Foto: Agência Brasil Deu na Folha de São Paulo A presidente Dilma Rousseff rompeu nessa segunda-feira (3) o clima amistoso com o antecessor Fernando Henrique Cardoso e, em nota, rebateu as críticas feitas pelo tucano ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT.

Em artigo publicado domingo (2) nos jornais “O Estado de S.

Paulo” e “O Globo”, FHC chamou de “herança pesada” o legado deixado por Lula para a sucessora.

Dilma respondeu em uma nota inusual em sua gestão, afirmando que o tucano, ao não reconhecer avanços da gestão do PT, tenta reescrever a história. “O passado deve nos servir de contraponto, de lição, de visão crítica, não de ressentimento”, disse Dilma.

Na nota ela afirma ter recebido do antecessor uma “herança bendita”. “Não recebi um país sob intervenção do FMI [Fundo Monetário Internacional] ou sob a ameaça de apagão”, numa referência ao discurso do PT sobre como Lula recebeu o governo das mãos de FHC em 2003.

E foi além.

Disse que Lula é “exemplo de democrata” que “não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse.” A presidente se refere aos rumores de que Lula tentaria alterar a Constituição para ter um terceiro mandato e à mudança feita pelo Congresso, patrocinada por FHC em 1997, que garantiu ao tucano o direito de concorrer a um segundo mandato.

RELAÇÃO - A nota destoa do clima amigável demonstrado entre o tucano, que governou o país entre 1995 e 2002, e a presidente, que assumiu em 2011 após oito anos de gestão Lula (2003-2010).

Em junho do ano passado, por exemplo, Dilma chamou FHC de “político habilidoso” e “arquiteto” do fim da hiperinflação.

Meses depois, FHC chamou Dilma de “generosa” quando recebeu dela carta elogiosa pelos seus 80 anos.

Já no artigo de anteontem, FHC apontou como falhas da gestão Lula a “desorientação da política energética”, em especial a gestão da Petrobras, e o atraso em projetos de grande impacto, como a transposição do rio São Francisco.

Também falou de “crise moral”, citando o escândalo do mensalão e a troca de ministros egressos do governo Lula, sob suspeita de corrupção. “Houve mesmo busca de hegemonia a peso de ouro alheio”, afirmou FHC sobre o mensalão.

O tucano também fez críticas ao PT ao atribuir à legenda parte da responsabilidade pelas demissões de ministros.

O Palácio do Planalto interpretou o artigo de FHC como uma tentativa de explorar uma divisão entre Dilma e Lula.

Na avaliação interna, ou o governo respondia ou subscreveria as críticas do tucano.

O PT gostou do gesto.

Segundo a Folha apurou com interlocutores do ex-presidente, Dilma telefonou a Lula e disse ter ficado irritada com o artigo de FHC.

Antes de saber que a sucessora divulgaria nota, Lula se preparava para responder.

Só desistiu ao ser informado dos planos de Dilma, a quem agradeceu depois.

A presidente afirmou ter sido “citada de modo incorreto” por FHC.

Nos seis parágrafos que compõem a nota, Dilma intercalou elogios a Lula e alfinetadas no tucano.

A presidente afirmou ter recebido um país “mais justo e menos desigual” e elogiou as “posições firmes” de Lula na política externa.

Em resposta, o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), afirmou que o PT “vai muito mal nestas eleições” e que “o ex-presidente Lula está correndo atrás do prejuízo.” A Folha não conseguiu falar ontem com FHC.

Leia a nota na íntegra: “Citada de modo incorreto pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo publicado neste domingo, nos jornais “O Globo” e “O Estado de S.

Paulo”, creio ser necessário recolocar os fatos em seus devidos lugares.

Recebi do ex-presidente Lula uma herança bendita.

Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão.

Recebi uma economia sólida, com crescimento robusto, inflação sob controle, investimentos consistentes em infraestrutura e reservas cambiais recordes.

Recebi um país mais justo e menos desigual, com 40 milhões de pessoas ascendendo à classe média, pleno emprego e oportunidade de acesso à universidade a centenas de milhares de estudantes.

Recebi um Brasil mais respeitado lá fora graças às posições firmes do ex-presidente Lula no cenário internacional.

Um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse.

O ex-presidente Lula é um exemplo de estadista.

Não reconhecer os avanços que o país obteve nos últimos dez anos é uma tentativa menor de reescrever a história.

O passado deve nos servir de contraponto, de lição, de visão crítica, não de ressentimento.

Aprendi com os erros e, principalmente, com os acertos de todas as administrações que me antecederam.

Mas governo com os olhos no futuro.”