Carta aos colegas da CTTU Por Eduardo Amorim, ex-assessor de imprensa da CTTU e morador de Parnamirim A Prefeitura do Recife implantou depois de 12 anos de gestão uma ciclofaixa na Zona Norte.

Como vocês sabem, fui jornalista da empresa no começo da minha carreira e tive o prazer de atuar em campanhas importantes como a da inversão do trânsito de Boa Viagem, quando conseguimos apesar da oposição inicial de muitos comerciantes implantar uma mudança que gerou uma melhoria real de trânsito para a maior parte dos moradores da Zona Sul.

Alguns de vocês podem ter esquecido, mas desde aquela época sou ciclista e até me lembro que o ex-presidente da CTTU chegou a falar no fato de eu ir para a empresa de bicicleta em uma das coletivas para anunciar as atividades do Dia Mundial Sem Carro, que por sinal é comemorado neste mês de setembro.

Por esse meu interesse e por ser morador de Casa Forte/Parnamirim e de Casa Amarela desde a minha infância, sempre acompanhei de perto o trabalho da profissional que fazia o planejamento cicloviário e desde aquela época tenho a opinião de que é muito possível fazer uma importante ciclovia que sirva para uma grande parte da população desta região do Recife.

Apesar do planejamento para esse tipo de intervenção vir sendo elaborado desde os tempos em que eu ainda trabalhava na empresa, acredito que todos admitem que houve falhas graves e por isso o trajeto inicial da ciclofaixa das Estradas do Encanamento e Arraial não durou nem um mês e já foi mutilado.

Primeiro é preciso reconhecer os erros.

Os ciclistas estão andando na contramão?

A ciclofaixa claramente tem um planejamento bidirecional, prova disso é que quem sai da Estrada do Encanamento no sentido subúrbio-cidade passa por aquele pequeno trecho no sentido inverso aos carros na Avenida 17 de Agosto.

E quem anda no sentido contrário da Rosa e Silva após o fim da ciclofaixa é uma minoria de irresponsáveis que faz o mesmo na Rui Barbosa (ou na Agamenon) e deveríamos há muito tempo ter previsto uma forma de punir esses ciclistas.

Mas em qualquer sentido aquele trecho era realmente perigoso, principalmente porque na altura do Hospital Agamenon Magalhães passa por um cruzamento em que os motoristas costumam entrar muitas vezes acima dos 40 ou até 60km/h.

Além disso, não foi feita nenhuma sinalização para avisar aos motoristas do fim da terceira faixa após a Tamarineira.

Eu mesmo, no meu carro, já me peguei dirigindo sobre a ciclofaixa porque é muito menos efetiva a sinalização horizontal e o Governo Municipal falhou ao não indicar o fim da faixa da esquerda dos carros no fim da Rosa e Silva/início da Estrada do Arraial.

Os problemas de sinalização, como deve ser de conhecimento de todos na CTTU, são encontrados ao longo de todo o percurso do binário.

Lembro, mais uma vez, que a Prefeitura diz publicamente que a ciclofaixa é unidirecional, mas não existe nenhuma sinalização vertical ou mesmo horizontal que mostre isso para o ciclista que não leu o jornal no dia da implantação do binário.

E, vamos ser sinceros, não existe porque se qualquer usuário sabe que aquela alternativa de tráfego para bicicletas só serve sendo bidirecional, os técnicos da CTTU também têm essa noção.

Recentemente, estive numa situação em que quase atropelo um pedestre enquanto voltava de uma pedalada.

Eu consegui evitar a colisão com esse senhor de idade na Estrada do Encanamento porque estava há uns 20km/h.

Mas qual o limite de velocidade para bicicletas naquela ciclofaixa?

Mesmo lendo quase tudo que saiu sobre essa polêmica nos jornais e blogs, nunca soube dessa informação e não tem placa nenhuma indicando aqui por onde moro (Estrada do Encanamento).

Então, é urgente a necessidade de que o Governo Municipal indique que a ciclofaixa é bidirecional e estabeleça o limite máximo de velocidade para os ciclistas.

Até porque o equipamento já é um sucesso, como vem sendo atestado por exemplo pelo Shopping Plaza Casa Forte, onde aumentou a frequência de bicicletas no bicicletário.

Para isso, a Prefeitura do Recife precisa implantar a sinalização vertical e horizontal, aliando também a uma melhoria na sinalização vertical para os motoristas e pedestres, já que ainda causa risco a falta desse tipo de sinalização.

Mas é importante ressaltar, especialmente com a possibilidade de diminuição de um trecho na Estrada do Arraial, que o percurso da ciclofaixa é praticamente uma ligação entre nada e nada.

Por isso, faço questão de deixar minha sugestão, que vem dos primeiros projetos que vi para a Zona Norte quando era assessor de imprensa da CTTU, na época da implantação do binário Domingos Ferreira-Conselheiro Aguiar.

O Governo Municipal pode criar uma alternativa segura criando uma ciclovia bidirecional na Rua do Futuro, transformando uma das faixas que hoje são de estacionamento em trajeto para bicicletas e estabelecendo estacionamento Zona Azul no lado inverso (para aumentar a rotatividade dos veículos).

Para não aumentar o congestionamento da Avenida 17 de Agosto, a alternativa ideal é criar uma travessia para bicicletas e implantar um semáforo que serviria também para pedestres na praça em frente ao Bar e Restaurante Fiteiro.

Assim, o acesso à Rua do Futuro poderia ser feito através de vias de pouco movimento.

Lembro de discutir essa possibilidade desde aquela época em que trabalhei na Prefeitura do Recife. É evidente que a Rua do Futuro recebendo uma ciclovia estaria sendo privilegiado o Parque da Jaqueira, que inegavelmente é o local de lazer que mais atrai ciclistas na cidade.

Mas, principalmente, a via se tornaria um acesso muito mais seguro para o Centro para os trabalhadores, já que de lá é fácil atravessar a Agamenon Magalhães por uma das alternativas no Espinheiro.

E principalmente seria uma atração para que estudantes das escolas das Graças/Espinheiro começassem a utilizar as bicicletas no trajeto para suas escolas (Damas, São Luiz, Capibaribe, Agnes, Faculdade Maurício de Nassau, só para dar um pequeno exemplo).

Como foi na inversão de Boa Viagem, alternativas eficientes existem agora, mas é preciso enfrentar a reação de setores da sociedade.

O Governo Municipal erra ao tirar o trecho da ciclofaixa da Estrada do Arraial, mas ainda tem chance de transformar um projeto mal feito em uma alternativa mais segura e viável para milhares de ciclistas da Zona Norte do Recife.

Sem o trecho da Estrada do Arraial, e sem a sinalização correta, a ciclofaixa se torna um perigo ainda maior para os ciclistas.

E ainda é preciso deixar claro que os erros de comunicação por parte da CTTU criaram uma rivalidade imensa entre moradores, motoristas e ciclistas.

Como sou as três coisas, posso falar que nenhum deles está satisfeito atualmente, mas acredito que é possível mudar.