aqui, uma campanha impecável.
Não entrou em bola dividida, não deixou que os adversários pautassem suas ações.
Optou por apresentar propostas à população ao invés de tentar desconstruir a imagem dos adversários.
Conta com a força de gravidade da máquina estadual de uma maneira nunca vista.
Nesta semana, o escárnio maior foi abrir mão dos cavaletes, ainda fazendo média com a classe média.
Não é só.
Como a rejeição a João da Costa é elevada, o PSB conseguiu a façanha de virar governo e oposição ao mesmo tempo.
Um dado inacreditável da pesquisa da Nassau aponta qual o candidato a prefeito do Recife que melhor representa a oposição a João da Costa.
Geraldo Julio aparece na frente, com 24%.
Depois, vem Humberto Costa com 13,6%.
Bem depois, a oposição de verdade.
Daniel Coelho com 9% e Mendonça com 7%.
Há outro dado desconcertante na mesma pesquisa.
O Instituto Nassau pergunta aos eleitores que candidato melhor representaria a oposição ao PT.
Geraldo Julio vence disparado, com 34%.
Daniel e Mendonça aparecem com apenas 9%, cada.
Em uma cidade que clama por mudança, a identificação pode ser a chave do sucesso.
O socialista Geraldo Julio ainda pode crescer mais, embora com menos intensidade, uma vez que, de acordo com os dados da pesquisa da Nassau, 27% ainda não sabem quem é o candidato de Eduardo Campos neste pleito.
Por outro lado, 73% já sabem quem é o candidato de Lula.
A pesquisa também mostra que, depois do início da campanha, Geraldo já é visto como o mais preparado (para 34%) do que Humberto Costa (para 28%).
Eleição fácil Consta que o governador Eduardo Campos sorriu ao saber que o candidato do PT seria o senador Humberto Costa, por não ter a densidade eleitoral que uma parte do PT vendia aos repórteres de política da cidade.
Depois do lançamento da campanha de Geraldo, em um evento no Arcádia do Paço Alfândega, não se conteve e disse que esta seria a eleição mais fácil de sua vida.
Com o PT isolado, a missão ficou mais fácil.
Depois de algumas semanas de guia, também fica evidente que não ajudou muito, até aqui, a escalação do ex-prefeito do Recife, João Paulo Não por acaso, na pesquisa da Nassau, o guia do petista aparece como destaque negativo, quando o eleitor é questionado sobre o que viu na TV e ouviu no rádio até aqui.
Depois de Humberto (para 22%), aparece Mendonça (15%) e o próprio Geraldo Júlio (12%).
Quando a questão é uma pergunta sobre o melhor guia, o destaque é justamente o socialista, com 40%.
Depois, vem Humberto Costa (24,5%) e Daniel Coelho (16%) e Mendonça (8%).
No caso do PSB, sabendo que a saúde é o principal problema da cidade, na frente mesmo da mobilidade ou segurança, o partido teve coragem até mesmo de partir para a desconstrução do ex-ministro da Saúde de Lula.
Voto útil Sobre o tucano Daniel Coelho, já escrevi aqui esta semana.
Não quero ser repetitivo.
Daniel pode ajudar a decidir as eleições no Recife Há quem ache que o rapaz seja apenas uma bolha eleitoral, que não poderá crescer mais do que já cresceu.
Que tem carisma já provou, remando contra a maré dos incrédulos.
Entre os tucanos, aposta que, mesmo perdendo, será o fato novo da eleição, renovando o partido e credenciado-se ao mandato de deputado federal pela sigla.
O maior risco de Daniel é ser alvo do voto útil, até mesmo estimulado pelos socialistas, interessados em matar a fatura logo no primeiro turno.
Não se sabe se vai surtir efeito.
Bem, as linhas acima são algumas considerações pessoais.
Respeito quem eventualmente pense diferente ou ao contrário.